quinta-feira, outubro 12, 2006

orfãos

hoje é o dia da criança. data pipetada diretamente da cultura das células tronco das emoções primárias, implantadas no calendário comercial de vendas, para deleite e desgraça das gestações bem e mal amadas.

para os defensores do igualitarismo, a data é má –drasta. e pá- drástica, na não exploração de sentimentos rasos. que ao fim e ao cabo estão na sedimentação de uma cultura cada vez mais valorativa das desigualdades. quedando-se sentimental a valores financeiros que nesta data tem mais uma oportunidade de expressão, sob a forma do disfarce da emoção, de fazer uma criança sorrir. quiçá para compensação de um ano inteiro de seres largadaços e tão distantes de verdadeiras demonstrações de zelo, cuidado, carinho, amor, que mais teriam se fossem orfãos.

mas eitá nós! o discurso psol já está mesmo fora do páreo. de maneira que vamos tratar hoje só da nossa orfandade enquanto consumidores e publicitários, submetidos a bruxa má da publicidade. mas não a da instituição em sí. e sim da que trata a data com qualidade de comunicação com cara e timbre de megera.

até mesmo para os que não concordam comigo, e que tantas vezes tem gana de ir-me aos cornos, hão de concordar que: em matéria de publicidade para a data, seja em qual segmento for, não está havendo só desrespeito ao estatuto da criança e do adolescente. está havendo, é desrespeito à nossa inteligência, à nossa já embargada sensibilidade, à das crianças inclusive, à profissão, enfim à nossa condição de tornar a atividade mais responsável em sua atuação. isso abrangendo todas as compleições: seja na promoção de vendas em números mais significativos, seja nas valorações e aproaach empregados, seja na demonstração que estando em 2006, apesar de todos os prós e contras da dita exploração do sentimentos em prol do comércio, abandonamos por completo o papel pater de ao menos ser capazes de gerar um produto criativo que não seja disforme e maleito tão quanto as bactérias, os vírus, pestes e desgraças que se anunciam as crianças deste brasilzão onde só quem não tem pereba é quem brinca de recreio na suíça.

dispensando a quase recaída psolítica do parágrafo anterior, imagine-se pai – publicitário não é só pai de anúncio e campanha – estando no sofá e, para tornar a cena ainda mais composta, ou melosa, devidamente acompanhado de seu filho, filha, filhos? - prole cada vez mais em diminuição, a ponto de alarmar previsionistas sobre o futuro de uma humanidade que se recusa a procriar(motivos não faltam). mas deixa isso pra lá e concentre-se na tv. rádio, jornal, outdoor você sofre sozinho. já as crianças ficam mais fortemente com a parte da net. e tente lembrar-se de algum peça publicitária ou, vá lá, de comunicação, que realmente tratou a data com sensibilidade e inteligência a ponto de motivá-lo ao presente com algo mais que não o sentimento de elevada pressão dada à obrigação.

se a memória ainda aguentar uns puxões, tente lembrar-se dos seus tempos de criança(supondo que isso se situe lá pela década de 60,70, meados de 80) e por certo, o sentimento de saudade, também peculiarmente mau explorado nesta época, aflorará juntamente com a recordação de produtos criativos bem mais eficientes e ternos. e que resistiam após a data, ainda embalando a sensação do presente dado ou recebido, muitas vezes guardado com o papel de embrulho dos presentes, hoje embalagem pra presente.

nesta hora, quem sabe, provavelmente você também compreenderá a amplitude do que significa ser orfão, ainda que seja no prisma aqui focado, num mercado, e numa profissão, que cada vez mais estão sem pai nem mãe. bons sentimentos e criatividade encostados e segregados como se fossem internos da febem, no máximo com direito a uma fatia de obrigação anunciada sem o menor sabor.

feliz dia das crianças publicitárias, publicitários.
as crianças que vão chorar e sorrir por tí, também te saúdam.

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