domingo, setembro 12, 2010

eu não, indico

Indicar é sempre uma coisa bacana. Eu poderia indicar um bocado de coisas aqui. Coisas que li, ouvi e assisti. Coisas que nunca conheci, só que já me indicaram. Mas o que não falta nos sites e blogs é gente boa fazendo indicações, e com muita propriedade.

Por isso, vou dirigir esse texto na contramão. Não vou indicar.

Eu não indico você a exagerar o que está fazendo agora. Ficar na frente de um computador pode ser interessante, ainda mais quando esse aparelho dá acesso à Internet. É um mundo de informações, um mundo de conhecimento e, também, um mundo que você está deixando de viver, de verdade, lá fora.

Longe de mim entrar na cruzada contra a informática, mas o computador não pode interromper a sua conexão com a vida, pois existem certas coisas que a tecnologia ainda não conseguiu substituir. Ainda bem. Ler um romance, por exemplo, fica muito melhor virando páginas, do que descendo uma barra de rolagem. Coisa que a essa altura do texto você já deve estar fazendo.

Eu não indico longas jornadas de trabalho constantes. Uma vez ou outra, é normal. Mas você não trabalha em uma UTI para que todo dia seja uma emergência. Se for assim, logo, logo quem vai parar na emergência é você. E se é verdade que a publicidade se inspira na vida, não faz sentido sua vida ser só dentro da agência de publicidade.

Eu não indico intolerância e extremismo. Essa história de “não seja morno que eu te vomito” serve só como passagem da Bíblia. Tem horas que você vai precisar ser frio, em outras, quente e em outras, morno. O que dá vontade de vomitar mesmo é gente arrogante, insensível e agressiva.

Eu não indico seguir cegamente o que os outros indicam, e o que não indicam, também. Isso vale até para esse texto. Vale a pena pensar em quem está indicando, no que está indicando e buscar suas próprias indicações.

Eu não indico assistir sempre aos mesmos canais, ouvir sempre as mesmas músicas, ir à mesma prateleira da videolocadora e almoçar no mesmo restaurante todos os dias. Às vezes trocar o seu iPod, com todas aquelas músicas manjadas, por um rádio, em que o imprevisível comanda, pode levar você a se surpreender com boas novidades.

Fure sua bolha, conheça novos sabores, prove novas amizades, explore aquela rua que você nunca entra, acesse um site desconhecido. Enfim, contestar nossa própria noção de valores, e o seu comportamento diante da vida, não é uma heresia e não vai mudar a sua essência.

Eu não indico subestimar os mais velhos.

Eu não indico desrespeitar os mais jovens.

Eu não indico alimentar a incompetência. A nossa, nem a dos outros.

Eu não indico frituras.

Eu não indico a acomodação e a preguiça. Por mais que às vezes elas apareçam.

Eu não indico a prepotência, e muito menos a sua irmã mais pobre, a submissão.

Eu não indico fingir interesse.

Eu não indico fingir.

Eu não indico ler sempre a mesma revista semanal.

Eu não indico flores artificiais.

Eu não indico levar esse texto tão a sério.

Agora, entrando outra vez na contramão, eu indico. Eu indico que você desligue esse monitor, e vá bater um papo com quem estiver por perto. Nem que seja para falar mal disso tudo que acabou de ler

(do fernando cabral, no jornalirismo, que eu também não indico)

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