o blog que dá crise renal em quem não tem crise de consciência. comunicação, marketing, publicidade, jornalismo, política. crítica de cultura e idéias. assuntos quentes tratados sem assopro. bem vindo, mas cuidado para não se queimar. em último caso, bom humor é sempre melhor do que pomada de cacau.
segunda-feira, março 12, 2007
mais um fora, da série
Isto dantes era assim: na televisão passavam os Dallas, os Bonanzas e outras coisas com o QI do Luís Pereira de Sousa. No cinema havia Kubrick, Lynch e Kusturica. Claro que também havia muita pipoca pelo meio, mas as histórias, as personagens, o talento estavam, de facto, nas salas de cinema.
Hoje, o cinema foi-se imbecilizando: não são histórias, são video-games. Não são realizados, são efeito-especializados. Enquanto isso, na televisão, aparecem os Sopranos, 7 Palmos de Terra, Sexo e a Cidade, Donas de Casa Desesperadas, 24, Lost, CSI, House, Nip Tuck, Prision Break, Anatomia de Grey, Ossos. Pois é, a par da Moranguização do horário nobre, aparecem sinais de vida inteligente na box. Descobre-se que, afinal, até há espectadores de televisão que sabem apreciar uma boa história, com personagens mais densas, com descodificações mais elaboradas.
Mas a verdade é que esta funtastic life ainda não chegou à publicidade. Coisas assim do nível Floribelliano é ao pontapé. Anúncios inteligentes, que exijam o mínimo de descodificação, daqueles que premeiam o espectador que o «descobre», nada. A «crise» e a dispersão dos GRPs são as desculpas de serviço. E insiste-se que é preciso ser directo, incisivo, factual.
E nunca há espaço para o simbólico, para o emocional, para a wittiness (essa palavra cada vez menos traduzível). O intervalo de televisão é o mundo do pseudo hardsell. Do «Veja lá se ainda dá para dizer mais isto na voz off». Dos gags fedorentos repetidos. Das personagens que debitam ipsis verbis o briefing, como se fosse uma conversa entre amigos.
E, entretanto, os mesmos espectadores dos CSIs - muitos deles publicitários e marketeers - trocam e-mails e Youtubes com anúncios engraçados, inteligentes, brilhantes. Como se esses atributos fossem proibidos na televisão. O Dr.House dizia-lhes.
(jorge teixeira, director criativo da DDB Portugal, no seu publicidade fora de séries, a quem acusam de dizer muito bem. mas fazer que são elas, cai sempre na esparrela)
p.s.mantivemos a sintaxe original portuguesa. serve de exercício para redatores que anseiam por aventurar-se nas praias de portugal com pés de pato calçados no seco de pretensa vantagem se saída ao cais. cabral vindo cá, teve vida mais fácil.
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