domingo, outubro 19, 2008

troféu lavínia vlassak: campanha urna sem alça

"O futuro da sua cidade é o seu futuro" é o fecho dos anúncios do TSE para a atual eleição. Acredito que para a maioria da audiência esta frase passa batido, parecendo apenas um desses chavões "bem comportados"para mostrar o quando eleição é coisa séria, que é preciso votar com consciência e outras obviedades.

Dizer que "o futuro da sua cidade é o seu futuro" talvez fosse até desnecessário, pois parece uma coisa óbvia, certo? Errado. Porque não apenas não é óbvio, como é uma grande bobagem.

Sim, porque o futuro de uma pessoa depende de mil e uma coisas que não tem necessariamente a ver com o futuro da cidade em que ela mora. Em primeiro lugar porque uma pessoa pode morar hoje numa cidade e amanhã em outra. Com a globalização as migrações entre cidades, entre estados e entre países são cada vez mais comuns. E o futuro de alguém que neste momento mora em São Paulo pode vir a acontecer no Rio de Janeiro, em Belém do Pará, em New York ou em Pequim. De tal forma que, para esta pessoa, se for eleito Kassab ou Marta, não fará a mínima diferença...

Em segundo lugar é bom lembrar de outras coisas que, estas sim, são bastante óbvias mas esta propaganda pretensamente "cívica" ignorou. O futuro de uma pessoa pode estar ligado, sem dúvida, à qualidade da educação que ela recebe. Só que a educação não depende apenas da administração da cidade, ainda que a pessoa esteja numa escola municipal e não numa estadual, federal ou privada. Aliás, se a pessoa já é um eleitor, ela certamente não tem mais idade para estar numa escola municipal, seja ela de lata ou não. De modo que, do ponto de vista educação, o futuro dela certamente não depende mais nada do município.

Em terceiro lugar e em quarto, quinto, etc... nada indica que se um prefeito for realizador, cuidar bem do transporte público, tapar os buracos das ruas, construir viadutos e outras funções óbvias (estas sim) para que a cidade funcione bem ou pelo menos melhor do que estava antes, nada indica que essas coisas possam influir diretamente no futuro dos cidadãos. Pois este depende de outras variáveis muito mais gerais, como o comportamento da economia, as oportunidades de emprego, o ambiente social e cultural de sua família, as habilidades pessoais de cada um e, por que não dizer, da sorte de cada um na vida, no amor e, de repente, até na loteria!

E tem mais. Quem é que diz que o eleitor está preocupado com o futuro da cidade? Todas as pesquisas indicam, ao contrário, que a decisão de voto se faz em torno de critérios bastante imediatistas, como por exemplo a promessa de não aumentar a tarifa dos ônibus logo após a posse... de não criar novos impostos ou taxas, de anistiar as multas... de construir uma escola ou um hospital que deve ficar pronto em três meses, e por aí vai.

A visão do eleitor municipal é de curto prazo e certamente nada tem a ver com o "futuro" da cidade, a não ser que se entenda futuro como o que vai acontecer no início do ano seguinte à eleição.

Uma pequena parcela do eleitorado, com certeza, vota com motivações mais políticas, a favor ou contra um partido, uma visão de mundo, etc. Porém mesmo o futuro desses eleitores mais conscientes não está ligado ao futuro da cidade e apenas, talvez, às conseqüências políticas mais amplas da vitória ou derrota de um partido ou um candidato para o futuro do país.

Em resumo, este slogan do TSE é uma bobagem total, uma dessas frases feitas que passa pela cabeça de algum criativo apressado, em fim de expediente, que não pára para pensar -- e que é aprovada por muitos outros que também não fazem uso da sua inteligência, se é que a têm.

A propaganda em nosso país, principalmente a de governos, órgãos públicos e estatais, está repleta de platitudes como esta que, se analisadas por um instante apenas, já se revelam destituídas de qualquer sentido ou então totalmente equivocadas.

Afinal, se até o governo federal adotou o slogan "Brasil, um país de todos", de que outras bobagens não serão capazes todos os demais? Sim, isto é uma bobagem porque se o Brasil já é um "país de todos", nada mais resta a fazer em defesa dos menos favorecidos: eles já devem ter tudo o que precisam...

E se, por acaso, o criativo que bolou este slogan pensou no futuro, como o TSE, e não no presente, e quis dizer que o Brasil ainda não é, mas vai ser, um país de todos, graças ao tão esclarecido e magnânimo governo federal, então este criativo se esqueceu que, mesmo para o menos radical dos esquerdistas, o favorecimento aos pobres sempre implica tirar alguma coisa dos ricos...

De tal forma que, por melhor que fique o país graças a tão sábios e probos governantes, a situação pode até ficar boa para uma maioria, mas nunca para "todos", mesmo porque todos têm o direito de ter opiniões divergentes sobre o que é bom ou não para eles e para o país. A começar pela oposição ao governo, a não ser que esta seja abolida por decreto, à moda Chavez.

Esta mania de inventar slogans nonsense é uma verdadeira praga em nosso país e que já vem de longe. Afinal, o que passou pela cabeça daquele criativo de outros tempos que bolou este "ordem e progresso" da nossa bandeira? Sim, pois será que alguém pode ser contra o progresso e contra a ordem? Só os anarquistas, talvez, graças a Deus. Ora, se esta frase sim, é uma obviedade, não precisava e nem devia estar na nossa bandeira.

Na maioria esmagadora de países do mundo a bandeira usa apenas recursos visuais. Só o mau layout precisa de legenda explicativa. E até que o visual da nossa bandeira faz boa figura: não precisava desta faixa branca com uma mensagem publicitária inútil e poluidora. Se o Kassab estivesse lá, na época, tinha mandado recolher a bandeira na hora por infração à sua "cidade limpa".

(mais uma derrapada em marketing do sílvio lefèvre)


Now playing: The National - Mr. November via FoxyTunes

2 comentários:

  1. Nossa... quanta bobagem junta!

    O autor deste artigo parte de premissas 'interessantíssimas' para fazer sua análise:

    - O homem moderno é, basicamente, um nômade. Mas nômade mesmo... não passa 4 anos em algum lugar e logo estará em outro.. Pequim, por exemplo! Não se encontram pessoas mais nas ruas que vivam na mesma cidade há 4, 10 ou 15 anos... todos mudam-se tanto que, muito provavelmente, em breve, a Lusitana em breve deverá ser um dos Top 10 business do Brasil.

    - Segundo ponto: Para que pensar em educação se o estudante não vota, certo? Errado! O autor esquece que os eleitores também são pais e que pais tem filhos e que filhos estudam. Esquece que se tivermos ordas de teens desocupados nas ruas estamos caminhando de volta para a barbárie... mas isso não importa! Na hora que isso acontecer ele vai para outra cidade, certo?

    - O gênio publicitário não percebe a mensagem associada ao título que é de levar o eleitor a escolher aquilo que ele entende como melhor para a sua cidade. Soluções de curto prazo 'bacaninhas' podem representar rombos enormes nas contas do município no futuro. É ÓBVIO que a escolha pode não ser a melhor, que o candidato bonzinho pode ser um monstro, mas ao menos o TSE pede que se analise a proposta de cada um deles.

    - É estúpido desprezar uma variável dentro de um conjunto, argumentando que aquela variável sozinha não tem peso suficiente sobre uma grande e longa equação. Há muito tempo não lia nada tão míope e medíocre de alguém que se diz profissional de comunicação.

    Frustração e vontade de ter uma conta maiorzinha... taí seu diagnóstico. Procure um psiquiatra urgente!

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  2. well, a começar do suporte emocional manco da mulher-urna, no caso a grávida lavínia, a campanha é muito ruim. como se não bastasse o timbre de uma voz que aumenta a sensação da verba oficial desperdiçada. eis o ponto. o slogan pré-fabricado é realmente mais um candidato a beira do meio-fio.

    aloha! vem ou vai a honolunu na ânsia de detonar o sílvio - o autor do artigo - endereçando-o a um psiquiatra urgente. isto sim, é típico de uma manobra ideológica de quem não tem maiores argumentos(chama-se algúem de doido ou desajustado, e está feito o serviço sujo) - juntando, a derrapada que critica, a sua. o diagnóstico que atiça equivale em idêntico prisma a uma argumentação que tropeça na confusão, entre as lacunas da escolha de uma representação ou argumentação naturalista e realista, em torno de variáveis diretas que são mui menos importantes que as indiretas que ao fim e ao cabo comandam o sentido simbólico de uma campanha.

    conta maiorzinha? não parece que este seja o objetivo do sílvio. mas isto quem pode dizer é ele. que tal endereçar o arrazoado disfarçado de crítica acadêmica ao site do próprio?

    retomando a cabeça, o acerto ou não dos argumentos não invalida a resultante, em ambos os casos. esta campanha é presentemente amorfa o que por sí só já compromete o futuro do que quer que seja.

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