segunda-feira, novembro 13, 2006

bonita camisa (de força) fernandinho

Curto e grosso: prémio nunca deveria ser objectivo, prémio deveria ser sempre resultado. Prémio é consequência, é reconhecimento do mérito, é festa no final da corrida, não é a corrida propriamente dita. Mas não é isso que ocorre no dia-a-dia dos publicitários. Por algum motivo que não percebo, desde a mais tenra idade profissional somos adestrados a ter uma verdadeira obsessão por prémios. E a acreditar que, por isso, somos diferentes. Lugar comum: publicitário bom é publicitário premiado. Mesmo que ele não pense assim, mesmo que ele não queira que seja assim. Não adianta muito se o país inteiro parou para ver um anúncio. Se este anúncio não ganhar um troféu ou uma medalha, não será reconhecido como bom pela comunidade publicitária. Mesmo que seja a própria comunidade publicitária o único agrupamento de pessoas a não reconhecer o mérito daquela peça. O que é uma coisa mais banal do que parece. Julgar o trabalho dos outros é sempre uma coisa difícil. Mesmo nos Óscares, que são julgados pela comunidade dos profissionais de Hollywood, é muito comum uma grande obra ser completamente esquecida e uma porcaria qualquer que não vai entrar para a história ganhar uma ou muitas estatuetas. A coisa também não fica melhor quando é o público a votar. Já vi prémios publicitários votados pelo consumidor e o negócio nunca é pacífico. Mais uma vez, os critérios de um lado e do outro não batem certo. E, publicados os resultados, os publicitários não se reveem naquilo. Colocar os clientes a julgar? Pior ainda. Aí a coisa costuma descambar para insultos generelizados de parte a parte. A exemplo dos publicitários, os clientes ao tornarem-se jurados têm a mania de defenderem alguns dogmas próprios e, via de regra, a camisola dos seus clubes (no caso, marcas). Isso quer dizer que é impossível haver um bom e justo prémio publicitário? Não. Mas é pouco provável. Há que existir uma química perfeita entre a composição do juri (é sempre uma boa ideia misturar representantes de várias áreas, com o peso na votação equilibrado com o aspecto daquele critério que se deseja ressaltar: eficácia, criatividade, utilização de media, prémios técnicos etc). A dinâmica da votação também é muito importante. Um caderno de boas intenções pode levar ao inferno se os trabalhos não forem bem conduzidos. Depois, o mais importante, é a importância que a própria premiação atribui para si mesma. Nem todos os prémios são importantes. Ou pelo menos, não têm a mesma importância. Alguns perdem a sua relevância ao longo do tempo. Alguns nunca foram relevantes na vida. O que não quer dizer que sejam recusados. Não, publicitário aceita orgulhoso até a Medalha de Lata do Festival Publicitário da Quermesse da Igreja de São João de Cima. Recebe e mostra para a mãe todo vaidoso. E a mãe, que não percebe nada do assunto, fica feliz do filho ser premiado. E, passados alguns minutos, pergunta: "E quanto é que lhe deram de prémio?" E fica desiludida quando percebe que os prémios publicitários nunca vêm acompanhados de dinheiro. E nessa hora que ela costuma dar de ombros, vai fazer o jantar e fica mais uma vez com a certeza que seria muito melhor para o filho se ele tivesse seguido a carreira de leiteiro. Ou como diria o meu Tio Olavo: "Ambição por prémios é como fome. A sua única lei é o apetite."

qual é a importância dos prémios? do edson athayde, vice-presidente de criação da ogilvy portugal e ganhador de mais de 800 prêmios internacionais. entre eles meia dúzia ou coisa parecida de leões em cannes. sim, o edson é brasileiro, ainda que já mais pra lisboeta do que para carioca.

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