Existe um verdadeiro círculo da mediocridade agindo em todos os setores de atividade, empresas e entidades públicas. É uma confraria poderosa e perversa, pois se alimenta da competência alheia e não apenas deixa de remar a favor como exerce força no sentido contrário.
Todos seus integrantes se protegem e se suportam contra empresas contratantes e clientes. Pior ainda, existem organizações que têm clara consciência disso e preferem contratar os “seus” incompetentes para tratar com os incompetentes das “outras”.
Eles são tão hábeis em seu tácito acordo de proteção mútua que até mesmo são capazes de gerar prêmios que transformam verdadeiros desastres em casos de sucesso.
Os integrantes do perverso círculo iniciático se reconhecem facilmente, ao ficar de boca calada diante de uma frase ou ordem absurda, ao não reclamar de um serviço evidentemente malfeito, ao contemporizar a dispensa de algum incompetente que não conseguiu disfarçar alguma de suas besteiras.
Eles são muito mais numerosos do que se pensa, estão por todos os lados e muitos até mesmo carregam importantes títulos acadêmicos e têm obras publicadas – que são devidamente promovidas e valorizadas pela tradicional confraria, tão antiga quanto o mundo.
O problema maior com o network dos incompetentes é que ele gera uma espiral descendente de qualidade, produtividade e progresso. Os padrões tidos como admissíveis são tão baixos que o errado é tratado como normal e o razoável como bom.
Há momentos da história humana, inclusive, que eles até se tornam maioria momentânea e afundam sua região e/ou seu setor de atividades nas mais densas trevas.
Atualmente, na área de marketing e comunicação, reclama-se muito dos juniores, como se eles tivessem o monopólio da incompetência. Há, de fato, uma alta dose de incompetência nessa “categoria”, causada em parte pela falta de experiência, em parte pelo corpo mole e, o que é ainda pior, pela prepotência em achar que já sabem mais do que seus antecessores em todos os aspectos da profissão e da vida. Mas não podemos esquecer que não foram eles que “inventaram” essa confraria, mas são apenas seus legítimos continuadores.
É certo que não dá para liquidar o problema no curto prazo, até porque o network é poderoso e está infiltrado em todas as áreas e níveis hierárquicos – e não irá acabar quando os juniores se transformarem em seniores.
É essencial, porém, que aqueles que não fazem parte desse círculo da mediocridade adquiram consciência de sua existência e lutem de forma permanente contra esse insidioso inimigo cuja face nem sempre é facilmente visível.
Não adianta esperar que o network dos incompetentes desapareça sozinho. Pois isso não irá acontecer. No máximo, em momentos de superpopulação, eles terminam se devorando, assim como os ratos, e voltando ao “equilibro” minoritário – pois, afinal, eles dependem do esforço extraordinário dos competentes para serem alimentados e compensar, em nome do bem empresarial, público ou social, suas deficiências.
É muito importante que cada um que não faça parte dessa confraria identifique os seus membros mais próximos e procure, com perseverança, retirar o incompetente de seu estado de letargia e bloqueio mental. Mas é preciso muito cuidado com essa tarefa, pois o contato permanente e intenso com a incompetência pode ser fatal e contaminar aquele que batalha contra ela.
o network dos incompetentes, do rafael sampaio.
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