terça-feira, março 27, 2007

uma juíza da porra

marilêda frota angelim timbó, juiza da 18ª vara criminal, concedeu uma liminar, atendendo solicitação do ministério público estadual e da prefeitura de fortaleza, que determinou na última sexta feira a retirada, por etapas, de "engenhos" de publicidade irregulares.

o mccarthismo aos outdoors continua. seja em são paulo ou na austrália, calcados na premissa, nem sempre verdadeira, de que os outdoors são poluidores visuais das já pra lá de poluidas cidades brasileiras, qualquer que seja o ângulo de visão. poluição, registre-se para os corujas de plantão, que vai desde o amontôo de lixo as redes de fiação que não permitirão nunca que qualquer cidade brasileira diga-se não poluída enquanto lá estiverem. isso sem falar nos canais e rios de bosta que cortam diversas cidades deste país, por sua vez já cortadas violentamente por cicatrizes de um descontrole social que marca a paisagem de maneira imensamente mais poluida que os tais outdoors, e que junto do nosso caos urbanístico são pinto.

é verdade que os outdoors também poluem. primeiro pela exarcebação em quantidade, colocados a torto e a direito, o que contraria o princípio mater da não saturação. depois, pela baixissima qualidade apresentada cada vez mais. esta sim também poluidora de consequências mais graves, verdadeiro cisco nos olhos e tiro no pé, especialidade para qual a classe publicitária ultimamente tem revelado um aptidão da porra.

como publicitário, de acordo estou, que os tais "engenhos" não devem ser instalados em terrenos de repartições públicas, praças, escolas e quartéis. indo mais além, também em locais onde sua visibilidade é quebrada, como aquelas monstruosidades de esquina, dobradas ao meio, como cartão telefônico descartado, isso sim um atentado ao pudor ético e moral da profissão, coisa mesmo de uns porrinhas qualquer.

agora, na medida em que a medida obriga a retirada de 85 outdoors onde eram veiculados a propaganda do shows de marcelo d2 e pitty, porque, " além de agredirem a moral e os bons costumes", conforme a liminar, estando em desacordo com a legislação do município, não. é de um falso moralismo, já típico da justiça brasileira. instituição que não consegue desvencilhar-se da pecha e da má consciência de procastinar ad internacionem sua atuação, tendo como consequência o assassinato psicológico e físico de mihões de brasileiros, quando não ultimamente envolvida em escandalos do tipo aumenta o meu aí que o que eu ganho é pouco demais para minha toga de privilégios da porra.

considerar que a expressão vamos fazer barulho porra, agride a moral e aos bons costumes, é manifestar a mais completa dissonância - e ignorância semântica e semíotica - para com o uso vocabular das expressões que já fazem parte da chamada lingua coloquial - a lingua da publicidade - contributas para a nossa riqueza de expressão vocabular e porque não dizer cultural. o português é hoje uma língua de poiésis, que se renova diariamente pelo uso de expressões que ao fim e ao cabo cada vez mais a tornam viva, apesar dos horrores que causam aos defensores do português castiço. evidentemente, muito mais por uma questão do uso da expressão erudita como propriedade de classe, linguagem é poder, do que pelo zelo gramatical pela sintaxe da língua, que diga-se de passagem é uma língua mesmo da porra, multifacetada em sua unidade vocabular, espraiada num país continente de verdadeiros dialetos. isso sem falar nas gírias das mais diversas tribos, que podem e devem ser tomadas como apropriação da afirmação de existência, excluidos que são da língua oficial que não tem ouvidos para estes guetos onde a fala é a única identidade dos sobreviventes.

as abobrinhas ditas pelo faustão, chocam menos do que os inúmeros porras acentuados pelo "apresentador dos domingos à famíia brasileira". assim como não se consegue imaginar o joão gordo sem ela na mtv ou na língua verdadeiramente falada no dia a dia. antes deles, uma senhora respeitável, advogou o direito a expressão, não sem antes ser classficada pelo mesmo sistema falso-moralista das leis em vigor neste país(que tem uma vocação legislanda para ser ferrenho com coisa vulgares e relaxado com coisas torpes e hediondas) de puta. dercy gonçalves - para quem não sabe, no seu tempo atrizes tinham de portar uma carteira onde eram classficadas de prostitutas - sepultou de vez qualquer possibilidade de julgamento da palavra porra como ofensiva ao que quer que seja, afinal uma vó de um século, tem muito mais a dizer com respeito do que qualquer estagiário de direito com suas súmulas cum laude. o vocábulo porra, jamais será ofensivo, desde que, evidentemente, a quem aposto, não tenha a moral ilibada a ponto de ser atentada por tal palavrinha que criancinhas mastigam de há muito no convívio familiar. mesmo das mais conservadoras, pois de topada e queda, ninguém está livre. nem as juízas(duvido muito que haja em latim, expressão mais adequada para ser empregada em tais casos).

porra, quer dizer a coisa, de tantas coisas. e não vou me extender, porque daria uma semana de post, quando não melhor tratado por filológo, a qual a própria juiza podera ter consultado. mas enfim, porra pode ser da porra, excelente, em qualidade ou quantidade, assim como funciona como interjeição de alerta, ou uma coisa qualquer, nesta caso de porra nenhuma. o próprio título deste post pode ter a interpretação de que a juíza é uma magistranda ímpar, invulgar, corajosa, ou uma juíza que se perdeu in limine litis (para não dizer na porra do processo) deixando para os que me lêem a interpretação de qual porra é. ainda assim com um medo da porra de que acabe sendo vítima de um mandado ou de processo da porra mesmo que tenha-lhe feito da porra um elogio.

por fim, espanta-me que as empresas de outddoors, clientes e agências, aceitem tal medida de tal forma calados e acovardados, no tocante a este tipo de censura proveniente de quem dat veniam corvis, vexat censura columbas.

que tá uma poluição da porra, já disse, não nego, e estou de acordo, com as medidas que disciplinam a distribuição das placas(que porra é essa de engenho publicitário?) agora contra a moral e os bons costumes, uma porra.
e só por isso, nada mais que isso, agências, veículos, fornecedores, em fim todo o mercado, tem a obrigação de, em defesa do nosso negócio, não ficar emudecidos feito uma porra.

portanto, vamos fazer barulho, porra!

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