A fotografia publicitária passa por um momento delicado. Com o fim dos cromos, chapas e polaróides, a fotografia digital vem impondo seu ritmo ao fluxo de trabalho do fotógrafo atual. Há muita gente no mercado que critica, de forma veemente, a queda da qualidade fotográfica na propaganda em função das facilidades de acesso a bons equipamentos por qualquer pessoa. Discordo. O equipamento não faz o olhar nem desenha a luz pelo fotógrafo. O próprio mercado vai selecionar aqueles que realmente têm talento.
Da mesma forma, a facilidade ao acesso de informações e imagens por parte das agências trouxe uma limitação criativa a este mesmo mercado. A grande maioria das campanhas que utilizam imagens chega para o fotógrafo pronta. A liberdade criativa do fotógrafo começa a ser destruída neste momento.
A agência tem dificuldade em explicar ao cliente que um layout é apenas um layout e acaba forçando o fotógrafo a produzir uma imagem "igual" à que foi solicitada, pois o cliente já aprovou a idéia e quer exatamente a mesma coisa. Por questões de custos, a agência pressiona o fotógrafo para ter a mesma imagem a um valor mais interessante. E muitas vezes o fotógrafo ainda comemora o resultado da experiência, como se reproduzir a imagem que a agência escolheu fosse a prova de seu talento fotográfico.
Já aconteceu comigo e, certamente, com vários outros fotógrafos do mercado. A agência te chama e pede: "a composição deve ser a mesma, para encaixar os textos, a luz perfeitamente igual, o figurino exatamente o mesmo, a locação idêntica e a modelo vamos tentar encontrar uma bem parecida". Dá pra acreditar? Até sósias nós temos que encontrar.
Lógico que a regra não vale para todas as agências, nem para todos os trabalhos. Mas os layouts pré-definidos com imagens de arquivos deveriam ser utilizados apenas como uma referência. Uma forma de entendimento do conceito da imagem e da campanha. Dar ao fotógrafo a liberdade de questionar, discutir e criar é uma excelente forma de dar luz a uma ótima idéia da agência.
O verdadeiro fotógrafo deve ter a arte no sangue. Ler muito, viajar muito, assistir a bons filmes, ouvir boa música e, principalmente, fotografar o que gosta, independente do trabalho diário do estúdio. E, fundamentalmente, deve questionar conceitos e desenvolver um estilo, uma luz, uma forma de ver as coisas que o diferencie de outro. A partir do momento em que a agência entende que o fotógrafo pode dar vida a uma boa idéia, a sintonia entre agência e fotógrafo se torna perfeita e só pode trazer grandes resultados.
Não aos layouts! Sim ao velho e bom rough! Liberdade Fotográfica! Liberdade Criativa!(nilo biazzetto neto, fotógrafo, no ad news)
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