meu nome é hudartcha, mas eu não tenho nada de russa não, diz-me huda quando a encontro pela primeira vez já no moinho da sala de criação.
hudartcha é diretora de arte, numa agência qualquer do recife. é publicitária, mas por distorção de concept, exerce seu ofício tal qual mulheres operárias numa linha de montagem. só náo o é mecânico, porque hudartcha o constrói com pinceladas de pressupostos do design, uma das paixões de huda, que ao fim ao cabo de nada adiantam contra a lógica veloz, monocórdica e corrosiva do varejo. sim, cabe a hudartcha, a tarefa de cuidar do varejo de três bandeiras de automóveis, uma italiana, uma japonesa e uma francesa:meu nome é hudartcha, mas eu não tenho nada de russa não. como cuidaria hudartcha da niva? por exemplo, fico a pensar, elaborando figuras com a ironia rasteira da imagem,
novos e seminovos consomem-lhe o dia, na verdade os fins de tarde e primeiros quartos da noite, tornados insanos tal a repetitividade e mediocridade dos insights: onde se pede diferenciação, dá-se não. e nem é por culpa dela, apesar do processo já a levar de rodo para baixo do tapete e salpicar-lhe a pecha de diretora de arte do varejo. hudartcha, não tem nada de russa não. mas quando chega ou se prepara para ir embora, tem um ar de “ mamuska”, com seu quase corpanzil, equilibrado em sapatos de bicos finos, sempre largados, durante o labor, sob a mesa, sua perestroika, imagem equilibrada por invariavelmente alguns sacos de supermercados que não obrigatoriamente contém materiais dos mesmos, quando ela chega ou sai rumo à vida de periferia, num lugar onde quem vai lhe dar carona é brindado com a pergunta matreira: teu carro sobe ladeira ? e dúvida se sim, dúvida se não, discrevo? hudartcha tem um detalhe que até virou ícone de celular, para o qual ela dá de ombros, o que o realça ainda mais, particularidades anatômicas superiores. quanto a mim acho que seu bom humor é imensamente maior. e boa parte do suportável no ambiente deve-se mesmo a isto. mas lêdo engano achar que ele é antídodo contra o lado negro da força que impera neste momento não só nas telas. sim vamos falar de cinema.
hudartcha vive em universos paralelos, constante expansão e retração. num deles convive com o planeta mammy, também conhecido como maggi, de atmosfera atormentada. capítulo a parte não cabe editar, ainda que tenha planos do material na moviola, antecipando sim, novamente, que vamos falar de cinema, para gáudio de huda.
sem intervalos, porque o melhor de hudartcha é dôce e abre os créditos da projeção como os chocolates que nos presenteia diuturnamente quase, critério, e bonachona, com toda a criação, toda aquela generosidade cabe no sorriso pequeno, cujas bordas já começam a ganhar, aqui e ali, o contorno da ironia necessária a manutenção do tino na lida com o varejo. mas que também espoca como gargalhada, nelas alguma vez fímbria de revolta.
meu nome é hudartcha mas eu não tenho nada de russa não. um quase título tema ? huda ama o cinema, e tanto, que nem far-lhe-ei comparaçao, mesuras ou menções com algum personagem, de altman ? hudartcha tem uma parte do dia em que ela, nada alienadamente das suas bandeiras da realidade, respira cinema por todos os poros. é quando ela retira os fones, com o qual pilota os anúncios de varejo, e balança, creio, para não enlouquecer, como cada qual de nós desenvolve jeito de não surtar. vive-se um clima miserável, porque invariavelmente sempre há quem destôe numa agência. em nosso caso, justamente quem não deveria. mas fazer o quê? pensa hudartcha, quanto eu arrumo as coisas para ir embora. e onde fica toda esta loucura pelo cinema? no jeito-maneira de ser de hudartcha que gosta tanto de cinema que a ela não basta só ver os filmes que traz para que nós a frustemos, já que nunca conseguimos ver durante a azáfama do dia, tornando o lost, por exemplo, um lost que não acontece por acontecer. mas já vimos um capítulo um dia, onde descobrimos que não basta a hudartcha que o vejamos, ou ela própria, que o virá e revirará esmiuçando detalhes. hudartcha, só frui por completo a obra quando todos estamos juntos. e por isso ela é capaz de adiar minutos intermináveis até que todos estejamos frente ao monitor. então ela sente-se feliz e mais feliz quando todos nós alí ficamos até o fim. então ela nos revela sua maior paixão pelo cinema, quando instigados queremos saber mais sobre próximos capítulos: ela não os conta, misto de perfecionismo na não revelação de enredos e castigo por não gostarmos tanto de cinema como ela, concluo. para além do mais, em boa parte do dia, hudartcha acompanha via site de um seu professor, os lançamentos. e tem a sensibilidade não embotada pelo cuidar do varejo quase que exclusivamente, de assuntar nuances e dar dicas, com a de gozar a preciosidade de ver a história contida nos créditos finais do filme que a crítica esculachou- mais um ? – do jim carrey, uma verdadeira obra de arte num filme comercial, já não tenho mais tempo de corrigir o parágrafo que soa rançoso.hudartcha agora está em pulgas, ou seja saltitante, antecipando o prazer de assistir o mochileiro das galaxias, cujo livro senta-se ao lado do seu posto de combate, assim chamado porque é uma luta de herói fracassado, enredo de filme b, olha o ranço aí de novo, lutar contra a mediocridade nauseabunda do varejo, ainda mais insone e insane porque não é assim que o queremos fazer.
penso no mochileiro das galaxias. no título original, cuja expressão inglesa, remete-me música do credence clearwater revival. serei eu o mochileiro já pronto para deixar mais uma galáxia de agência sem atmosfera para sobrevivência das boas idéias minimamente ? ou apenas o martin, robô depressivo do enredo?
subo o volume do credence. estou despedindo-me da hudartcha, sem nem saber se está é a melhor maneira – qual mesmo a melhor maneira de se despedir ? hudartcha, que não tem nada de russa –
é o que ela pensa - também não tem nada da primavera de botticelli, mas tem o seu rafael.
chocolates, cinema e um amor amplificado por uma belo par de sub-woofers que antecipa datas de varejo, leve ironia. não seria isto um final feliz ?
não há vodka em casa, o que salva-me de um brinde invisível. previsível, à quase falta de idéia para o fecho, diria huda ,com aquele mesmo ar com que lê as críticas de cinema em alto e bom som, trazendo um pouco de inteligência ao nosso cotidiano acachapado pelas expressões dominantes do varejo:
sem firulas, mais direto, aumenta o preço, está cor o cliente não gosta o cliente isto, o cliente aquilo, que quanto a mim acabou-se sexta. e olhe que já faz algum tempo que não saio no meio de um filme antes de acabar a sessão.
meu nome e hudartcha mas eu não tenho nada de russa não. the end. e não haverá mais continuação huda. o filme acabou. e, ainda cabe mais ironia? nem haverá mais tempo para vermos as cruzadas. a epopéia agora continua sem diretor de criação, que eu nao tenho miminamente cara de orlando bloom.
Citei este Post no meu modesto pseudo-blog (é um mero 'link farm' de fato...).
ResponderExcluirÉ Absolutamente perfeito...
Conheço Huda tem um certo tempo. De umas aulas macabras de Gestão de Design eu acho...
Mas só fui 'ter proximidade meeesssmo' (os poucos andares, a Paladaria, o Bolix e o Cabelinho colaboraram com isto) um dia destes.
Como disse: Perfect! Finish Him!
caparica!? lembrou-me a costa da caparica, em portugal. já gostei só por isso. depois gostei mais ainda pelas aulas macabras.a huda esbaja paladarias, não ?
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