segunda-feira, outubro 30, 2006

o que é que a norah jones tem a ver comigo, com você, e com a propaganda que eu faço?(parte I)

house of blues, new orleans, antes das enchentes catastróficas. norah jones live in new orleans. sold out, ou seja, não há mais ingressos à venda.

o espaço cênico parece um pouco com os nossos antigos cinemas de bairros, que mal passaram dos 70. — e já agora estamos para perder, novamente, e definitivamente o são luiz?. não há cenários, e figurinos, esqueça. alguns tapetes quase persas, para juntamente com a cortina stand by, resolverem a contento a acústica. e nem espere nenhum projeto de luz star war. é tudo muito despojado mesmo. e bota despojado nisso. é espetáculo, mas o clima é de ensaio. a perfeição também ensaia, mas não se mostra. não é o caso.

daru oda(vocals) que também é manager, lee alexander(bass), andrew borger (drums), adam levy(guitar) são a banda de apoio de norah. aquela que não gosta, nem um pouquinho, que lhe lembrem de quem é filha. é filha, que ela não me escute, de ravi shankar. o hindú que via george harrison, você sabe não? colocou a cítara no cenário pop.

o contra-baixo guarda roupa de alexander está tão surrado que parece ter sido atacado por cupins. daru, após sua participação, corretíssima, enrola-se ao tentar colocar de volta a altura original o microfone que também não é lá essas coisas, o que torna-se motivo de boas risadas entre músicos e platéia. nenhum músico tem pinta ou tique de superstar, apesar de trazerem na bagagem participações ao lado de neil young, mccartney, pretenders. enfim, a turma é profissa com estrada, e isso não se discute. e nos convence de que tocam porque gostam, antes de tudo.

norah jones não é uma virtuose. aliás, nem é levada muito a sério
pela ala tradicional do jazz nem por seus apreciadores. é verdade que come way with me, tema de novela global, não ajuda muito, mas quanto conduz a sua banda, pilotando a cauda do steinway&songs ou piano elétrico, produz uma harmonia descomplicada, bom gosto nos acordes, arpejos elegantes. sua música gera um relacionamento, que é intensificado pela entrega dos músicos que não estão nem aí para caras e bocas arquitetadas. tudo flui espontaneamete. tudo enleva, tudo envolve, tudo fideliza. até o seu riso nervoso, que corre o risco de ser interpretado como afetado. mas não acontece.
a platéia é encantada sem nenhuma mistificação. é como se norah estivesse tocando na sala de nossa casa, porém com a delicadeza profissional de quem sabe a distância exata entre proximidade e intimidade. exibição e espetáculo. ingresso e entrega. desnecessário dizer que o gostinho de quero mais é partilhado por todos que a esta altura lamentam não terem comprado mais ingressos.

rolling stones in rio. mega espetáculo, onde a música, pelo menos a empacotada em copacabana, pouco importa. tudo é uma questão de números mega. em potência(tanta, que não há engenharia acústica plausível que não a faça distorcer, estejam onde estiverem os ouvidos) e tome números em audiência, em luzes, em repercursão. no rio de janeiro, o riff de satisfaction, ou o eco dele, segundo as más línguas, foi rifado junto com as estrepolias de um palco deslizante . neste espetáculo tudo é pensado as mínúcias, incluindo as espontaneidades que sobem ao palco. palco, cenários, figurinos, com desenhos e movimentos planejados as firulas. há música sim, e de qualidade, pelo menos como foi concebida alguma dia, mas ela deixou de ser, apesar de cantada como, o objetivo principal da comunicação em sí. o acontecimento, o evento, passa a ter maior importância. ouvir ou não ouvir, deixa de ser uma questão, a questão é estar lá(ou dizer que esteve). não é fruir a música. é ser notícia junto com o espetáculo. espetáculo que acontece, por mais quente que aparente, frio e distante, quando muito embalado no banho maria, novamente, dos números.

é sempre bom lembrar, antes do corte brusco, que as analogias, por isso mesmo analogias, nos permitem a folga elástica, o necessário para não falsear a verdade sem contudo a rigidez sistêmica e tantas vezes isquêmica com que a publicidade costuma ser abordada.

este menu musical, que pode ser adequado a seu gosto, “acústicos” de um lado, mega-eletrificados de outro, fornece uma boa analogia com a situação da propaganda atual, apesar de uma certa profusão de acústicos de encomenda e não por opção formada em existência.

amanhã a gente rifa o tema por inteiro, com direito depois a mais um dia de desdobramento sobre o tema.

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