Em recente entrevista cedida ao Adnews, Luli Radfahrer, PhD em Comunicação Digital pela ECA-USP e responsável pelo início de Internet em várias agências de publicidade, comentou sobre o fim do e-mail. Para ele, tal forma de comunicação pela Web cairá em desuso no prazo máximo de três anos. A declaração gerou polêmica e comentários em seu blog. Segue abaixo, texto no qual Radfahrer complementa a explicação sobre a previsão.
"Comentaram minha recente entrevista ao portal Adnews, em que defendi, entre outros pontos, que o fim do e-mail estava próximo. Bem próximo. Acho que não me expliquei bem (em entrevistas, sabe como é, nunca há tempo). Na verdade acredito que a era do e-mail já acabou. Aquilo que todos usamos para combater SPAM, receber informações (e confirmações) desnecessárias e, de vez em quando, contactar amigos, é apenas o resquício de um meio de comunicação cujos dias de importância se foram. Em breve ele será tão relevante quanto uma carta manuscrita, enviada dentro de um envelope selado. O ciclo da tecnologia em plena ação.
O golpe veio de vários lugares, quase que simultaneamente, e foi uma genuína crise dos 40 anos que já dura um pouco mais de uma década. Tudo começou quando quatro rapazes de Liver Israel quiseram mudar o mundo e fizeram uma revolução ao criar um serviço de comunicação instantânea que permite saber se a pessoa com quem falam está online. Coisa de nerd, diriam. A piada fácil na época era rimar o nome por extenso do serviço em inglês com o potente vírus de computador ILOVEYOU. Mesmo com muitas idéias tortas (a de usar um número para contatar o amigo, por exemplo), a idéia pegou.
Mais ou menos na mesma época, alguns serviços de telefonia europeus promoviam o uso de mensagens de texto pelos celulares, que, àquela época, só falavam. Quer mais coisa de nerd que escrever "555885555444411088826 (pausa) 6667777026660222444663362111" para dizer "Luli, vamos ao cinema?". Apesar de todo mundo ter serviços GSM - uma inegável vantagem em termos de compatibilidade - o SMS esperaria o século XXI para pegar. E pegou. 10 bilhões por mês, só em uma operadora. Até porque todos logo perceberam que o envio de uma mensagem não deveria depender da operação de um computador.
E nem de texto: minha avó já sabia faz tempo que certas coisas não se diz por escrito. Eu não acredito que ela se referisse a estresse, sobrecarga de tarefas ou preguiça, provavelmente tratava de privacidade. Pouco importa, a informação a ser transmitida costuma ser inversamente proporcional ao tempo ou disposição para escrevê-la e, em um mundo de banda larga e conexão permanente, não faz sentido algum tentar traduzir seu tom de voz em emoticons se você pode simplesmente... falar. Não passa uma semana sem alguém anunciar o fim da telefonia por causa de tecnologias como VoIP. Tudo bem, não há como negar que o tráfego de telecomunicações é importante demais para ser usado por voz em formato analógico, que além de pesado é ineficiente. Mas enquanto a tecnologia não substitui de vez as linhas telefônicas, quem apanhou mesmo foi o e-mail.
A lista não tem fim: pelo Twitter, seus amigos sabem onde você está e o que anda fazendo. Ele é uma espécie de feed RSS do seu cotidiano, seja ele interessante ou não. Eu gosto dele, tem gente que não gosta, mas isso não é assunto para este post. Por falar em feeds, qualquer blog decente envia seu conteúdo através deles, o que faz com que muitas malas-diretas de conteúdo percam sua razão de ser. Como se não bastasse, o Flickr permite a seus amigos que "assinem" os que você crie. Você vai usar e-mail para quê?
Talvez para a transmissão de comprovantes e documentos - como tem gente que ainda usa o aparelho de FAX hoje em dia - e, claaaaro, para publicidade não solicitada. Quem diria, os burocratas, advogados, bancos e publicitários seriam defensores do legado deste meio que um dia foi a expressão da Internet. Quem sabe daqui a uma década deixemos a web para que eles tomem conta.
Descanse em paz, senhor e-mail. Poucos chorarão seu triste fim, sob certos aspectos semelhante ao velho, cansado e desatualizado serviço de envio de mensagens de texto por correio. Este, por mais que seja chamado de "tradicional", teve um importante papel na democratização, inovação e expansão do serviço de mensageiros (os tais moleques de recados) que veio a substituir. Mas quem se importa com isso?
O Darwinismo tecnológico é cruel. Ainda bem."
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