segunda-feira, outubro 20, 2008

nizam x fábio: todos contra todos e ninguém a favor do negócio que não seja o seu

1. Um amigo nosso, comandante da VASP, conta-me a estranha mensagem recebida por um piloto americano durante uma aterrissagem.

O avião da companhia norte-americana sobrevoava a Bahia, a caminho do Rio, quando um defeito no motor obrigou o piloto a providenciar uma aterrissagem no aeroporto mais próximo possível.

Na Bahia, justamente na pequena cidade de Barreiras, existe uma pista de emergência (se é que se pode chamar aquilo de pista) para os aviões das linhas internacionais. Raramente é usada, mas era a mais próxima da rota do avião. Assim, o piloto não teve dúvidas. A situação dele estava muito mais pra urubu do que pra colibri. O negócio era mesmo se mandar para Barreiras.

Pediu pouso durante certo tempo, dirigindo-se à Rádio local em inglês. A resposta demorou um pouco, mas acabou vindo. Alguém, com forte sotaque nordestino, falando um inglês arrevesado e misturado com palavras em português, respondia que estava ouvindo e aconselhava o comandante a procurar outro local para aterrissagem.

Há dias estava chovendo em Barreiras e a pista se achava em péssimo estado.

O piloto, sem outra alternativa, insistiu em pousar assim mesmo, e tornou a pedir instruções, ouvindo-se lá a dizer que estava bem, mas que não se responsabilizava pelo que desse e viesse.

Acontece porém que isso foi dito com outras palavras, ainda num misto de português e inglês. Assim:

— Ok. You land. But se der bode, I’il take my body out. (de Stanilw Ponte Preta, ou Sérgio Porto, para os menos íntimos. O texto consta do livro 10 em Humor, da Editora Expressão e Cultura)

2. Infelizmente não me foi possível assistir ao MaxiMídia. Fico, assim, com o relato feito por este Acontecendoaqui sobre a lamentável, mas esclarecedora discussão entre Nizan Guanaes e Fábio Fernandes (íntegra aqui). Transcrevo o que foi noticiado pelo portal:
“A discussão teve início logo após um discurso que Nizan Guanaes trouxe preparado sobre sua interpretação para a atual crise, na qual traçou um cenário bastante pessimista e sobre como as empresas do grupo ABC estão tomando precauções. Fernandes pediu a palavra para criticar o discurso de Nizan, afirmando que o painel deveria ser um debate sobre o momento e não um espaço para discursos. O presidente da F\Nazca S&S também criticou a visão pessimista de Nizan e seu modelo de atuação no mercado publicitário. “Você é responsável em grande parte pelo que está acontecendo”, acusou, atiçando os ânimos do painel.

2. Não, Nizan não é o único culpado. Fábio Fernandes, também é. Aliás, toda a geração de publicitários que se projetou na década de oitenta é culpadíssima.

3. Nizan, Fábio Fernandes, Washington Olivetto, Cláudio Carillo, Eduardo Fischer, Luís Grotera, Silvio Matos, Dorian Taterka, Roberto Justus, Celso Loduca, Marcelo Serpa, Alexandre Gama, só para citar alguns. Uma geração com raro talento e um faro especial para os negócios. Craques em ganhar dinheiro. Donos de trabalhos invejáveis. No entanto, incapazes de preservar as conquistas das gerações que as precedeu, porque nada deu de volta à profissão que lhe permitiu fazer isso.

Nada, absolutamente nada.

Desse mato não saiu um só coelho disposto a contribuir com o amadurecimento do setor. Um dia, quando algum pesquisador descrever a história recente da publicidade, eles serão registrados como grandes fazedores de negócio pessoal, que se aproveitaram da publicidade para satisfazer sua vaidade pessoal e fazer sua fortuna, sem oferecer nada de volta.

4. Narcisos da publicidade, passaram o tempo olhando seus reflexos no espelho das vaidades, desfilando na passarela de Cannes, exibindo seus leões no Brasil.

Distraídos, não perceberam – ou se perceberam acharam nada importantes diante do seu fascínio pessoal – que no entorno do trono onde se sentam, as coisas azedavam. Dividiam o tempo entre o espelho, o próprio umbigo e o puxa saquismo dos bobos da corte.
E os anunciantes se rebelaram. A sociedade pressionava. No Congresso e nos governos. os políticos deitaram e rolaram. Mas eles não ouviam. As águas do lado, onde eles, quando não estavam na frente do espelho, iam admirar a própria beleza, já estavam turvas, mas a vaidade já os havia cegado.

5. Foram necessários trinta anos para que percebessem que era preciso reunir a categoria. Mesmo assim, essa percepção não partiu deles. De nenhum deles.

Agora, com a água poluída lhes batendo na bunda, se acusam. Já é alguma coisa. Quem sabe, o Fábio Fernandes tenha dado o primeiro grito capaz de acordá-los e fazer com que eles aterrisem no mundo real. Tomara que não seja tarde demais.

But, se der bode, I’il take my body out.

(somos todos culpados, do eloy simões, no acontecendoaqui.com.br)
Now playing: Zakk Wilde - black label society - Lords Of Destruction via FoxyTunes

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