quarta-feira, novembro 30, 2005

jesus é fiel

o amigo nunca é fiel. só o inimigo não trai nunca. o inimigo vai cuspir na cova da gente. nélson rodrigues.

quarta feira de cinzas

quarta ah portuguêsa: foi fazer férias. não sabemos se volta mais(leia amanhã). por conseguinte também hoje sem visto de entrada, saída e dicionário.

em dezembro

diploma dá caráter ou o caráter do diploma;
nada mais velho do que um jornal de hoje;
por que (certos) blogs incomodam tanto;?
diretor de criação, afinal de que tipo é o teu?;
direção de arte, destarte?;

e absolutamente nada sobre shoppings, campanhas natalinas, papai noels, padres pedófilos e josé dirceu.

tristezas de um homem feliz

morador da metrópole acordo as quatro e meia. não tenho radinho de pilha nem galo no quintal. de vez em quando, um bem-te-vi me pilha no sono o sonho de outros quintais.

infalivelmente, no entanto, princesinha, gata de rua, que já pensei chamar de penélope, tamanho dengo e charme que traz no rabo flocado e no movimento de cabeça agradecido ao encaixe dos meus dedos sobre sua cabeça, e de quem cuidei invariavelmente por meses à fio, desde os primeiros da sua curta vida, acorda-me com modulações raras de ser ver em felinos, fantasio, tornando-se o meu galo de estimação que irrompe as madrugadas

insistentemente, mas nunca a ponto de me chatear, faz-me sentir importante nestes dias em que viver não o tem sido, resmungo, intolerante que ando com humanos cada vez mais.

vocalise nata, princesinha guarda sempre uma modulação a mais. lembra quase um "thank you em caixa leslie”, quando coloco sua ração por baixo do portão que ela ávida pateia por entre a quase fímbria de espaço antes do crocs e creques ávidos da minha presença.

no quase minuto que ouço seus miados a romper em suíte os ligamentos do meu sono, por vezes titubeei entre dormir mais um pouco e atender seu pedido que traduz, mais do que comida, o quase abre-te sésamo do portão para os primeiros afagos do dia, a despeito de águia, a dobermann, cujo focinho tem quase o tamanho da gata e que tudo acompanha com o interesse da tenra idade dos cachorros grandes no tamanho mais ainda pequenos de verdade.

mais do que rotina, ser acordado por princesinha, me era tão importante quanto fazer um grande anúncio.

amanhã, ainda que o sol irrompa, o bem-te-vi cante, e a troupe que inclui margarida a mãe, saci e batmanzinho, irmãos e demais sobrinhos de princesinha, cumpram o ritual do nosso encontro diário, repleto de cambalhotas, lambidas e orelhas em riste aos ronronados, meu dia será triste. tal como um roteiro que tinha tudo para dar uma boa campanha e foi estragado por intromissões alheias à sua realização. pois encontrei hoje princesinha morta. não mais que quinze minutos após a ter alimentado a tarde, hora de calor que antecipava a chuva em lágrima do mais tarde.

junto a quina do meio-fio. duas casas após. o meu galo de todas as manhãs tinha os olhos semi-cerrados e o ventre empapaçado. provavelmente resultante do petardo de algum automóvel contra seu corpo quase pena e lépido, que se movia com a alegria de quem quase cantava por me saber vindo já há mais de vinte metros de distância quando a rua dobrava.

madrugadas posteriores serão mais vazias do que as manhãs de quem não tem galos para acordar. ainda mais porque hoje eu não abri o portão para princesinha.

vocação para o combate ou porque nasce e morre um blog III

sim, propaganda é para ganhar dinheiro e ter prazer. este é o leit motiv do cemgraus.

então, porque sempre tão ácido, causticante? na maioria das vezes? dizem alguns, do cem. de mim dizem muitos ? porque estão querendo roubar o meu fusca, digo.

rebusco uma certa história sobre o almir pernambuquinho, jogador pernambucano que migrou para o sul na década de sessenta, onde fez muito sucesso. quedando-se assassinado pelo gênio. almir, que não levava desaforo pra casa, participando de um jogo beneficente, onde por premiação cada jogador da equipe vencedora teria direito a um fusca, nem bem terminou o primeiro tempo já havia quebrado a perna de dois. terminada a partida, de mais um, com aquela “maranha” de sentar o pau e ainda a falta ser apitada contra o adversário. ao ser inquirido porque tamanha violência, afinal, o que ele tinha contra aqueles jogadores, almir não titubeou – eles queriam roubar meu fusca.

a propaganda está cheia de pulhas. cheia de mau caráteres, tsunamis de medíocres invadem o mercado. o que era um bom negócio, tornou-se um mau negócio, sinônimo do pior, nestes tempos que vivemos agora. tempos de ladrões de fusca.

o que é pior, é que a culpa disso tudo, é nada mais nada menos do que nossa. da criação por sua genuflexão à onda empresarial que em nome da salvação do negócio praticamente determinou o esfaquemento da publicidade criativa na femural. o que de per si já grave, ainda mais em momentos de transição no fim do século XX. do mercado e dos empresários que o lideram, por seu envolvimento em todo o tipo de decisões e atitudes e maracutaias que a confinaram caudatária aos humores aos que são estranhos aos seus procedimentos: ou você é do tipo que fica de joelhos sobre o milho repetindo que o cliente sempre tem razão? ( o cliente do cliente é que tem razão, mas nem sempre. e aí abre-se a oportunidade da publicidade intervir e propor avanços que contribuam no bojo da venda de produtos para a melhoria do caráter da sociedade por mais que pense quem quiser ser isto incompatível com a atividade super-estrutral do capitalismo – não sabe o que é super-estrutura ? bem queria o quê ? você tem diplominha não tem? na sua aeso da vida, eca, miami ad school, não te ensinaram isso? ah! só falaram que tem estúdios os mais completos e que os mais brilhantes vão estagiar na fcb não sei das quantas ? pois.).

o “engraçado” é que semana que passou o clube de criação de são paulo saiu-se com um anúncio sobre o ataque bushiano que a criação vem sofrendo de todos os lados. pediram penico. deixaram de lado, por uns segundos, por uns segundos, aquela pose de il divos e reconheceram que a merda tá feia. tudo a ver com tudo que temos posto, exposto e defendido no cemgraus, ainda que possa parecer que queiramos ser a palmatória do mundo sem enxergar a nossa própria bunda. com a não humilde diferença que temos ido mais além ao questionar como um “ pregador no deserto” o esvaziamento da importância da atividade intra e extra muros atestado pelos números(sempre eles) de remuneração pró agencia e salariais, e das práticas compensatórias para o baixar das calcinhas de tantos. e nisso temos de dar razão ao eloy simões quanto repete-se até se fartar da falta de organização do mercado e do entreguismo das siglas representantes – ABABS, CEMPS, sindicatos – ao não posicionarem-se contra o achatamento, moral inclusive, da atividade.

de resto, é claro que não temos a habilidade do almir, a não ser de nos predispormos ao assassinato, o que já acontece, pelo alijamento no mercado local. mas não me peçam para ser lambe-cús, como o é a quase totalidade da classe, no subservilismo do agacha-encaixa para manutenção de empregos e, ainda assim, procriarem-se como profissionais do pedaço a fazer o que valha a pena.

não são, não é. não vale. o quadro da propaganda local, e não só, é ruim, muito ruim. fede como as tardes de domingo em conjunto com as bufas de quem aje assim.

portanto, não me venham tomar meu fusca e esperar que eu fique calado sem dar as minhas cacetadas ainda que elas não impeçam a entrega de fuscas para os perna-de-paus. e tampouco, haja descaramento de classificar-me de espécime em processo de auto-destruição quando coloco os pontos nos is. tônicos ou não.

o grande problema da publicidade, seja local ou não, da imprensa especializada e dos blogs inclusive, é que são capazes de urdir, tramar, desdizer, queimar, pessoas, agências e profissionais, com a facilidade que se flambam os cordeiros em mesas de bar. sempre pelas costas, como lhes convém. principalmente se exprimem sua opinião na lata. tornando-se os indesejáveis de plantão para os arrivistas e oportunistas para quem o bom senso é manter-se no cargo não importa o senso do bom.

portanto, cemgrauscelsius.blogspot.com não queima, apenas aquece suas opiniões com a verdade profissional de quem na hora do ovo frito sempre teve culhões para chapa doa a quem doer.

porque pra nós, sopa,café,mulher e propaganda, só quente.
requentado, nem follow-up.
(amanhã novo formato e mapa editorial. o sal do ovo é por sua conta)

terça-feira, novembro 29, 2005

enguio

fique tranquilo: sempre se pode provar o contrário. ângulo, millor fernandes

vocaçao para o combate: porque nasce e morre um blog II

30 minutos e o que vier na cabeça. o desafio era este. não valia arregimentar prahse books, anotações de algibeira, cábulas ou qualquer recurso que não fosse a tarefa de preencher a tacs e tics, de muito ou poucos toques, o espaço a ser blogado naquele dia.

cemgrauscelsius.blogspot.com nasceu assim. um exercício de escrita publicitária. concentrado nos títulos. mais de 800, a exceção de de meia dúzia, todos exercitados por mim. alguns em menos de dez segundos nunca mais de dois minutos o que não é nada mal, para um blog. mas de péssima conduta, se o objetivo é criar um título que faça a diferença. isso se você quer fazer propaganda para fora daquele círculo que acha você um bosta, um gênio ou uma bosta genial ou gênio de bosta.

o exercício anti-ferrugem por sí só já tinha esta utilidade. a outra, para não ficar nóico, seria injetar-me conteúdo publicitário – e não só – o mais alargado possível, fugindo a mediocridade do meio que está atingindo quase a excelência do esturpor.

acha que estou com dôr de cotovelo, recalque ? leia a lista do ccpe, ou melhor, leia o jornal, assista a tv, escute o rádio e escute pernambuco não mais falando para o mundo, mas produzindo uma propaganda das mais cus do país, apesar dos prêmios, mais sacudidos do que estandarte de maracatu. mas você já viu algum prêmio que não seja cu ou que não tenha cu pelo meio ? e o que torna esta propaganda atual ainda mais cu? a fantochada na produção de fantasmas, que você pode asseverar no “ na pasta”, ao tempo que os serpinhas do pedaço mostram do que são capazes, por exemplo, na publicidade feita para as concessionárias de automóveis, ou para o varejo de armazens de construção, de leve, para não arremessar mais tijolos.

mas seria este então o leit-motiv do cemgrauscelsius.blogspot.com
botar pra derreter, não importa como? blog-se quem puder então ? mas como? mas blog, que blog- ? não é porque você tem um endereço de blog que necessariamente seja um ou mais um e, putz! já são milhoes, dizem 800.

mais um dia então, e vamos falar do blog que não é blog, que não segue a gramática de blog, a lógica de blogueiros, mas que não tem nada contra. ao contrário muito a favor, diferentemente do luciano costa martins, que vocês podem acessar no observatório da imprensa, para ficar arrepiados com o tamanho do preservativo furado da grande imprensa

por hora, adianto-lhes que o próximo desdobramento será: propaganda se faz para ganhar dinheiro e ter prazer. uma lição da velha escola de redatores. velha? blogs ou não também deveriam ser feitos pra isso. e lidos para isso. se assim é, tinhamos mesmo que mudar para não mudar. porque dinheiro que é bom, necas de pitibiriba, que tão cedo no in ad sense. e prazer? bem, digamos que tava na hora de tentar novas posições. então, aproveite, “relaxe e goze” e nunca se esqueça: ajoelhou tem de chupar.

auto-ajude-se, assim você não chega lá

esta semana o eloy simões, www.acontecendo.aqui.com.br relembrou o neil ferreira e de lambada o jarbas agnelli que, duvido eu, serpa faça um all type com a competência do jarbas um dos maiores diretores de arte que este país já teve, apesar da sua cara de jarbas.

dizia o eloy que o neil, um dos e quase-quase nosso melhor redator, aprendeu a escrever lendo o que é bom, reescrevendo, e muitas vezes copiando. tá meio difícil agora, né neil,? ler, copiar e, fazer que é bom, principalmente.

realmente, como nos faz bem ler bons anúncios, independentemente de você ser ou não redator ou coisa parecida. dá aquele imediato frescor de que vamos fazer igual ou melhor e um ânimo para arrebentar a cara do próximo atendimento que vier com aquela conversa do " não gostei do título" ou a mãe do cliente não vai gostar.

além, disso, se me permitem, leia poesia, principalmente a boa, pra começar de um redator como nós, o paulo leminsky, mas pode ser o mário quintana, o joão cabral, o manuel de barros, claro o pessoa, e aproveite a onda agora e leia o vinícius que poetinha é puta que lhos pariu. sim, claro: tem muita masturbação disfarçada de poesia ou de poiésis. mas também tem muita gente utilizando a síntaxe de maneira contagiante à publicidade. depois, se puder, experimente, fazer títulos de jornal, principalmente da policial e economia, cidades também. foi assim que eu cheguei a conclusão que tinha algumas gotas de talento para a redação publlicitária. eu e o diagramador do jornal: ele com aquela cara de vou fuder este gajo: " duas linhas e dezoito toques, três linhas e doze toques " e eu do outro lado, na velha máquina de escrever, realizando a coisa com o relógio da redação disparado e já a ouvir os gritos da turma da distribuição. sim, nestes tempos o jornal de domingo era concluido na madrugada do domingo e a precisão dos toques garantia a harmonia visual da página, porque não havia programas para corrigir buracos e "viúvas"

e foi assim que retomei o exércicio fixando um tempo para concluir os posts do cemgraus,

segunda-feira, novembro 28, 2005

tapinha nas

as coisas mais desagradáveis que os nossos piores inimigos nos dizem pela frente não se comparam com as que nossos amigos dizem de nós pelas costas.
alfredo de musset

negando as origens ?

notícia e saudação da posse do andré laurentino como novo diretor de criação da lew, lara , pelo bluebus, na última sexta, informa que ele começou na dpz. apagaram a ítalo bianchi da sua árvore genealógica ? obra do próprio ?
registre-se que a nota foi corrigida hoje, graças a dica da giselle kyrilos, que também informa a curiosidade de que o andré faz sua "estréia"como redator, já que sempre atuou como diretor de arte. será esta uma sina dos andrés? afinal, o calazans também deixa muito redator no chinelo. mas parece que andou desisistindo da prática porque não lhe queriam pagar dois salários muito embora quisessem que ele fizesse dupla consigo mesmo.

vocação para o combate: porque nasce e morre um blog I

como diria o esquartejador, vamos por partes.

5.500 hits depois do primeiro de abril, se você não sabe, data em que fomos à luta, sem contar os quase quarenta e cinco dias em que o invisible mode amazing counter foi defenestrado por " necessidades operacionais" de ajustes do blogger - é o que eles disseram, prometendo - e não cumprindo, reativar automaticamente o counter - e temos um contigente que vem atrás da banda significativo. e significativo por quê ?

porque aprendemos, logo após a tabuada - e a palmatória -, que os números são relativos.

5.500, digamos assim, é muito pouco para um blog star. mas não o seriam? para um blog com as nossas características. blog do gengibre, do curry. e dos demais temperos que você já provou, à gosto e a contragosto, e que nesta semana vamos revelar as receitas da dosagem. e porque, sobretudo, nunca se utilizou do ferramental disponível para sua divulgação - o que vai fazer agora - a não ser divulgá-lo por duas ou três chamadas na lista do clube dos criativos de pernambuco - ccpe - e, posteriormente, no cc-nat, lista do clube dos criativos de natal. e, of course, contando com " a little help for my friends" que tentaram convencer alguns afetos, cunhados ou desafetos sabe-se lá, de que valia a pena frequentar o cemgrauscelsius.blogspot.com

e porque fazer o cemgrauscelsiusblogspot.com ? qual seu leit-motiv ? as outras desinterescências ? saberá você todas durante esta semana, radiografia, endocospia, ressonância, peniscopia e toque retal. que incluirão também reedição easy índice, e uma prévia da nova formatação.

a essência dos blogs é tal qual a das dstês(doenças sexualmente transmissíveis) disso não tenham dúvidas. sem contágio não há prazer, dizem os números, sempre eles.
portanto, politicamente incorreto, nosso objetivo é o fim do onanismo. o que não é fácil. mesmo para os blogs mais frequentados. fazer com que mais gente tire a camisinha e entre na suruba ou que pelo menos saia do armário e pratique a contudência intelectual, saindo do estado de voyerismo latente que registra a nossa média de frequências, é o buraco das próximas ereções.

e tudo isso em nome de quê ou por quê ? tomorrow never knows ?
(manhãna yo lo tengo ?)

retrato em preto e branco do brasil

O retrato que emerge da PNAD é o de um país pobre, mal instruído e despreparado para os desafios da modernidade. síntese do marinho no bluebus de hoje.
estaria a propaganda preparada para isso ? afinal, de um lado overacting e umbigo superestimado. de outro, intelecto igual a fundo de cueca, exemplamente refletido no varejo. que sejamos pobres de meios ainda vá lá. mas de espírito? não seria a antitese do culto a nossa criatividade enquanto povão, e o começo das derrocadas de sempre ?

domingo, novembro 27, 2005

aviso prévio

após meses de experiência, e o mais completo fracasso em fazer a meia cambada que me acompanha desistir, vamos dar um saltibunda e semi-profissionalizar a coisa.
nesta segunda, startamos com o " vocação para o combate", editorial que revela em defitivo nossas péssimas intenções e, porque nasce e morre um blog.
assunto pra quase uma semana inteira, se eu e vocês sobrevivermos a isso.

a culpa é da publicidade( da má)

A CAMADA DE OZÔNIO DIMINUIU? CULPA DA PUBLICIDADE.
SEU TIO DEU PARA BEBER? CULPA DA PUBLICIDADE.
O FLAMENGO NÃO TEM TIME.CULPA DA PUBLICIDADE?

Vamos dizer de cara ao leitor: somos a favor da publicidade. Mais: nós amamos a publicidade. Ela fortalece marcas, informa o consumidor, aumenta vendas, cria empregos, gera riqueza. Mas não viemos aqui fazer publicidade da publicidade.

Nosso foco de interesse, como o próprio nome, Clube de Criação de S. Paulo, deixa claro, é a Criação.

Como esses profissionais, a despeito de todas as dificuldades, do pouco prazo, dos orçamentos pequenos, das enormes dúvidas dos clientes e da avalanche das pesquisas, conseguem colocar no ar comerciais brilhantes.

Mas você deve ter reparado: esses comerciais brilhantes estão cada vez mais raros.
Culpa dos nossos criadores? Parece não ser, pois o Brasil continua se destacando como nunca nos festivais internacionais.

Somos a terceira potência mundial em Criação, atrás apenas dos EUA e Inglaterra, mesmo dispondo de verbas terceiro-mundistas e criando em português.

Então, o que está acontecendo?

Isso não é uma desculpa, é um diagnóstico: a Criação está sob ataque.

Primeiro, sob ataque de briefings e estratégias de marketing banais, iguais, sem ousadia, elaborados numa moldura por profissionais que parecem entender muito de MBAs e pouco da vida.

Segundo, sob ataque da insegurança de clientes que, tirando as honrosas exceções, se escondem atrás de pesquisas e mais pesquisas para recusar idéias ousadas e veicular publicidade convencional.

(Essa sim, a maior inimiga do nosso negócio: aquela que irrita o consumidor, invadindo sua casa para tagarelar mesmices e ofender sua inteligência.)

Agora vem o pior dos ataques: o do politicamente correto. Não se pode mais gozar de ninguém, não se pode rir de nada, não se pode usar nenhum grupo ou atividade, sem que alguém se sinta ofendido e queira tirar o comercial do ar.

Relembremos dois comerciais inesquecíveis da nossa publicidade: “Hitler”, da Folha de S. Paulo, e “Primeiro Sutiã”, da Valisère. O que aconteceria com eles hoje?

Imagine “Hitler” sendo submetido a pesquisa: “O que? Hitler? Eu odeio esse homem e não quero que meus filhos vejam seu rosto na TV!”.

Ou: “Você quer usar o maior tirano de todos os tempos para vender um jornal liberal?”

Pau. Gaveta. Próximo ?

“O Primeiro Sutiã”, então, coitado, nem iria para pesquisa. Seria recusado por ser sexista, por explorar a sensualidade de menores, processado pelo fabricante de almofadas pelo fato da menina jogar a sua displicentemente na cama.

A onda do politicamente correto faz as pessoas se sentirem ofendidas pelos
motivos mais estapafúrdios.

Grupos de ilusionistas reclamam de efeitos especiais. Entidades de defesa dos
animais denunciam maus-tratos a bichinhos criados em computador. Chegamos ao cúmulo de uma associação de palhaços reclamar da utilização da expressão “palhaço” em um comercial, por considerar ofensiva.

E, como nada está tão ruim que não possa piorar, essa loucura virou uma grande mina de ouro para advogados entrarem com processos e recursos, exigindo até reparação financeira para seus indefesos clientes.

Seria cômico se não fosse nauseante.

Não pensem que somos um bando de engraçadinhos irresponsáveis, que perdem a credibilidade mas não perdem a piada.

Foram os próprios publicitários que criaram o Conar, o Conselho de Auto-
Regulamentação Publicitária. Para que existisse um canal onde quem se sentisse atingido, ofendido ou enganado pudesse pedir a suspensão do comercial.

E ele vem cumprindo bem esse papel: em 77% dos casos o Conar julgou que o Cliente tinha razão. Em 100% deles, a campanha foi cancelada.

Por isso mesmo, pedimos, em nome da Criação brasileira: gente, o mínimo de
bom senso.

Por favor, não peçam para que a Escolinha do Professor Raimundo saia do ar
porque faz piadas com portugueses.

Não peçam para a torcida parar de xingar o juiz de ladrão, porque ele provou
em cartório não ter antecedentes criminais.

Não peçam que Hollywood deixe de filmar “Tubarão” porque o bicho morde um prefeito judeu.

Caso contrário, já, já, rir de um comercial será motivo suficiente para tirá-lo
do ar.

E desculpe se algum torcedor do Flamengo se sentiu ofendido pelo título. Mas
que isso não seja motivo para nos processar nem pedir a suspensão do anúncio.

Mesmo porque, time, que é bom, ele não tem mesmo.

(último anúncio para/do CCSP)

sábado, novembro 26, 2005

pílulas contra enjôo

durante três dias consecutivos, hoje incluso, publicamos "weltaanschaungs" sobre o racismo. muita gente não aguentou. racismo ? ou seria racismo meu publicá-las " tão insistentemente ? quanto a mim, equivocado ou não, creio que todo dia deveriamos refletir sobre algo que nos faz ser ainda mais miseráveis do que somos enquanto raça.


seja o que for, estas notas encerraram o fim de um ciclo mas não de uma nova era do cemgrauscelsius.blogspot.com cujas mudanças você pode acompanhar com direito a roteiro editorial a partir da próxima segunda.

total shape ou michael jackson somos todos nós

brasil e brasileiros, de todas as cores carregam na testa a pequenez desta mancha verde e amarela sem tamanho em sua história: o racismo não descontinuado no sonho do embranquecimento social, pilúlas do emagrecimento para o peso da cor.

pior do que o racismo dos brancos é o racismo dos negros contra os negros bem sucedidos. mas isto não seria uma visão também racista de branco ? branco? mas alguém é branco no brasil ? ainda que fechado nas mais diversas colônias étnicas? de olhos azuis e pele loura como os pentelhos, alguns ruivos como cabelos ?
quem disse que racismo é só uma questão de pele ? e antes de tudo cultural? — a história está cheia de grandes cabeças que cederam espaço pra coisa tão medonha de pequena tal qual vírus.
fica fácil para mim dizer porque tenho a pele desbotada?

inversamente proporcional

cresce a miscigenação( e a informação) aumenta o racismo. não deveria acontecer o contrário ?

em franca recuperação

racismo, como alcoolismo, pensa você que está curado, e tome recaidas pra lá da sarjeta.

sexta-feira, novembro 25, 2005

sem graça

Inextirpável no ser humano, mesmo o mais sensível, o gosto perverso de contar piadas sobre minorias (no Brasil, negros, judeus, portugueses, bichas) grupos já discriminados pela natureza(anões, corcundas, aleijados), pessoas marcadas por características dramáticas(caolhos, capengas,manetas), ou com defeitos ridicularizáveis(gago, fanho,surdo), etc.
Quanto aos grupos étnicos, as piadas no Brasil, se referem desprimorosamente a argentinos(que por sua vez nos chamam de macaquitos)franceses,alemães, porém, preferivelmente, detratam judeus, portugueses e negros. Mas, reparem bem, vocês já ouviram português contando piada de português, é comuníssimo judeu contar piada de judeu, mas eu, pelo menos, não me recordo de negro contando piada sobre negro. A explicação me parece simples; a piada sobre português(burrice) ou sobre judeu (principalmente argentarismo) é perfeitamente assimilável. A sobre negro(vagabundo,ladrão,primata,fedorento) é dolorosamente ofensiva, humilhante, não assimilável pelos, sem trocadilho, alvos(….)

(,,,,) Mas tenho de reconhecer que existem muitos intelectuais que nos tratam, a nós, negros, de igual para igual – o que lhes dá um grande sentimento de solidariedade humana. E lhes permite ir contar anedotas racistas no primeiro bar grã-fino em que preto não entra. (Beto, personagem de “ Os orfãos de Jãnio”, 1978.

millor, o irritante guru do meyer, nos aniquilando outra vez com sua anti-lucidez ao que nos é imposto, posto que a aceitamos.

dialética das cores I

Comparação do IDH-M entre brancos e pretos
Raio-x da situação do negro
Desigualdade
Retrato em preto e branco

Relatório do PNUD revela um país racista, que mantém os negros na exclusão e confisca o direito à vida


Ao se analisar a história do Brasil e, principalmente, a realidade do País, é possível entender por que o Haiti é e não é aqui. O Relatório de Desenvolvimento Humano Brasil 2005 – Racismo, Pobreza e Violência – do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), lançado na sexta-feira 18 no Capão Redondo, um dos bairros mais segregados e violentos de São Paulo, faz coro à canção de Caetano Veloso e Gilberto Gil. O primeiro relatório do gênero já feito no País traçou um retrato em branco e preto, dramático como o a canção de Tom Jobim e Chico Buarque. Concluiu que em todas as áreas de desenvolvimento humano, renda, educação, saúde, emprego, habitação e violência, os negros estão em situação desfavorável. Mas o maior objetivo do estudo é promover uma ampla reflexão no governo e na sociedade a fim de se perceber que o racismo é uma tenebrosa barreira que trava não somente o desenvolvimento, mas o direito à vida.

Apesar de representarem 44,7% da população brasileira, os afrodescendentes estão entre as principais vítimas da desigualdade socio econômica. Para se ter uma idéia do peso de mais de 100 anos de exclusão, o relatório revela que a disparidade de renda é a mais intensa: “Ao longo das duas últimas décadas do século XX, a renda per capita dos negros representou apenas 40% da dos brancos. Os brancos em 1980 ainda teriam uma renda 110% maior do que a dos negros em 2000.” O estudo revela ainda que a proporção de negros que vivem em favelas e palafitas é quase o dobro da dos brancos.

Os pequenos avanços que vieram com a redemocratização, quando a Constituição de 1988 transformou o racismo em crime inafiançável por exemplo,não desalinhavaram o viés racial também detectado nos diversos dispositivos da Justiça criminal: polícia, juizados e tribunais e no sistema penitenciário. Além de excluída da renda e dos serviços básicos, outro resultado de 300 anos de escravidão é a sub-representação dos negros nos espaços de poder (Executivo, Legislativo e Judiciário). O mesmo acontece na máquina administrativa do Estado e no mundodo trabalho. Levantamento feito entre as 500 maiores empresas do País mostraque apenas 1,8% chega a cargos executivos. “As evidências da sub representação nas posições de poder na sociedade configuram a situação de pobreza política desse grupo”, afirma o relatório. Além de aspectos econômicos, sociais e políticos, o desenvolvimento humano inclui o direito à segurança e à vida. Segundo o relatório, em uma sociedade na qual prevalece a pobreza de direitos seus conflitos tendema ser resolvidos por violência, não importando se ela é desencadeada porcidadãos ou pela polícia.

Em 20 anos a taxa de homicídios no Pais subiu de 11,7 por 100 mil habitantes para 30,6. A violência afeta a todos em igual intensidade, mas estudos recentes, no entanto, mostram que nem todos são atingidos da mesma maneira. Dados apontam que são os negros – principalmente jovens, homens e solteiros – os principais alvos de homicídios tanto nos Estados com altas taxas de criminalidade quanto nos que possuem números inferiores à média nacional. O relatório ressalta que a taxa de homicídios para negros, em metade dos Estados pesquisados, é mais que o dobro da verificada para os brancos. Em alguns locais, chega a ser seis vezes maior. As taxas mais elevadas são as de Roraima (138,2 por 100 mil habitantes), Rondônia (120,7), Mato Grosso (96,8), Rio de Janeiro (96,2), Acre (88,5), Mato Grosso do Sul (86,1), São Paulo (83,1) e Amapá (75,4).

Violência: negros policiais X negros cidadãos

Violência policial – Como se não bastasse ser a maior vítima dos criminosos, os negros também sofrem nas mãos da polícia. O peso desproporcional de negros vitimados pela polícia em operações, constitui, segundo o relatório, indícios de comportamento racista “nos aparelhos de repressão”. No entanto, a PM tem se mostrado um caminho de ascensão social, de oficiais a praças. Os negros são maioria no efetivo policial. Apesar dessa presença, as taxas de mortos pela polícia para cada 100 mil são de 1,3 para brancos, 2,4 para pardos e 10,8 para os negros.

A solução apontada pelo relatório, que ressalta a violência contínua – da escravidão aos dias atuais – cabe ao Estado e, por tabela, à sociedade. Duas formas de políticas públicas são defendidas: as universais, aplicadas sem distinção, e as focalizadas. Essas seriam ações afirmativas, de reparação, capazes de melhorar, através de instituições, as oportunidades e os níveis de bem-estar de uma comunidade em constante desvantagem.

Ana Carvalho, para a Isto é da semana.

dialética das cores II

NOTAS DE UM LEITOR
Brancos e negros no Brasil: comunicando a verdade

A julgar pela entrevista que com ele fez o repórter Ivan Carvalho Finotti, para o Estado de S.Paulo de domingo (20/11), o sociólogo e economista Marcelo Paixão, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi o responsável por uma sacada de comunicação como de há muito não se via na mídia.

A sua intenção talvez nem fosse propriamente essa, mas a de examinar um problema velho por um ângulo novo. Só que o resultado teve o efeito que costuma ser buscado por todos quantos – jornalistas, publicitários, marqueteiros e consultores de mídia – sabem que o impacto de um ato de comunicação muitas vezes depende mais da forma com que se exprime do que do seu conteúdo intrínseco.

É a busca da tal "verdade bem dita" de que falam os publicitários para se referir à suposta razão de ser do seu ofício. Mas no caso do professor Paixão, não há nada de suposto.

O problema velho de que ele tratou é o do negro no Brasil – ou, como prefere, "o problema das relações raciais no Brasil". E o ângulo novo que ele achou foi – não há outra palavra – um achado.

Nos anos 1990, a ONU criou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para complementar ou ir além das clássicas comparações entre os países com base apenas em critérios econômicos (PIB, PIB per capita, nível de emprego, concentração ou dispersão da riqueza, poder de compra da moeda nacional e por aí).

O IDH tenta medir a qualidade de vida das populações – o que já se chamou Felicidade Nacional Bruta. Combina os três fatores que, por abranger, cada qual, uma imensa variedade de outros, seriam os essenciais para a medição: renda por habitante, escolaridade e expectativa de vida.

Na última versão do IDH, de 2002, o Brasil ocupa o nada honroso 73º lugar entre 173 países avaliados. Nada honroso considerando as riquezas nacionais, o grau de desenvolvimento econômico (já foi o 8º mais desenvolvido, hoje é o 11º) e o fato de um certo número daqueles países serem pseudo-nações ou pouco mais do que isso.

A idéia genial de Paixão e dos que o ajudaram a preparar o relatório "Racismo, pobreza e violência", divulgado na sexta-feira (18/11), antevéspera do Dia da Consciência Negra, foi usar os mesmos indicadores do IDH, separando porém os dados disponíveis pela cor que os brasileiros se dão nos Censos do IBGE.

O lugar de cada um diz tudo

Com isso, eles criaram dois países – um Brasil só de brancos e um Brasil só de negros – e se puseram a cotejá-los. O confronto, em si, não trouxe nada de novo: confirmou que, por onde quer que se observe a realidade, os negros estão em situação pior. Muito pior.

Eles são os menos instruídos, os que mais morrem de doenças quando crianças e, quando jovens e adultos, em situações de violência. E não apenas são os mais pobres, como ainda empobrecem quando os brancos desempobrecem.

Esse dado, aliás, é de lascar: entre 1992 e 2001, enquanto em geral o número de pobres ficou 5 milhões menor, o dos negros (e pardos) ficou 500 mil maior. [Consideram-se brancos 53,7% dos brasileiros; negros ou pardos, 44,7%.]

Mas a "verdade bem dita" se concentrou no seguinte: tudo medido e pesado, o Brasil sem negros seria o 44º do mundo em matéria de desenvolvimento humano, ao passo que o Brasil sem brancos estaria no 104º lugar.

O primeiro ficaria emparelhado com um país arrumadinho como a Estônia, no Báltico, entre os petrolíferos Kuwait e Emirados Árabes Unidos. O segundo faria dupla com a Bolívia, cinco posições abaixo do Vietnam.

Isso, se o Brasil – qualquer dos dois – fosse um só, em matéria de progresso social. Não sendo, dá no seguinte: um Distrito Federal inteiramente branco equivaleria à República Checa (33º lugar); inteiramente negro, ao México (54º). O DF tem o melhor IDH do Brasil.

Sem os negros, o Estado brasileiro de pior IDH, o Maranhão, seria um Vietnam (109º). Sem os brancos, esse Estado seria Alagoas, empatado em 122º lugar com a infeliz Namíbia.

Já deu para perceber de sobra como a expressão de uma realidade por intermédio de um punhado de números – e, principalmente, em comparações que desembocam em classificações – entra mais depressa e fica mais tempo na mente do leitor do que a mesma realidade retratada sem esses recursos.

Por isso, os jornais de sábado fizeram a festa – com perdão da palavra – com os dados do IDH brasileiro em preto e branco.

O Estado, apesar do título assim-assim, "Aumenta o fosso entre negros e brancos", destacou melhor do que a concorrência – no centro da página, com tabelas e gráficos em cores fortes – os números mais acachapantes da comparação entre os dois hipotéticos Brasis.

O Globo também puxou o fosso para o título: "Desde 92, pobreza cresceu só entre os negros" e a Folha foi direto ao dado que resume a constatação do relatório de que a democracia racial brasileira é um mito: "Brasil dos negros é o 105º de ranking social".

Uma coisa mais difícil de capturar em números é o sentimento de pobreza. É nessa hora que a leitura da entrevista com o professor Marcelo Paixão fecha o círculo. "Não ter sapato em 1900 é diferente de não ter sapato em 2005", argumenta. "O sentimento de privação relativa é tão importante quanto as realidades da privação absoluta. Uma pessoa pode ser pobre, mas, se vive numa sociedade não tão desigual, essa pobreza pode ser pouco sentida." [Texto fechado às 15h15 de 22/11] Luiz Weis, no seu blog.

quinta-feira, novembro 24, 2005

cara-pálida

pegue uma caixa de tintas e verifique o tubo onde está escrito cor de carne ou, se a tinta é americana, francesa ou alemâ, flesh, chair, fleish. a cor é sempre cor de rosa. será que não existe cor de carne amarela ou negra ? millor fernandes in a bíblia do caos.

carregando nas cores ?

"Algumas lições do racismo brasileiro que aprendi como publicitário"

“Everybody wants an intelligent son.
My intelligence only got me into difficulties” - Su Tung P’o

Foi logo no início da minha vida de publicitário em São Paulo que a declaração de um diretor de arte de um dos escritórios da Leo Burnett (EUA) me chamou a atenção porque batia com um sentimento que também era meu. Ao ser questionado sobre o que mais o incomodava no fato de ser negro, ele devolveu a seguinte resposta: “O tempo que sou obrigado a perder me preocupando com isso”. Se fosse um aviso do que estava por vir, não poderia ter sido mais claro, pois aqui estou eu, um redator publicitário, neste doce novembro, mês da consciência negra, escrevendo exatamente sobre o negro na propaganda brasileira. Ou, em outras palavras, escrevendo sobre algo que praticamente não existe. Nenhuma outra atividade ou ocupação que eu tenha tido me obrigou a gastar tanto do meu tempo pensando nos mecanismos desse fenômeno, que faz com que as agências de propaganda brasileiras sejam tão brancas.
É claro que não foi como publicitário que descobri que 350 anos de regime escravocrata fizeram um estrago danado e deixaram marcas que se incorporaram ao nosso cotidiano. O que me surpreende é que a publicidade tenha me ensinado mais sobre a natureza dissimulada dessa herança ibérica do que os livros de Gilberto Freyre, que tive que ler (com prazer) nos meus tempos de estudante de sociologia, em Recife. Talvez eu deva até ser grato por tantas lições de vida que a minha profissão me proporcionou.

Por outro lado, seria muito egoísmo não aproveitar esta oportunidade de compartilhar com você, publicitário ou não, negro ou não, algumas dessas lições. Quem sabe assim eu não me vingo e obrigo você também a ocupar mais do seu tempo com um assunto que deveria existir tanto quanto existem negros em nossas agências.
A primeira lição: a dissimulação, principal arma do racista de fabricação nacional, também pode servir para a defesa da sua vítima. Quando o assunto for discriminação racial, entre mudo e saia calado. Na verdade, você nem estava presente. Outra dica: adote frases do tipo “talento não tem cor” ou “a falta de negros na propaganda é apenas um reflexo do racismo da sociedade”, para justificar o fato absurdo de um país que produziu escritores como Machado de Assis, Lima Barreto, Cruz e Sousa e Paulo Lins não ter redatores publicitários negros, por exemplo. Deve ser porque ser escritor é bem mais difícil do que ser redator. Nem deixe passar pela sua cabeça o impulso de revelar que você conhece muito publicitário branco que não é tão talentoso assim, e que o pré-requisito parece ser adotado com mais rigor na hora de contratar o negro. Este sim, tem que ser muito bom para furar o bloqueio. Também não vá ser ingênuo a ponto de tentar argumentar que se por um lado a publicidade não é responsável pela existência do racismo, por outro ela é uma poderosa arma para a manutenção ou remoção do mesmo. Isso realmente pega mal. Coisa desse pessoal que não tem o que fazer e fica criando ONGs. Se possível, torne-se invisível como tão bem sabe fazer o bom e covarde racista tupiniquim. Se você for daquele tipo de negro que pode se passar por branco, não vacile: seja branco de corpo e alma. Isso aumenta exponencialmente as suas chances de se dar bem. Se alguém adotar uma postura radical e disser que racismo simplesmente não existe, concorde. Não o trate como cego, se ele se enquadra nesta categoria; nem cínico, se for este o caso. Muito menos revele que não existe outra classificação possível ou que é bastante improvável que um padrão de comportamento social se repita com tanta precisão e freqüência sem uma ideologia, doutrina ou coisa que o valha, que o sustente.

E quando o álibi – todo racista brasileiro tem um álibi, pode reparar - for o repertório? Olha lá como você vai expressar a sua convicção sincera de que pôr um negro aqui outro ali nas peças produzidas pela agência é pouco, muito pouco, na verdade, migalhas. Pelo amor de Deus, e da sua carreira, não vá sugerir que contratar profissionais negros deveria ser regra tanto quanto contratar brancos. E se alguém contra-argumentar dizendo que há falta desses profissionais no mercado, engula a sua certeza de que não precisa ser tão criativo assim para encontrar maneiras de se investir na formação de tais profissionais. Sugerir que a publicidade é suficientemente rica para proporcionar este retorno à sociedade, nem pensar.
Para os raríssimos negros do mercado, um conselho básico: digira as piadinhas e as insinuações racistas. Não vá cair na besteira de responder que você, além de fazer na entrada e na saída, também faz na cabeça. Silenciar é tudo. Não vá dar uma de Silvino. Outro risco que você também corre se falar o que pensa é o de ser taxado de chato ou racista ao contrário, como se fosse comum ver negros barrando a ascensão profissional de brancos; negros impedindo a entrada de brancos em rodas de samba; ou branco reclamando porque sofreu preconceito racial por parte de um funcionário negro do Iguatemi. Se você insistir no assunto, aí é promovido à categoria de negro recalcado, pode escrever.

Racista brasileiro se borra de medo só em pensar que pode ser desmascarado, portanto, se algum deles se descuidar e deixar cair a máscara diante de você, lembre-se da primeira lição: dissimule, finja que não viu nada. Jamais se ache suficientemente inteligente para desafiá-lo. Principalmente se a sua descoberta for feita a portas fechadas. Ninguém vai acreditar. Vão dizer que só pode ser um terrível engano, que aquela pessoa tão bacana não pode ser racista, que você tem mania de perseguição, que está procurando desculpa para a sua demissão, e por aí vai. Caso você viole esta regra estará perdido: vão exigir provas, te ameaçar de processo, te isolar. Prepare-se para perder algumas pessoas que você considerava amigas, pois elas vão desaparecer pelo mesmo buraco por onde os ratos abandonam o navio. Este processo purgatório, aliás, é o lado bom da coisa.
Finalmente, uma lição tão simples e tão óbvia que se o inteligente aqui tivesse o mínimo de massa cefálica, teria simplesmente consultado um dicionário, e não aprendido dentro de uma agência de propaganda: preconceito, meu amigo, é prejuízo.

Silvino Ferreira Jr.,Redator, no CCSP On Line

o preconceito que muita gente manifesta contra o silvino, não é propriamente de cor mas sim quanto ao seu caráter, considerado furta-cor. se bem que, o fato de ser negro, não deixe de ser levado em conta na hora de carregarem nas tintas, o que é ,sempre, deveras lamentável. multiface do racismo, tantas vezes inconsciente, que julga que um mau caráter,se assim o for, o seja tanto pior pelo viés da cor. não o é. no head line de amanhã millor, sempre ele, mostra o pûs (branco) da ferida.

bate-bola

simonal, o paulo césar caju da música. paulo césar caju, o simonal do futebol. mas cada um na sua. e nós na arquibancada. em êxtase.

se liga branquelo

nesta sexta vamos colocar o preto no branco.

quarta-feira, novembro 23, 2005

visto de entrada

ledo engano, moçada
sucesso em publicidade não é sprint de cem metros.
é maratona, quase triathlon.
por isso cuidado com as ladeiras
acima abaixo abaixo acima
se na berma correm, tristes tornozelos
na pista, camião de combustível
desgovernado na contra-mão
estes moços, pobre moços.

quarta ah portuguêsa: uma fotografia do príncipe sobre o reino

• Dom João Henrique Maria Gabriel Gonzaga de Orleans e Bragança nasceu em 25 de abril de 1954
• É o único filho e herdeiro do príncipe dom João Maria, falecido este ano, e da princesa Fátima Chirine, falecida em 1990
• Casado com dona Stella, tem dois filhos, João Phillipe e Maria Christina
• Possui negócios imobiliários em Paraty(interior do Rio de Janeiro) onde se dedica a causas ambientais

Dom João de Orleans e Bragança. A bronca do príncipe

Irritado com a crise ética, o rosto mais popular da monarquia brasileira ataca políticos e diz que honesto mesmo era dom Pedro II, seu trisavô.

Nas veias do príncipe dom João de Orleans e Bragança corre sangue azul, mas sua indignação com os rumos do País é igual a de um plebeu. Oscila entre a profunda decepção e a esperança. Tataraneto de dom Pedro II e bisneto da princesa Isabel, dom João de Orleans e Bragança, 51 anos, aprendeu com o pai, o também príncipe dom João Maria de Orleans e Bragança, a amar o Brasil sobre todas as coisas. Falecido este ano, dom João Maria nasceu no exílio na França e quando pôde regressar ao Brasil quis vestir a farda das Forças Armadas como sinal de devotado patriotismo. Dom João não se furta a cumprir uma agenda de solenidades que exijam sua presença, como visitar, na terça-feira 15, ao lado de diplomatas brasileiros, a Igreja da Lapa, na cidade do Porto, em Portugal. É lá que está uma relíquia, o coração de dom Pedro I. O imperador está enterrado no Brasil, mas seu coração ficou no Porto, cidade que o acolheu quando retornou a Portugal. Da cidade do Porto, dom João falou longamente ao telefone a Isto É, revelando um engajamento surpreendente para quem o via apenas como bom fotógrafo e surfista bissexto. Mesmo chicoteando políticos e reverberando princípios éticos segundo ele herdados de dom Pedro II, o príncipe não esquece o ofício de fotógrafo. Falou brevemente da mostra de 22 fotos que inaugura no Rio de Janeiro ainda este mês. São registros em preto-e-branco do Siwa, um dos oásis mais famosos do Egito, onde ele esteve em janeiro deste ano. Apresentou a sua família a terra de sua mãe, a princesa egípcia dona Fátima Chirine.

ISTOÉ – De certa forma o Egito lembra o Brasil, não?
Dom João – Sim. É um país fascinante, muito alegre. Eu ainda tenho família lá, primos e tias. A população é muito cordial, hospitaleira, fala com você, mesmo que não o conheça. Esta é uma característica muito nossa.

ISTOÉ – São países também similares na pobreza?
Dom João – Em todos os lugares em que vou, pergunto sobre a realidade política local. No Egito, eu perguntava se havia democracia. A elite, que é muito dependente do poder, dizia que sim. Mas você pode criticar o presidente? Não. Então que democracia é essa? Daí eu contava com muito orgulho sobre o nosso processo de democratização. Nós tivemos 21 anos de regime militar e depois todas as lideranças que voltaram são governadores, deputados e houve até presidente. Contava com muito orgulho que temos liberdade total de expressão, liberdade política. A nossa grande diferença hoje é a democracia.

ISTOÉ – Nesta semana se comemorou a proclamação da República no Brasil. Há 116 anos, começava o exílio de dom Pedro II.
Dom João – A nossa família viveu o maior exílio político da história brasileira, de 33 anos. Foi um exílio imposto por um governo militar, não foi um exílio imposto pelo povo. Na época do império, ainda com dom Pedro II, havia total liberdade de imprensa, de expressão e política. Poucas pessoas se dão conta disso.

ISTOÉ – No exílio, dom Pedro II jamais aceitou ajuda do governo republicano?
Dom João – O governo militar brasileiro sabia da dedicação de dom Pedro ao Brasil e que ele não tinha bens de espécie alguma. Eu sempre achei que a função do homem público não é ficar rico, mas se dedicar ao bem público. E dom Pedro II talvez tenha sido o brasileiro que mais defendeu o dinheiro público. No exílio recebeu uma carta do governo brasileiro, dizendo que ele passaria a ter direito a uma pensão anual. Ele respondeu: “Agradeço ao novo governo do meu país, mas não posso receber um dinheiro do Brasil sem estar servindo à nação brasileira. E desejo sucesso ao novo governo de meu país.” Até hoje, as pessoas me perguntam: “Você tem orgulho desta atitude?” Não, eu não tenho orgulho. Ele fez o que qualquer homem público deve fazer. Não devemos sentir orgulho de agir corretamente. Temos que ter vergonha de agir incorretamente. Dom Pedro queria o bem do Brasil. Gastos supérfluos, nas palavras dele, significavam furto à Nação. Ele era um dos maiores controladores de gastos públicos. Alguns embaixadores que o visitavam perguntavam como ele, imperador de um país tão grande, tão rico, vivia num palácio tão pequeno e humilde. Ele dizia que o imperador não precisa ter palácio grande e todos os bens devem ser revertidos para a nação.

ISTOÉ – A que o sr. atribui este espírito?
Dom João – A ter sido educado a amar e, mais que amar, respeitar um país. No exílio, ele pediu para ser enterrado com um travesseiro com terra brasileira. O professor Darcy Ribeiro (1922-1997) me disse que ele foi um dos maiores progressistas de seu tempo. Que já tinha idéias de esquerda. Ele iria implantar a reforma agrária no País, num grande projeto do engenheiro André Rebouças. Tinha um projeto de reforma agrária para viabilizar a inserção social de toda a população negra. Ele sempre foi contra a escravidão. Ele dava o exemplo, pagava a alforria dos escravos e salário para os escravos. Quando a princesa Isabel libertou os escravos, boa parte da elite não perdoou, porque queria ser indenizada. Foi o mote para os republicanos chegarem ao poder.

ISTOÉ – O exemplo ético de dom Pedro II parece que não resistiu ao tempo.
Dom João – O Brasil tem que vir em primeiro lugar em tudo. Corrupção não é novidade. Desde que o mundo é mundo existe corrupção, roubo, má administração. Não é um privilégio do Brasil. O que me preocupa é a tolerância da população a isso. Eu queria ver como seria o que está acontecendo se a capital fosse no Rio ou em São Paulo. Quantos milhares de pessoas estariam na rua? Brasília, por ser uma cidade dependente do serviço público, não contribui para a ocorrência de manifestação popular. Todo o entorno de Brasília já não ajuda muito a cidadania e a manifestação democrática. Há sem dúvida uma decepção com a classe política. Só tem uma coisa que pode mudar isso. Fazer leis. Acabar com prisão especial para políticos e para quem tem nível superior. Por que isso, por que esse privilégio? Você tem que acabar com tantos casos de crimes que no meio do processo já caducam, como o que está acontecendo com Paulo Maluf, ex-governador de São Paulo. Acabar com os ritos processuais tão lentos em que as pessoas ficam impunes. Acabar com o número enorme de protelamentos. Isso vai mudar brutalmente o quadro, vai atrair mais idealistas para a vida pública do que fazedores de negócios.

por celso fonseca, na isto é.

muito político tuga minimamente interessado em que o príncipe" fotografe" portugal. salamaleques e sorrisos só pra fotos do exterior.

filhos de pais sem marcas

diferenciação começa no nome que é uma marca ou, melhor dizendo, no nome que marca.

Ikea, rede de loja de moveis, Moet, marca de champanha, e Caramel, barra de chocolate da Cadbury, são alguns dos nomes exoticos escolhidos para bebês na Inglaterra.

A tendência de batizar crianças com marcas nao é nova, mas a cada ano mudam as preferências dos pais. Segundo a Bounty, de produtos infantis, cresceu 20% em relaçao ao ano passado a atraçao de pais e maes por nomes fora do comum. A empresa pesquisa os registros de nascimento e encontrou outras opçoes fora do convencional - Tiger, Fire Lily, Paprica, Tudor, Apricot, Rivers, Skylark e Bambi. Para as meninas, aparece ainda Levi.

A preferência por nomes inesperados, sugere a pesquisa, seria um movimento dos pais no sentido de dar aos filhos um destaque e um diferencial no futuro.
brand republic, via bluebus

dar nome aos filhos, estrambólicos ou para, dar destaque e um diferencial no futuro é uma prática brasileira das classes “ ditas baixas” .

e tome criança condenada ao escárnio e estigmatização por conta dos “um dois três de oliveira quarto, judas hitler e por aí vai. a ponto da liberalidade nos cartórios ter tomado um simancol com poder de veto a coisas do tipo, mas nunca exerecendo a ditadura praticada em portugal onde os cartórios tem uma lista resumida dos nomes que podem ser usados, daí a redundância de joões thiagos, marias joão, pedros e manoéis.

como as nossas marcas são fracas, o gimmick da nova safra é apelar para a dobra das consoantes fora do alfabeto, os ipsilones, dabliús e kás. então tome de rayssa, creysson, washyngton, clyeydson, karlos, istephanye, keyla, mari(curioso caso
onde a fonética suplanta a ortografia)e creysson, sim senhor.

mas nem assim certos clientes e agência se tocam na hora de criar, selecionar, escolher, nomes.

e tome filhos de pais sem marcas.

quase sem espinho

O Clube de Vinhos Winept e a Oficina do Livro apresentam na próxima Quarta-Feira, dia 23 de Novembro, pelas 20 horas, num jantar no restaurante Vírgula, em Lisboa, o vinho Rosa Brava. O vinho tem o título do romance histórico, da autoria de José Manuel Saraiva, tendo como protagonista D. Leonor de Teles e a sua ascensão no reino de Portugal.

O preço por pessoa, menu de degustação e vinhos, é de 70 Euros, podendo a liquidação ser efectuada por cartão de crédito ou transferência bancária para o NIB: 0079.0000.17679597101.14. As inscrições para o evento podem ser efectuadas através do E-mail info@winept.com ou do Telemóvel 912548000 .Os vinhos apresentados no jantar são do enólogo Carlos Campolargo - Arinto 2004, Pinot Noir 2004, CC 2004 e o Rosa Brava.

Rosa Brava 2004

"Pombeiro era uma localidade situada a sul da serra do Caramulo, a poente dos Montes Hermínios, a norte das serranias da Lousã e a nascente... dos vastos campos do Mondego que se estendiam até ao mar."
É aí que o autor de "Rosa Brava" fixa a residência de Leonor Teles, depois do casamento, dando início a uma das mais belas histórias da literatura portuguesa contemporânea. Um romance baseado na investigação histórica que, por entre intrigas palacianas, amores, traições e guerras com Castela, reinventa o tumultuoso reinado de D. Fernando. Das polémicas e fascinantes personagens aos acontecimentos que redundam na revolução de 1383-85.

Foi pois com aquelas coordenadas que, há cerca de um ano, obtida a necessária concordância do editor, iniciamos a busca de um vinho digno de ostentar o nome. Par para esta história. Emancipado, terroso e sedutor. De certa forma, um vinho fora do seu tempo, como a heroína do romance, sem aceitar cânones de época ou de origem. E, como ela, indiferente ao juízo popular, elitista até, ao deixar o marido para gozar a vida de riqueza e luxúria da Corte.

Porque também ele, o vinho, é alheio à crítica e gostos vigentes. Foi escolhido para os sócios; pensado para presentear, em exclusivo, essa estirpe de apreciadores, na quadra que se aproxima.

Por isso, se espera fruta, o melhor é esquecer. Aqui, não é disso que se trata. Pelo contrário... A localização e características enunciadas, o experimentalismo alheio a regras, depressa nos levaram ao bairradino Carlos Campolargo. Seduzindo-nos aí a bela adaptação da Syrah à vinha designada da Costa. Muito mais especiada, terrosa e mineral que a habitual expressão
frutada da casta.

Região – Bairrada

Castas – 100% Syrah

Estágio – 12 meses barricas de carvalho francês do 2º ano

Teor Alcoólico – 13,5%

Produção – 700 garrafas

Enólogo – Carlos Campolargo

o espinho da nota é saber que por 70 euros muito publicitário vai continuar na ginginha. ate o próprio.

visto de saída

a maior parte do tempo em nossa profissão estamos correndo alucinadamente para cumprir prazos só pensando em descansar. e haja corrida pra chegar, geralmente, a nenhum lugar.
quando a hora do descanso chegar, muita gente vai estar querendo correr até o não poder mais.
esforço de sísifo ?

terça-feira, novembro 22, 2005

reconhecimento prévio

em qualquer roda é fácil reconhecer um jornalista: é o que está falando mal do jornalismo. millor fernandes.

e eu que pensava que isto só acontecia com publicitários, gente de teatro, músicos, mulheres mal fodidas. enfim, é mal da raça. ô raça. menos mal.

sim, tinhamos culhões

1. Diretor de arte de primeiro nível, era também um excelente pintor. E valia a pena conversar com ele: tinha sempre uma pitada de bom humor para alegrar o papo. Só não gostava de conversar sobre problemas que convulsionavam a vida nacional. Nessa hora, caía fora.

Os tempos eram difíceis. Alguns temas tinham de ser conversados em voz baixa, somente na presença de pessoas de confiança. Estávamos em plena ditadura. “Tenho mulher e filhos, não posso me arriscar”, justificava. E fugia, quando a conversa descambava para a política.

Um dia transitava pela rua Manoel da Nóbrega, filha ainda pequena no banco de trás. Preocupado com ela não percebeu que passava em frente do quartel ali instalado na época. E não diminuiu a velocidade, que já era pequena. De repente, os vidros do carro foram estilhaçados. Eram tiros, disparados por um soldado qualquer.

A partir do dia seguinte, na agência, depois de contar o caso, entrou nas rodas onde o regime ditatorial era discutido.

2. Talvez você não saiba, mas a primeira manifestação pública pedindo o retorno à democracia foi feita, através de anúncio, por publicitários. A segunda também foi por publicitários, e saiu de memorável declaração feita pelos participantes do III Congresso Brasileiro de Propaganda. Vladmir Herzog era também era publicitário, chegou o departamento de RTV da Thompson.

Geração de autênticos cidadãos, era aquela. Destemida, não se furtava em se manifestar sobre assuntos importantes relacionados com os destinos do país ou com a própria profissão. Saiu do III Congresso certa de que o IV, marcado para a Bahia, teria como tema central a regulamentação profissional. Infelizmente a ABAP – sempre ela! – abortou a iniciativa. Só que naquela época estavam reunidos em torno dessa entidade líderes de fato, reconhecidos pelo setor. Criticados, muitas vezes, sim, mas respeitados.

3. E hoje? Hoje estamos assistindo um fenômeno oposto. Publicitário envolvido com questões nacionais só aparece quando ocorre um escândalo. Que triste!

Mas há exceções. Uma delas se chama Consuelo de Castro, que a imprensa chama de dramaturga. (Chamaria de publicitária se ela estivesse envolvida em algum escândalo cabeludo).

Consuelo e eu trabalhos juntos, na Thompson. Depois nos reencontramos na Almap. Juntos, fizemos – modéstia à parte – bons trabalhos criativos.

Consuelo foi perseguida pelo regime militar, chegou a ser presa, mas jamais perdeu o entusiasmo. Nem fugiu à sua condição de cidadã. Continua assim até hoje.

Semana passada, por exemplo, liderou manifestação de solidariedade a José Dirceu. Não importa se está certa ou errada, nem aqui é foro adequado para se discutir isso. Importa que ela não se omite.

Mas muitos de nós fazemos exatamente o contrário.

4. Vamos nos esquecer das questões políticas. Vamos nos centrar na nossa profissão.

Estão aí na ordem do dia dois assuntos da maior importância: regulamentação profissional e IV Congresso. O primeiro, porque diz respeito diretamente ao nosso destino. O segundo, porque estámos vivendo um momento em que a comunicação de marketing sofre pressão de todos lados. Perde prestígio todo dia. Ela e todos os que nela trabalho.

E o setor está quieto.

5. Ou melhor: os profissionais, estão quietos. Manifesta-se a ABAP, contrária a que se discuta o assunto, pra variar. Manifesta-se a Fenapro, contra também, porque tudo o que a ABAP manda, ela faz. E nós, os profissionais? Cadê os sindicatos que nos representam? (Aliás, você por acaso é capaz de me dizer o nome do presidente dessa entidade, o que ele faz, onde ela se realiza? Um doce, se me disser).

E não são só os profissionais. Os estudantes de comunicação também. Agem como se isso não tivesse nada com eles.

Como diz a sabedoria popular, as coisas não caem do céu. É preciso conquistá-las. E pelo que percebo, ninguém está a fim disso.

Um dia vão perceber que, a exemplo do que ocorreu com aquele diretor de arte, estão tomando tiros pelas costas. Aí, os vidros do carro que carrega sua indiferença estarão totalmente estilhaçados. E talvez seja tarde demais.

Vejo isso e fico com vontade de cantar aquela música consagrada pelo Vicente Celestino:

“Acorda, patativa, e vem cantar. Relembra, as madrugadas que lá vão...”

Será que somos cidadãos ?, do Eloy Simoes*

*Especialista em comunicação de marketing, jornalista, professor e consultor, responde hoje pelo projeto mercadológico do Sistema Integrado de Comunicação da Unisul, em Santa Catarina.

avestruz voa. a conta também**

A memória curta do brasileiro permite uma reedição de golpes corporativos à moda da extinta Fazendas Reunidas Boi Gordo.


“Conheço gente que perde mais tempo comparando quando compra toalhas de papel do que quando faz investimentos.”
(Arthur Levit)

Esta história começa no ano de 1996, com a contribuição de uma novela da Rede Globo, intitulada “O Rei do Gado”. Protagonizada por Antônio Fagundes, alcançou elevados índices de audiência, conferindo grande visibilidade a um novo tipo de negócio: os ativos rurais.

Sem sair de casa, sem a necessidade de transitar por estradas de terra, pisar o barro, mexer com adubo ou ração, investidores de todo o país viram-se seduzidos por uma nova modalidade de ganho patrimonial representada pela aquisição de boi ou frango para engorda e abate. As empresas ofereciam ganhos expressivos, muito superiores às aplicações tradicionais em renda fixa, lastreadas no ganho de peso do animal.

O conto prossegue da seguinte forma. Em maio de 1998 foi decretada a falência da Gallus Agropecuária, com passivos da ordem de R$ 35 milhões e cerca de 3 mil investidores lesados. O controlador da empresa seria posteriormente condenado a nada menos que doze anos de prisão.

Diante desta ocorrência, a CVM, Comissão de Valores Mobiliários, que regula o mercado acionário no país, resolveu intervir nos chamados Contratos de Investimento Coletivo (CIC), instrumento jurídico utilizado por estas empresas para promover a captação de recursos. E o maior rigor na fiscalização fez outra vítima. Agosto de 1999 marcou a insolvência da Fazendas Integradas Ouro Branco, baseada no Tocantins, que prometia uma rentabilidade de 12,8% em apenas quatro meses através da venda de leite de vaca.

Mas o golpe fatal no setor deu-se apenas anos depois, mais precisamente em 16 de outubro de 2001, quando a Fazendas Reunidas Boi Gordo entrou com pedido de concordata preventiva (convertido em falência em abril de 2004). Seu proprietário, Paulo Roberto de Andrade, condenado duas vezes por assalto a mão armada e quatro anos cumpridos em reclusão, legou dívidas superiores a R$ 1,2 bilhão. Mais de 20 mil investidores viram suas economias irem literalmente para o brejo – e 89% deles eram pequenos poupadores, com aplicações de até R$ 50 mil.

Pode ser uma expressão do tipo chavão, mas o fato é que nós, brasileiros, realmente temos memória curta. A bola da vez chama-se Avestruz Master, que em sistema similar ao relatado nos casos acima, propagandeia aos incautos rendimentos de até – pasmem – 11% ao mês.


A empresa cresceu com pujança nos últimos cinco anos. Apresenta sete filiais espalhadas pelo Brasil, além do Distrito Federal. E teve sua falência requerida recentemente – e seus sócios, prisão preventiva decretada – após uma sucessão de compromissos não honrados e cheques sem fundos emitidos.
O caso está na fase inicial de apuração. Ainda são se sabe o montante do rombo que será identificado nas contas da companhia e nem o número de contribuintes lesados.


Só sei duas coisas. A primeira, é que nunca comi carne de avestruz, muito embora esta iguaria já devesse fazer parte do cardápio dos restaurantes de todo o país dado o volume de animais criados e supostamente comercializados pela tal Avestruz Master. A segunda, é que muita gente que apostou num negócio arriscado como este vai descobrir que não há mágicas ou milagres no mercado financeiro, pois quanto mais elevada a expectativa de ganho, maior é o risco.

Vão descobrir da pior maneira possível que avestruz voa...

Avestruz voa, por Tom Coelho *

*com formação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP, especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA-FEA/USP, é empresário, consultor, professor universitário, escritor e palestrante. Diretor da Infinity Consulting e Diretor Estadual do NJE/Ciesp .Mais Tom Coelho no www.tomcoelho.com.br.

** conta atendida pela marta lima. com o episódio, descobre-se que uma coisa era verdade: carne de avestruz não engorda.

segunda-feira, novembro 21, 2005

saci

a pessoa é para o que nasce.
agora é quase moda afirmar isto.
será mesmo?
quanto a mim, não tenho mais dúvidas de que sou para o que não nasci.
fiasco ?

pau na bunda dos publicitários

PIRUETAS PUBLICITÁRIAS

Agências inventam modas e a TAM pagou o pato

Pergunte-se aos editores, secretários de redação e redatores-chefes dos jornais o que mais os deixa indignados. A resposta deve ser unânime: a nova bossa das agências de publicidade que, para mostrar serviço aos clientes, inventam as mais esdrúxulas colocações e formatos de seus anúncios nas páginas dos jornais.

Quando a bagunça ainda não estava instalada e os veículos impressos tinham força para resistir aos surtos de invencionice dos departamentos de criação das agências, a publicidade obedecia a uma rigorosa paginação para respeitar a diferença entre matéria paga e matéria informativa: os anúncios eram arrumados nos cantos das páginas. Na pares, anúncios no lado esquerdo; nas ímpares, no lado direito; sempre organizados pelo tamanho, como pirâmides – os maiores embaixo.

A crise econômica dos últimos anos fez desandar a praxe e a tradição, criadas – diga-se – para defender o interesse do leitor. Como os jornais andavam com a língua para fora, passaram a aceitar anúncios em qualquer formato e em qualquer lugar das páginas. Verdadeira chantagem. Este Observatório manifestou-se anteriormente sobre o assunto porque o delírio criativo dos "criativos" produzia aberrações que comprometiam a imagem do jornal como o ícone da mídia impressa.

Felizmente, o feitiço virou-se contra o feiticeiro e quem pagou o pato foi a TAM. Nas suas edições de quinta-feira (10/11), os três jornais nacionais foram obrigados a inserir mais uma experiência amalucada: no alto de uma determinada página, ao lado da manchete, colocaram um jato da TAM e no rodapé desta página, estendendo-se até a página frontal, um anúncio da empresa aérea.

Os rodapés estavam dentro dos cânones, mas aquele jato recortado ao lado das manchetes produziu situações hilariantes, peças clássicas da antipropaganda.

Corpo e alma

No Globo (pág. 12) a manchete de oito colunas dizia: "Planalto admite: Lula assistiu DVD pirata". O que é que o leitor vai imaginar vendo aquele jato colado na manchete? No mínimo que nos aviões da TAM é possível assistir a DVDs piratas.

Na Folha de S.Paulo (pág. A8), a manchete de oito colunas proclamava: "Agência de Valério lançou nota fria, diz CPI". Com aquele jato da TAM colado ao título, nosso leitor está sendo induzido a acreditar que a TAM, empresa séria, acaba de ser envolvida no valerioduto.

No Estado de S.Paulo (pág. A10) a coisa ficou ainda mais grave porque o aviãozinho da TAM ficou em cima do título "Adauto confessa que sempre usou caixa 2". Como se trata do ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto, a alusão é direta e inequívoca: a TAM está no esquemão do caixa 2 do ex-ministro em troca de facilidades na sua pasta.
Se no início desta moda a Associação Nacional de Jornais (ANJ) tivesse reclamado contra os abusos cometidos contra os direitos dos leitores dos jornais, os "criativos" das agências já teriam há muito reorientado a sua criatividade. Mas como a ANJ aderiu de corpo e alma à máxima "ao mercado, tudo" (certamente sugerida pelos consultores de Navarra-Opus Dei), os abusos só acabarão quando as gafes forem ainda maiores. Talvez seja tarde demais.

alberto dines no seu posto privilegiado do observatório da imprensa

pau na moleira do alberto dines

o sectarismo do observatório da imprensa anda produzindo das suas.

dia destes, foi a marinilda carvalho, ao produzir peidorrada chinfrim, em estado de choque contumaz. destrinchou, com verve transmudante, um falso viés que não faz nem cosquinhas na game generation, target heavy user do comercial comentado. mas reconheçamos, com que empáfia a senhora cagou regras no bidê — ver post, marinilda já foi nome de vedete, em 17/10/2005.

agora, dines, mal do fígado, perde as estribeiras e valorosidade ao produzir corte epistemológico fundado numa visão deontológica que confirma não só o padecimento de mosquetadice como a pratica da auto-blefarrorafia, ao terçar armas com autoridade e o azedume costumeiro dos decanos com disopia. e, com tal fúria, que resulta bisultriz.

seu clamor esbarra numa vexamosa visão de paralaxe, sendo ele figura do batente: não são publicitários, tampouco os do departamento de criação, nem os da “ arte do jornal” , que diagramam o mesmo. portanto, a pirueta publicitária o é jornalística tão-somente. não há menor cumplicidade no caso, muito menos intenção de autor.

constantemente a criação assiste, de mão amarradas, a tais“ barrigas”. típicas e referenciais da falta de sensibilidade, leia-se da falta de cuidado e responsabilidade profissional mesmo, capaz de fazer as mais inverossímeis combinações com “base na aleatoridade”. deixando clientes e agência, mais do que os leitores, que não sabemos se subliminarmente fazem a associação ou não, de olhos esbugalhados. o que, convenhamos, não é, nem nunca foi o objetivo fulcral do anúncio.

as direções comerciais dos jornais, day after, apresentam desculpas, incluindo as da redação. e, no máximo, oferecem reposição, quando deviam ser processados criminalmente. pois o dano, algumas vezes, é irreparável. bons tempos então, em que secretários de redação impediam disparates como estes, esporrando em alto e bom som cagaço dado nos envolvidos. quando não pontapeteando-os bunda a fora. mas não se fazem jornalistas como antigamente, nisto estamos de acordo, não senhor dines? publicitários idem ?

pasmo fico muito mais com o foco dado por ele e o vocabulário retrô que inclui “bagunça, a nova bossa, exdrúxulas colocações e formatos, surtos de invencionice, e a “ aula” dos anúncios arrumados(sic!) nos cantos das páginas, pares, no lado esquerdo, ímpares, do lado direito, e a citação às “ pirâmides”. o que nos leva a constatar que o rei alberto confunde, tal como o observatório, sisudice com seriedade – característica maior na corrente de produção dos textos, formatados quase que “acadêmicamente” - obtusidade com objetividade, imobilismo com pragmatismo, informalidade com falta de estilo, descontração com falta de educação, originalidade com porra louquice, moderno com modernoso e , acima de tudo, conservadorismo com sinônimo de jornalismo responsável. o que é carnicão de mal muito maior. e que não gostaríamos de imaginar tomando-lhe o corpo da mente, apesar do reacionarismo escarrado à fogo e o apego patomaníaco a regras em desuso – não se trata de culpa de quem - enfeixados no seu parti pris.

jornalistas manifestarem uma eterna dor de corno por publicitários é fato que não merece nem terceiro caderno. conflitos entre redação e comercial, extensão da agência ? já fizeram muitas altas e baixas no ofício. a estupidez avia a maioria dos parágrafos que abordam o assunto. e as farpas, acabam por cravarem-se nas mãos de quem as manejam. principalmente daqueles que enxergam a publicidade como profanação do espaço editorial. como se a decência e integridade do jornalismo, para não dizer da eficiência, estivesse na salvaguarda do maior espaço para editoração, arrumadinho, bem arrumadinho, segundo alberto. espaço que quando se encolhe para anúncios, obedece e sustenta-se nas vigas de tabelas nascituramente pensadas para ceder. e que não foram fruto, decididamente, de nenhuma pirueta ou invencionice publicitária.

se é pulhice dizer que o jornalismo quanto mais saudável o é quanto mais saudável forem as suas finanças, também isto não foi gag de publicitário. talvez, sim de jornalista. mal resolvido.

deontologiamente aflora sempre o maniqueizamento da publicidade quando a coisa vai mal na redação. responsável, quase senso comum, pela debilidade jornalística que abateu-se período pós didatura, onde compromisssos com o regime endividaram-no “para sempre”. isto posto, o jornalismo é tão mais puro quanto menos publicidade houver(sic!), como se não houvesse um consentimento prévio dos jornais em fazerem-se vendidos por algo bem mais grave do que centímetros por colunas que sacrificam até a primeira página, vergonha mór, para alguns, ó tempos, ó costumes.

como jornalista e publicitário, não necessariamente nesta ordem, vivi as duas questões dentro e fora da redação. muito mais graves em mercados onde os jornais de tiragem diminutas, e tendo como esteio a publicidade oficial, fazem do coração tripas. principalmente em mercados onde as igrejinhas do jornalismo são prepósteras a defesa da integridade dos mesmos. apelando, ainda hoje, para o entreguismo de cabeças não genuflexórias.

nada mais velho do que um jornal de hoje, hoje. nada mais velho do que um jornal de ontem, ontem. o que por sí só é significativo dos novos tempos. construir barricadas em nome de um jornalismo probo, com base na refutação de formatação de diagramação não conservadora, é tornar-se réu confesso da incompetência de gerir um ferramental que oferece um sem-número de possibilidades e, sobretudo, a ampliação da percepção visual de uma nova geração de leitores que contradiz certos paramêtros de facilitação da leitura, cujas coordenadas espaço-temporais são objeto de estudo da neurologia avançada.

recusar a ver que com inteligência tudo, ou quase tudo, é permitido, inclusive no âmbito das relações comercial-redação é padecer do jamais vu. mortal para jornalistas de qualquer idade.

portanto, pau na moleira do alberto dines. aliás, na moleira não: pau na bunda mesmo. e não se trata aqui de exercer o oportunismo como procaz a busca de aparição iconoclasta. mas sim, de aprender – ainda é tempo – a não ser, de mestre tão loquaz, do bundão, a dita cuja.

domingo, novembro 20, 2005

quase punheta ou celso blues boy

o espermatozóide que me trouxe à tona,
por bazófia ou desleixo da inocência,
cismou de dar vantagens aos concorrentes,
do tipo ora dêem a largada que eu só depois começo a corrida

e sabe-se lá quantos centímetros ou minutos o sacaninha deu de lambada

por conta disso
corro até hoje
atrás da vida
sensação
de pela metade
cumprida

ufa!

cu de sucesso ou sucesso cu ?

no país das tuberosidades esquiáticas, nosso maior produto de exportação, a bunda, de norte a sul da terra brasilis prepara-se para invadir o domingo sem fronteiras, inserida na paisagem já de forma não tão silvestre.

é domingo e o brasil já acorda de pau, ou seria cu duro ?

já vem da sexta e sábado enfunado por pagodes, forrós, bailes funks, encontros bregas, onde de tudo é feito para mostrar a bunda no quase-pleno exercício da sua elasticidade. nem fudendo você faria igual. inda mais grupalmente. daí o sucesso cu destas bundas de banda ou seria bandas de bunda ?

tal manifesto já se inicia no aperto dos trens, ônibus e metrôs, fálica recompensa, onde é feita a consubstanciação da fome com a vontade comer na comiseração pagã no uso do transporte público

não bastassem as “peculiaridades” das nadegas made in brazil, que a tornam uma marca registrada, não registrada — qualquer dia japoneses a registram, como registraram o pequi,o sapoti, nem sei ainda se não o ti-ti-ti - el culo brasileiro, reconhecido até de costas, junta-se a outro cúmplice de sucesso, os biquinis nacionais. aqueles que ainda mais delineam esta mistura de músculos e adiposidade, montadas hoje sobre escolioses fakes e outros artifícios, que vão das calças com recheio a recheios sob intervenção do bisturi, amolegadas próteses de silicone que fazem a redenção das “ tábuas de passar, “ anátema e desgraça de quem não tem bunda neste país. o que por si só significa muito seriamente a possibilidade e a diferença ou não de por tudo ou nada comer e ser comida, garantia portanto de sobrevivência pra muita gente, que desde pequena exercita o requebrado das cadeiras, o baloiçar do pandeiro, o mexe-remexe do cu, desde a mais tenra idade, sexualizando movimentos que alijam dos rebolados, outrora apenas trejeitos infantis, qualquer leitura que não seja a prévia de que com um rabo destes vai longe ou já se vê que a menina tem futuro. reedita-se, principalmente nas periferias, o chamado às “reservas de comida”. ter uma bunda vistosa, ainda que “raimunda”, é passaporte pra ficar por cima mesmo que o tempo todo por baixo, com peso nas costas auto-pisoteando-se de sã consciência no flagelo do prazer ? tal qual pigmeus, ciosos da exibição do troféu, o macho nacional escolhe as fêmeas pelo tamanho da bunda. mas não como caracterização da bunda como reserva de alimento, como nos dizem estudos antropológicos sobre tribos e tribos. a comida é outra. sempre o foi.

bunda urdida ao regaço deitada no bagaço. massa de sangue, suor e caldo de cana; nudez entrecortada na folha dos canaviais, pregas garimpadas por látegos em busca da pedra-cu-já-preciosa, urro e estupro, sina decorrente do caldeamento de europeus, negros e índios, como sempre os negros entrando com a maior parte de semba, suor e sofrimento, para nos dar o prazer do bumbum arrebitado.

a bunda brasileira é a bandeira que fala ao pau de todo o mundo. comissão de costas, embaixada, por tantos mastros empalada. mas não liberta enquanto imagem de um país que cada vez mais brocha e se masturba ao vendê-la.

sucesso cu ou cu de sucesso ?

Ao comentar sobre seu meticuloso hábito de contar cada uma de suas relações anais (colecionando numa caixa as camisinhas usadas em cada episódio) Toni Bentley, autora do recém-lançado A Entrega: memórias eróticas (Objetiva, 2005, 220 págs.), justifica-se como sendo “anal”. Terminada a leitura, entretanto, percebi que a autora está muito além de ser uma simples freudiana, e que, de fato, parece ter desenvolvido uma verdadeira “alma anal”, termo que pode ser explicado pela intensa relação espiritual/existencial que Bentley estabelece em seu “sórdidos” relatos.

O livro, que já se encontra em décimo lugar entre os mais vendidos de não-ficção no Brasil, envolve um relato pessoal das experiências eróticas da autora, desde uma breve introdução acerca de seu defloramento, suas primeiras relações sexuais insatisfatórias, seu casamento fracassado (e traumático) e diversos relacionamentos monogâmicos infrutíferos, até sua grande descoberta sexual com o Homem A, com quem vive uma relação por cerca de três anos. E a tal grande descoberta da narradora nada mais é que o intenso prazer que encontra nas relações anais mantidas com seu amante. Mas fica claro, pela intensidade e pela complexidade que se é dada por Bentley à sua relação com o Homem A, que não se trata apenas da descoberta de um grande prazer, mas um desabrochar espiritual. A ex-bailarina, ex-esposa e ex-boa-moça tem uma formação ateísta que a leva a procurar de diversas maneiras por alguma crença divina.

Além disso, carrega traumas de uma criação paterna rígida e carente de amor, o que, segunda a própria narradora, pode ter sido grande o fator que a levou a desenvolver seu caráter tão oblíquo e tão frágil, e a ser uma pessoa com tantas dificuldades de relacionamentos. E essa mulher de vida sexual tão atribulada acaba encontrando a terapia e a “cura” de seus fantasmas na sua “porta de saída”: numa relação (jamais monogâmica) de prazer transcendente, masoquismo e obediência temperada, Bentley viaja para dentro e fora de si, harmoniza seus yin-yang , tem seu encontro consigo própria e com Deus; a sua luz interior, a revelação de sua espiritualidade, é acesa pelo seu buraco obscuro!

E podemos pensar, sim, que essa paixão não é novidade tão grande, pois o ânus é mote pra lá de cantado e recantado na literatura erótica e/ou pornográfica: o renascentista Pietro Aretino já cantava repetidamente em seus sonetos o seu grande apreço pelo sexo anal (“E Deus perdoe a quem no cu não foda”), e também Sade, na voz do cínico Dolmacé, disserta longa e apaixonadamente sobre sua devoção pelo ânus. Mas fique claro que Aretino e Sade, além de lidarem com uma tradição pornográfica de estereótipos, passam ao leitor uma visão masculina do assunto. De poucas vozes femininas que já vi falando sobre a “paixão obscura” (e como uma revelação de prazer), lembro talvez apenas de Adélia Prado, em seu poema “Objeto de Amor”:

“De tal ordem é e tão precioso/ que vou dizer-lhes
que não posso guardá-lo/ sem a sensação de um roubo:
cu é lindo!/ Fazei o que puderes com esta dádiva.
quanto a mim dou graças/ pelo que agora sei
e, mais que perdôo, eu amo.”

Registre-se, então, que recentes estudos de sexologia já se aprofundam bastante nos assuntos das relações anais (e não mais como perversões, desvios ou tabus), esquadrinhando-se e diferenciando-se, inclusive, os orgasmos anais feminino e masculino. Mas a experiência de vida de Bentley parece adiantar esses estudos em anos (ou ânus...).

Outra característica de não-novidade em A entrega é a da autobiografia erótica/pornográfica, já desenvolvida por Casanova em suas memórias, pelo relato anônimo (e duvidoso) do vitoriano Walter em Minha Vida Secreta , por nomes consagrados da literatura norte-americana como Frank Harris, Henry Miller, Erica Jong e Anais Nin, por escritoras brasileiras de 70/80, como Adelaide Carraro, Cassandra Rios e Márcia Denser, e, recentemente (num claro indício da total libertação sexual e pessoal feminina), por nomes como Melissa Panarello, Ana Ferreira e Sabina Anzuategui. Mas Toni Bentley, em sua incursão, mais uma vez parece ir além de todos esses nomes, seja pela ousadia, seja pela intensidade com que relata sua descoberta e sua paixão.

E em meio a tantas descrições de coitos anais (ela conta um total de 291 do início até um fim de seu caso com o Homem A) e reflexões e apologias ao buraquinho, o livro apresenta ainda um caráter de manual informativo. Bentley, com base em vasta experiência de campo, disserta sobre diversos “tipos” sexuais peculiares (como o Farejador de Vagina, apaixonado pela prática do cunilíngua), sobre práticas e preferências sexuais mais “comuns” como o menáge à trois , o swing , o 69, divagações sobre tamanhos de pênis, etc. Também apresenta dados e estatísticas acerca da sodomia: eu mesmo não fazia idéia, por exemplo, de que até 1962 todos os estados norte-americanos tinham leis severas contra a prática sodomita, e que em treze deles ainda vigoram leis desse caráter, tendo havido, só na Carolina do Sul, entre 1945 e 1974, 146 processos e 125 condenações! A autora ainda fala sobre tipos de lingerie e sobre o KY Gel, deixando inclusive dicas de uso e compra: “Conselho para quem dá o cu: use óculos escuros para comprar KY e não se vire na fila do caixa: estão todos olhando para sua bunda, sem acreditar” (pág. 111).

A Entrega , enfim, como todo grande auto-relato erótico, envolve a história de uma paixão, um grande caso, com seu desenrolar, sua decadência e seu fim (mas que deixando uma clara mensagem de renovação do espírito humano e continuidade da vida). Pode ser visto, afinal, como uma bela e intensa história de amor, escrita com estilo e alma. Um livro para ser lido sem preconceitos e/ou julgamentos morais, mas com a mente e o espírito “escancarados”.

Leônidas Pellegrini, sobre” A Entrega” de Toni Bentley, no Digestivo Cultural.

sábado, novembro 19, 2005

sucesso

neste país um homem que chega ao fim dos seus dias tendo conseguido tomar banho com regularidade e se alimentar duas vezes por dia, pode ser considerado um vitorioso. millor

pelo andar da carruagem vamos ter muito publicitário fedorento por ai.

prêmios, quem se importa ?

Os prêmios são um bom critério para a escolha de uma agência de propaganda ?

Todo anunciante, toda agência e todo profissional gostam de ter seu trabalho reconhecido com algum tipo de premiação, mas o entusiasmo pelos prêmios da agência na hora de analisar seu trabalho pode camuflar um sem-número de distorções.

A agência pode destinar grande parte de seus recursos à obtenção de prêmios, ficando reduzida em sua capacidade de resolver problemas de comunicação para os clientes.

A agência pode, em determinado momento, ganhar um prêmio muito importante e de grande projeção, mas terß um portfólio de cases e campanhas muito aquèm desse único trabalho premiado.

Nem todos os prêmios de propaganda ou de marketing são críveis, já que alguns privilegiam aspectós políticos e econômicos do mercado e não necessariamente a qualidade criativa do anúncio e ou a eficácia da solução de marketing.

O critério mas interessante, então, e que provavelmente evitará futuras crises entre você e a agência escolhida, é a relação das campanhas feitas pela agência que foram bem sucedidas junto ao público e a análise do resultado que elas proporcionaram aos clientes.

in entenda propaganda, 101 perguntas e respostas sobre como usar o poder da propaganda para gerar negócios. do julio ribeiro, josé eustachio e equipe talent. editora senac, 2003.

prova dos nove ?

Confira agora a relação das agências mais premiadas em festivais internacionais de publicidade, em 2005.

São 56 agências, já que há nove empatadas no 48o lugar.

The Most Awarded Agencies in The World in 2005

1. AlmapBBDO (Sao Paulo) (1)
2. TBWA\Paris (5)
3. Dentsu (Tokyo & Osaka) (6)
4. DDB London (4)
5. Crispin Porter + Bogusky (Miami) (3)
6. Del Campo Nazca S & S (Buenos Aires) (41)
7.DDB Germany (Berlin) (-)
7.Wieden + Kennedy (London) (2)
9. 180 Amsterdam (180\TBWA) (14)
10. TBWA\Chiat\Day (S. Francisco, New York, LA) (7)
11. Lowe (London) (19)
12. Bartle Bogle Hegarty (London) (32)
13. Euro RSCG Flagship (Bangkok) (12)
13= Taxi (Toronto) (-)
15= BETC Euro RSCG (Paris) (22)
15= Fallon (Minneapolis & New York) (37)
15= Saatchi & Saatchi (Bangkok) (22)
15= Springer & Jacoby (Hamburg) (-)
19= Abbott Mead Vickers.BBDO (London) (37)
19= Creative Juice/G1 (Bangkok) (-)
19= TBWA\London (11)
22. BBDO Bangkok (8)
23= DDB Canada (Toronto & Vancouver) (32)
23= DDB Paris (41)
25= Goodby Silverstein & Partners (San Francisco) (-)
25= Saatchi & Saatchi (Sydney) (41)
27= La Comunidad (Miami Beach) (15)
27= Mother (London) (-)
27= Ogilvy & Mather (Singapore) (17)
27= Rethink (Vancouver) (-)
27= TBWA\Singapore (27)
32= BBDO (New York & Chicago) (41)
32= BBDO Singapore (-)
32= DDB Brasil (41)
32= Net#work BBDO (Johannesburg) (22)
32= Ogilvy & Mather (Bangkok) (-)
32= S2 (Mexico City) (32)
32= Wieden + Kennedy (Portland, OR) (19)
32= Young & Rubicam (Buenos Aires) (-)
40= Arnold Worldwide (Boston) (9)
40= Euro RSCG (London) (-)
40= Jung Von Matt (Hamburg & Berlin) (15)
40= Leo Burnett (Chicago) (17)
40= Ogilvy & Mather (Buenos Aires) (41)
40= Saatchi & Saatchi (London) (-)
40= Scholz & Friends (Berlin) (37) -
40= TBWA\Japan (41=) -
48= DDB (Chicago, LA & San Francisco) (9)
48= DDB Espana (27=)
48= F/Nazca Saatchi & Saatchi (Sao Paulo) (-)
48= Hakuhodo (Tokyo & Osaka) (-)
48= JWT (Buenos Aires) (27)
48= Kolle Rebbe Werbeagentur (Hamburg) (13)
48= Leo Burnett (Prague) (-)
48= Lowe A&B (Buenos Aires) (-)
48= M&C Saatchi (Sydney) (-) -

(números em parênteses ( ) = ranking 2004)

querem aposentar o travesseiro

Conselho Nacional da Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) recomendou, no final da semana passada, a suspensão do comercial "Abraço", criado pela F/Nazca Saatchi & Saatchi para a cerveja Skol, da AmBev. A medida foi definida após o julgamento do pedido, que alega que o filme tem caráter discriminatório.

O comercial integra a redonda campanha da marca e mostra como seria o abraço se quem o inventou tomasse Skol. Os personagens colocam em prática um "abraço redondo", no qual as duas pessoas envolvidas apertam curvas do bumbum, uma da outra, com as duas mãos, de maneira delicada. Mas o problema não foi o das mãos nos bumbuns, mas sim a falta de mãos em um determinado bumbum. Explicando melhor: o filme mostra uma mulher, que pode ser taxada de feia, ter o "abraço" recusado por um dos personagens. Ou seja, ela é discriminada por ausência de atrativos estéticos, digamos assim.

A F/Nazca acatou a decisão tomada pelo Conar e, por meio de sua assessoria de imprensa, afirma que não irá recorrer da decisão.

notícia no bluebus.

o aldo rabelo deve estar adorando. mas se até o vinícius já dizia: " que me perdoem as feias, mas beleza é fundamental", como é que seu conar me vem com esta? com tanta coisa politicamente correta para se observar com mais proficiência no âmbito da atividade?
cara feia pra uns,só "usando o travesseiro". pra outros nem assim. apesar de que muita gente, e bota gente nisso, ter a tara. é a vida. é a real. que a propaganda nem propaga discriminatoriamente, apesar do estímulo a determinados modelos de beleza. aliás, ultimamente, o leit motiv tem sido, bela seja do jeito que você for. a beleza interior então que se cuide ameaçada pela publicidade ?

vai ser novo não foi ?

A novidade é que o consumidor mudou

Em Nova Iorque o ad:tech 2005. A chairman do evento, Susan Bratton, subiu ao palco para a apresentaçao de abertura usando asas. Era uma referência a grande novidade do evento, o ad:tech Connect Live, espaço para live networking entre os delegados, como se estivessem replicando nos salões do evento a experiência da comunidade virtual.

Esse ano, o ad:tech, que é um dos principais eventos de tecnologia e propaganda - e onde Blue Bus já apresentou seu case, em 2000, em Miami - conta com recorde histórico de inscritos. Sao mais de 8,000 pessoas. A 1a apresentaçao foi de Deborah Wahl Meyer, vp de marketing da Lexus, uma das principais marcas de veículos de luxo nos EUA, pertencente a Toyota.

Os blogs que estao acompanhando o evento - leia o Adrants - disseram que a executiva falou muito sobre marketing de experiência como uma alternativa viável para a dispersao cada vez maior da audiência - e haja dispersao. Comparou a tarefa de alcançar os consumidores em seus lares a uma expedição - com tecnologias do tipo TiVo a disposiçao, eles têm cada vez mais controle e mais voz para manifestar desejos e opiniões. Para ela, afinal, a ordem da vez em marketing é permitir que o consumidor experimente a marca, ao invés de empurrá-la sobre ele.

Eu concordo com muita coisa que ela diz, vale dar uma procurada na internet pra ler mais sobre a palestra. Só discordo de uma coisa. É muito bonito a gente ficar querendo cunhar novos termos marqueteiros pra tentar deixar nossa assinatura na História, mas a verdade seja dita é que propaganda é propaganda, marketing é marketing - queremos criar necessidades onde antes não havia e diferenciação através da emoçao. A novidade é que o consumidor mudou demais seu comportamento e a gente tem que pensar diferente. Mas, no final, o objetivo é o mesmo. Construir marcas e vender - nao é mesmo?

fernanda romano para o bluebus

sexta-feira, novembro 18, 2005

a obscena senhora D

o olho dos bichos é uma pergunta morta.
hilda hilst in com meus olhos de cão.

reverso rafeiro

(p/ o edgar)

a uns eu ouço
a outros não

a uns balanço a cauda
a outros balanço não

a uns eu dou a pata
a outros arranco a mão

a uns eu sou só festa
a outros solidão

a uns sou só estranho
a outros gratidão

a uns eu sou destino
a outros só desatino

a uns eu sou estrêlas
a outros só areia

a uns eu sou sem dono
a outros cadeia

a uns eu sou a vinda
a outros despedida

a uns eu sou a cura
a outros a tal ferida

a todos eu sou um cão
a uns sim
a outros não

lisboa, 16,07,1996

lágrima fudida

edgar, 1995-2005, ontem.

alma de quatro patas

(....)
sei-me de cães
e os sei de mim
meus duplos
com sua ardência quádrupla
sua alma quadrúpede
neles
assim comigo
a desdenhar máscaras
é o voto que de nós poreja
ai, não há cão de rua
que meu sósia não seja!.

ricardo máximo in cantos erectos, editôra uapê, barra da tijuca

igor, o terrivel

igor - que encanto de pessoa, é o poodle-toy de minha filha! acorda alegre, dorme alegre, topa tudo: carinho leve, tapa na cara, brincadeira idiota, chega-pra-lá, não enche que agora tou lendo. mas, de repente, a tristeza se insinua - olho igor, igor me olha - por que naõ fala? por que não me diz o que sente, não me revela suas observações psicãológicas, não me faz penetrar um pouco mais no (seu) mundo cão ? tristeza puxa tristeza se, pior, não puxa angústia. foi o que aconteceu com minha tristeza quando me bateu a idéia pertubadora de que um dia, daqui a não muitos anos, esse bebê-cão vai ser mais velho do que eu. como ele envelhece sete pra cada ano de envelhecimento humano basta eu viver mais uns dez anos e olharei pra ele lamentando a decadência que, tenho certeza, ele agora lamenta em mim. oh, god!- oh dog! millor fernandes em 1989.

quinta-feira, novembro 17, 2005

remela

Minha tarefa … é fazê-lo ouvir, fazê-lo sentir — e, sobretudo, fazê-lo ver. Isso é tudo, e tudo é isso.

joseph conrad, prefácio para the nigger of the narcissus, citado em manual do roteiro do syd field, objetiva, 1995, do original screenplay, 1979,1982

cricket-se quem puder

Você sabe jogar Cricket?

Bem, se você não é inglês não deve saber de certeza. E por isso, não vai se armar em esperto para jogar o que não sabe. Não é mesmo? Então explique-me lá uma coisa, meu caro: Porque é que você, quando chega no consultório do seu dentista, adora dar palpites no que não sabe? Não adiante dizer que é mentira, porque sabemos que é verdade. Sabemos que chega ao consultório a dizer que o seu dente dói, mas que sabe como fazer aquela chatice parar de doer. Pede sempre, ao seu dentista de confiança, para você mesmo arranjar o seu próprio dente. Adora fazer isto, não é? Parece que dá-lhe um certo prazer, um prazer indescritível. Dizer que não é bem aquilo que o dentista disse, que sabe fazer melhor, e coisa e tal. Tudo bem, você até pode não gostar dos serviços do seu dentista. Mas existe bons e maus dentistas. Os bons sabem o que estão a fazer. É preciso escolher direito um bom dentista. Escolha esta, que se percebe logo na primeira consulta.
O que acontece, é que muitas das vezes esquece-se que aquele gajo estudou anos e anos, para poder arranjar os seus dentes. Esquece-se, também, que ele vai ser muito bem pago para dar uma solução aos seus problemas dentários. Você não é dentista. A sua especialidade é outra meu caro. Nunca pensou nisso, não é? Pois pense. Ou melhor, não pense muito não. Porque corre o perigo de querer fazer as campanhas que pega a sua agência para fazê-las. Deixe a sua agência trabalhar em paz para si. Confie neles como se estivesse no seu dentista de confiança. Em vez de atrapalhar o que a sua agência está a planear e a criar para a sua marca, vá aprender a jogar Cricket. De certeza, vai impressionar mais os seus amigos, do que dizer que mudou tudo o que a sua agência criou.

do amândio cardoso, fcb portugal. como se estivesse na sua olinda, neste pernambuco, brasil, de tanto brasileiro, cliente e agência de dente furado. o que dói tanto quanto o número de clientes, profissionais de marketing, e o que é pior, sim agências - ai! que esta doeu - que não sabem patavinas de cricket e ainda querem mandar no jogo palitando os dentes com aquele bafo que bem conhecemos.

dez mandamentos

(1) Marcas que influenciam a cultura vendem mais. A cultura é o novo catalizador de crescimento.

(2) Uma marca sem opiniao nao tem propósito. Tem que ter aroma, sabor. Ficar em cima do muro ficou velho.

(3) O consumidor de hoje lidera. Essa é a geraçao mais inteligente e com mais acesso a informaçao que já caminhou nesse planeta.

(4) Customizar onde e quando for possível. A customizaçao é o próximo grande acontecimento.

(5) Esqueça a transaçao, me dê a experiência. Deixe o consumidor surpreso todos os dias.

(6) No ponto de venda seja claro. Preocupe-se obsessivamente com a apresentaçao de seu produto.

(7) Entenda onde sua marca é vulnerável sempre.

(8) Responsabilidade social nao é uma opçao. Escolha uma causa imediatamente.

(9) Rapidez, ritmo e paixao fazem a diferença.

(10) Inovaçao é a palavra da vez.

Os 10 principios de Simon Williams do Sterling Group, consultoria de branding com escritórios na Inglaterra, Ásia e EUA. pela Fernanda Romano, no bluebus.


assim como os dez mandamentos incrustados na pedra, raios! ninguém cumpre.

pistache

almap está com tudo e não está prosa.
eleita pela segunda vez consecutiva como a agência mais premiada em festivais de publicidade. a notícia do guns report, já esfriou.
mas para além do fato da premiação em sí, da almpap frequentar um grupo que esteve presente neste ranking desde que ele existe há sete anos - AlmapBBDO (São Paulo, AMV.BBDO(Londres), Arnold Worldwide (Boston),Bartle Bogle Hegarty (Londres), DDB (Madrid & Barcelona),DDB (Londres),Dentsu (Tokyo & Osaka),Fallon (Minneapolis & NY), Lowe (Londres) – algumas sutilezas estão por trás do pensamento que move sua performance. como por exemplo entregar a conta do bradesco, por entender que não havia compatibilidade entre sua visão de comunicação e a visão de comunicação do cliente. e não me parece que tenha feito isto porque a almap é a almap tão simplesmente.

mais agências tivessem atitudes iguais a esta, das duas uma: ou o mercado seria muitíssimo melhor, profissional em toda acepção da palavra, ou seria um desastre total: o que não anda muito longe do que está se vendo, apesar dos números estarem côr de rosa para o momento.

incompetentemente gritante, cheira muito mal o suor gasto pela grande maioria das agências para conservar a qualquer custo contas em sua carteira quando não existe a menor afinidade com as mesmas. típico casamento por interesses. naquela fase de pré-separação, onde o único sexo que existe é o de um querer fuder o outro. e disto resulta que fodem a propaganda, o mercado, e de lambada, a percepção dos clientes e consumidores em geral, tal qual como acontece em cenas familiares.

se o leit-motiv da propaganda moderna é a segmentação e a busca de nichos de dierenciação para que diabos uma agência corre atrás de uma conta que sabe de antemão não se coaduna nem com seu perfil ou da boa propaganda?
para mudá-la? dirão alguns. como o faz toda a agência cheia de boas intenções? mas isto resulta? se, comprovadamente, as agências não conseguem mudar a sí próprias? o que nos remete ao pensamento citado ontem, por nádia rebouças que diz que não adianta fazer propaganda se você não consegue mudar a empresa. neste caso, mudar a sí própria.