o herói burguês não peida, não caga, não vomita, não desafrouxa o nó da gravata. marco ferretti, em a comilança(le grand boeuf)já havia nos submetido a denúncia.
a cabeçada de zidane foi caracterizada pela mídia(burguêsa) com a grande debâcle da copa. fim de carreira melancólico, vergonha inesperada, e tantas outras mais construções, inclusive a apontar zidane como culpado pela derrota da frança. o culpado não seria quem o perdeu o penalti, na lógica tíbia das acusações?.
não sou "zizófilo", nem francófilo nem nada. mas acredito piamente que zidane fez o que deveria ter sido feito enquanto qualquer um de nós no calor da disputa de um jogo. tudo bem que não era uma pelada, era a copa do mundo. e espera-se na copa do mundo a frieza do comportamento de quem, já vivido, sabe da importância da presença de espírito num certame que envolve descomunais somas e interesses. e que certamente já defrontou-se com tais situações criadas artificialmente ou não para destabilizar o emocional.
o fato de ser craque, ao contrário do que se imprimiu a torto e a direito, em sua despedida de jogador vitorioso, ainda mais após reacender a chama de quase-gênio em outras cabeçadas, não só a gol, como o chapéu que deu em ronaldo, colocou zidane na posição privilegiada de que pode mandar tudo e todos a puta-que-os-pariu, ao sentir-se espicaçado, seja pela comentário de que sua irmã era prostituta ou pelo agora quase confirmado, aposto de "terrorista argelino".
como se diz, pimenta no cu da irmã dos outros é refresco. ser bicampeão era mais importante? havia uma pátria por defender em seu comportamento? a recepção a zidane mostra que não. e cá, para nós, duvido que uma porcentagem bastante significativa de franceses, de italianos também, não fizesse a mesma coisa, cabendo neste momento só aos franceses um certo orgulho de ter cabeceado aquele beque de uzina que de repente virou vítima.
zidane trocou uma tal possibilidade do título(graças a ele a frança empatou o jogo) pela afirmação de sua convicção sobre o que vale ou não vale a pena defender, custe o que custar.
não se trata de um incentivo a violência. perto de outros lances, inclusive acontecidos nesta mesma copa, a cabeçada foi de lady, sem deixar de ser um acontecimento estético, afinal também aí está o craque. mas do direito a ser algo mais que demasiadamente humano. talvez nós publicitários devessemos tirar ilações do acontecido.
andamos a dar cabeçadas a torto e a direito. mas outras. não aquelas em defesa da nossa profissão e da dignidade mínima que alguns de nós ainda são portadores. afinal somos tratados abaixo de putas(e muitos o são mesmo) e nos conformamos com isso em nome do tal campeonato da sobrevivência, da manutenção das contas, do status-cu, da falsa epopéia da maledicência vitoriosa. clientes podem nos xingar a vontade, mandar refazer centilhões de vezes o trabalho(falo daqueles que o fazem sem razão) contradizendo o próprio briefing, inclusive, rabiscá-lo, rasgá-lo, adulterá-lo, acertar honorários e os descumprir. enfim colocar-nos em posição genuflexória(posição de chupa pau) plenamente certos de que nos comportaremos com uma subserviência de boca cheira tal que decididamente não cabe na pele de quem se auto-entitula profissional. e num contexto que não é o de copa do mundo. é pelada vagabunda de fim-de-semana.
há que se jogar o jogo. há que se ter frieza para contornar o dia-a-dia repleto de bicos na canela. contudo, tivessemos mais zidanes em nossa profissão e a situação poderia ser outra. pois deveríamos ter em conta de que nosso trabalho, quando feito com seriedade tal, é sagrado. tal como o cu da nossa mãe. mexeu nele, seja atendimento, seja dono de agência, seja cliente, seja veículo, leva cabeçada (começe de leve, e vá praticando, chama-se a isso endurance). não se perde conta por isso. eu por exemplo nunca perdi uma conta por brigar ferrenhamente por pontos de vista defensáveis, e olhe que sequer amarro a chuteira do zidane. aliás, muito importante, não se esqueça de que contas há que já estão perdidas no exato momento em que entram na agência. e ai, certamente, não vale a pena ter dores de cabeça por isso.
como diria iago(é shakespeare meus filhos) homems há que são derrotados, não por seus defeitos e sim por suas próprias virtudes.
há quem prefira ser o vencedor italiano ao "perdedor frances". visões de mundo diferentes. qualquer uma delas, neste momento, motivo de orgulho e mutio distantes da pecha de ser um perdedor brasileiro.
p.s. desmistifiquemos. a itália chegou a campeã por uma série de penalties não marcados. só no jogo contra portugal foram dois. e como tem penalties não marcados em nossa atividade.
Aliás quanta viadagem!
ResponderExcluirSou do tempo em que toda final de campeonato tinha uma briga, um tapa, um dedo em riste, um empurrão...
O Futebol agora virou uma puta frescura quando se trata de briga ou de lances violentos. Futebol é coisa pra homem. E em geral se decide ali mesmo...dentro do campo...sem essa presepada de leitura labial...replay...
O que o Zidane fez, o Pelé já fez pior, o Romário já mordeu peito de Chileno e foi expulso antes do jogo começar.
Muita frescura mermo!