sexta-feira, maio 11, 2007

no meio da mensagem ou seria na mensagem e meia?


o imbróglio da semana foi a demissão do editor chefe de meio&mensagem que em relação ao "patrão" da folha escreveu na contra-mão dos epitáfios.
o jornalismo especializado publicitário não é terreno nem para meias verdades, quanto mais para verdade e meia. nele, sequer há a prática da crítica da publicidade, enquanto foco deontológico(se é que isso é possível com a publicidade, dirão alguns)quer enquanto comentário instrumentalizado sobre campanhas e ou anúncios veiculados. portanto, não se espere neles encontrar nada mais que espocar de flashs que traduzem interesses outros onde a vaidade, costumeiramente inversamente proporcional ao talento, comanda um certo jogo de interesses do tipo veiculação de anúnicios em troca de citações, prêmios à quilo e por ai vai, com objetivos comerciais muito bem definidos por trás dos interesses "menores".
de certa maneira, nicoletta escreveu certo por veículo torto. foi demitido não porque a folha era anunciante do meio&mensagem. mas porque "inaugurou" um precedente que tinha que ser contido. a sua frase: que os jornais do tipo meio&mensagem preferem adular os clientes a fazer jornalismo, ainda que verdadeira, soou deslocada. afinal, quando se lê tal jornalismo não é exatamente isso que se espera?

e por falar no assunto, transcrevemos "por uma questão de justiça", do eloy simões que presta sua solidariedade sobre o "presunto nicolleta".

Octávio Frias de Oliveira faleceu, virou santo. O grande defensor da democracia brasileira, Sem ele, o regime militar não teria terminado,Um realizador, Um exemplo para o jornalismo, foi o mínimo que disseram. Nessa linha escreveram e discursaram jornalistas por quem eu tinha o maior respeito, dois presidentes da República – o atual e o que o precedeu – e um monte de gente fina. A babação foi geral. Mas houve pelo menos uma exceção, a do jornalista e então editor-chefe de Meio & Mensagem, Costabile Nicoleta, que, preocupado em retratar a verdade – obrigação, diga-se de passagem, de todos os profissionais de imprensa - escreveu nesse jornal/revista do último dia 07:

Nem tão liberal assim

Em que pese a vitoriosa trajetória pessoal e profissional de Octávio Frias, sua figura nunca desfrutou de consenso. O jornalista Mino Carta, editor de Carta Capital e um dos maiores nomes da imprensa brasileira, disse em entrevista publicada em 2006 na Revista Caros Amigos, que a Folha, diferentemente da propagada pluralidade, sempre serviu à ditadura e cresceu graças às benesses do poder. “Até hoje o jornal, que gosta de posa de democrata e transparente, teta esconder esse período macabro, que revela todo o seu caráter de classe e a sua postura direitista”, alfinetou Carta.

Há razões para a crítica de Carta. O liberal Frias teve, de fato, uma história controversa em suas posições políticas. Loigo ao comprar a Folha teria feito do jornal um instrumento a serviço da conspiração golpista. Estampava manchetes sensacionalistas contra o “perigo comunista” e assinava editoriais contra a “corrupção e a subversão”. Na fase mais aguda da ditadura militar, por exemplo, a Folha da Tarde, também do grupo, divulgava a “morte de terroristas em emboscadas policiais”, quando estes ainda estavam na prisão.*

A falsa notícia servia para encobrir as torturas. Grupos armados, como resposta, incendiaram três peruas da empresa, usadas não só para transportar o jornal como para recolher torturados ou pessoas que seriam torturadas na Operação Bandeirantes (Oban), órgão de segurança que combatia a subversão, inaugurado em 1969.

Assustadas, a família passou a morar no prédio da Folha – desde setembro de 1971, quando da morte de Carlos Lamarca, militar que atuou na oposição armada, até fevereiro de 1972. Um apartamento foi construído no oitavo andar do prédio, com vídeos à prova de bala. Os filhos aprenderam a usar armas.

Na ocasião, um furioso editorial contra o movimento de guerrilha foi publicado na primeira página. “Os ataques do terrorismo não alterarão a nossa linha de conduta. Como o pior cego é o que não quer ver, o pior do terrorismo é não compreender que no Brasil não há lugar para ele. Nunca houve. E der maneira especial não há hoje, quando um governo sério, responsável,respeitável e com indiscutível apoio popular, está levando o Brasil...”.

Em 1977, Frias demitiu o colunista Lourenço Diaféria, a pedido do general linha-dura Hugo de Abreu, ministro e chefe da Casa Militar do presidente Ernesto Geisel. Em sua irreverência habitual, o escritor assinara uma crônica sobre um bombeiro que urinara na estátua de Duque de Caxias, no centro de São Paulo. Com Cláudio Abramo, Frias também sucumbiu aos apelos militares. O filho Otávio refuta as acusações. No livro que perfila a vida do seu pai, Otavinho alega que os veículos da empresa foram usados por equipes do DOI-Codi (órgão de inteligência e repressão durante o governo militar) à revelia de Frias.

Porque exerceu o direito de apresentar sua versão dos fatos, porque teve a coragem de restabelecer a verdade, Nicoleta foi premiado por Meio e Mensagem: ganhou uma demissão sumária.

Outro dia, assassinaram um jornalista no interior de S. Paulo. Imediatamente houve uma justa indignação por parte de diversas personalidades e entidades. A Federação dos Jornalistas, entre elas.
Mas até o momento em que escrevo estas mal traçadas linhas ninguém, nem mesmo a Federação, apesar do assassinato moral de que foi vítima o Nicoleta. Ok, todo mundo vira santo depois que falece. Inclusive você e eu – eu com maior dificuldade. Mas a verdade precisa estar em primeiro lugar. Pelo menos para os jornalistas. Por isso, em nome da verdade histórica e para prestar uma homenagem, fiz questão de reproduzir o artigo daquele jornalista.

2 comentários:

  1. Velho, será que alguém... Em todo o planeta terra, já lhe deu um abraço? Não vale responder: a minha mãe.

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