sábado, junho 04, 2005

firula e trocadilho é a puta que os pariu

aférese, alegoria, anacoluto, anaphora, anástrofe, antanáclase, antonomasia, apócope, apóstrofe, assindeto, catacrese, comparação, crase, díacope, diástole, diérese, ectlipse, elipse, enálage, ênfase, epanáfora, epêntese, epifonema, epizeuxe, eufemismo, haplologia, hendiadis, hiperbáto, hyperbole, hipértese, intercalação eufônica, ironia, metáfora, metalepse, metátese, metonímia, onomatopeia, pargoge, parêntese, perifrase, paranomásia, pleonasmo, polissindeto, prosopopéia (personificação), quiasmo, reticência, silepse, síncope, sinédoque, sinquise, systole, tmese, zeugma.


quando o atendimento, asssim chamado planejamento, nem assim, firula, sequer trocadilho, vem informar-me de que o cliente diz que o título: preços tão pequenos quanto as bandeirinhas, exemplo mais linear e rasteiro de (saberia dizer ele a figura ? cliente e atendimento ? ) deve ser direto, sem firulas e trocadilhos, que não quer o consumidor fazendo a operação semântica de traduzir os símbolos ou melhor dizendo índices, das bandeirinhas pequenas - que estão diminutas na barra superior do leiaute - como significantes de preços pequenos, contrariando a norma da sintaxe publicitária que busca através das figuras mais diversas, estabelecer a comunicação de forma associativa e não-direta, tenho vontade de metralhar-lhes com todas as figuras de linguagem acima - plenamente usadas na publicidade moderna – mas que foram retiradas dos lusíadas, séc. XIV.
mas não. prefiro dizer: firula e trocadilho ? é a puta que os pariu. saberia alguém dizer que figura é esta ?

In tenpo: toda agência minimante decente deveria sintetizar o livro do joão anzanello carrascoza, a evolução do texto publicitário, e fazer uma sessão a seus interlocutors de aprovação, já que seria demais pedir-lhes para ler, aristóteles, e/ou mesmo décio pignatari no seu liquidificador didático de símbolos, indices e icons, comunicação, para além dos semióticos até eco.

em 2005 a ignorância vence todos os embates dentro e fora das agencias. no pais das indiretas o discurso direto do varejo nos transforma a todos em grandes sábios imbecis. e me faz reler os primeiros anúncios de varejo do fim do século XVIII e XIX, repletos de figuras de linguagem e imensamente melhor construidos.

se a evolução da espécie dá-se pela evolução da linguagem, voltamos a ante-pré-história. e isto não é firula nem trocadilho, puta que o pariu!

chocado? algumas vezes a função das palavras também é esta. claro que o palavrão com seus significados e significantes pre-decodificados nos leva a obtenção de efeito imediato. contudo, o efeito fácil também é mais suscetível à entropia, para quem não sabe a perda de energia na emissão de comunicação. a intenção das palavras está constantemente em busca de uma função. publicitariamente, não pode haver parole fora de contrôle. por isto mesmo a construção do discurso publicitário é a mais filha da puta que pode haver. e, já que assim, empenhemo-nos em defender o nosso ofício onde tudo, ou quase tudo, com inteligência é permitido.

p.s. isto também é um texto de um pedido de dimensão, mutifacetada linguagem de despropósitos propositadamente empregada.

2 comentários:

  1. Puta que pariu?

    Ora, como disse Maria Adelaide Amaral numa entrevista, "as coisas têm os nomes que têm".

    É uma boa frase para quem nasceu no Porto e vive no Rio.

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  2. Antes tarde do que nunca, acabo de ler "E o outro vacilou. - Como a Pepsi venceu a guerra das colas", escrito por Roger Enrico, presidente da Pepsi Co.

    O livro relata os acontecimentos de quando a Pepsi mudou os seus rumosde comunicação e a Coca cometeu o erro de mudar de sabor, e entrou para a história com o maior equivoco de marketing de sempre.

    Descontando a compreensível tendência elogiosa à Pepsi, o livro mostra um mundo da publicidade que é muito distante da maioria de nós, mas que existe.

    Meu Deus, existe!

    Vendo o marketing ser jogado com estratégias de um Kasparov e firulas de um Pelé, primeiro fiquei entusiasmado, depois fiquei revoltado.

    Pô, em 1985, o caras (Pepsi/BBDO) estavam fazendo coisas muito distantes daquelas que não conseguimos chegar nem perto 20 anos depois.

    Somos, literalmente, uns retardados.

    Daí, relembro a velha máxima, que serve bem para a publicidade, e diz que a única coisa que aprendemos com a história, é que não aprendemos nada com a história.

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