quarta-feira, novembro 09, 2016

e o mundo da propaganda ficando cada vez menor* e cheio de trumps - que não o cara da foto, faça-me o favor



Um dia você vai trabalhar em propaganda, muito provavelmente numa agência.

Se você tiver a sorte de cair na criação, parabéns: sempre haverá um holofote para iluminar a sua autoestima. Essa é uma das vantagens de se trabalhar na área criativa. É lá que nascem as grandes ideias, é lá que acontece a badalação, é lá que os egos batem no teto (isso quando não explodem antes).

Por outro lado, também é na criação que se engole mais pizza: criação não tem hora para chegar na agência, não tem hora para sair, mas sempre tem uma hora certinha para entregar o trabalho. Pode reparar: quanto mais estrela o cara fica, mais gordinho, também, ele vai ficando. É o efeito pizza
.

É como uma maldição: você vai ficar famoso, vai ganhar uma boa grana, vai ganhar muitas menininhas, mas corre o risco de virar um faustinho silva antes de emplacar os 35.

Talvez você termine na mídia. É bom também. Dá o direito de deixar os caras de veículo no maior chá de cadeira. Enquanto você fica ao telefone com os figurões da Globo, a turma da imprensa nanica que se ajeite no sofá. Nessa função, você vai mexer com muita grana, e o truque é não contar que ela pertence ao cliente. E agir como se os milhões que vão para a televisão fossem todos seus.

Já imaginou o seu cartaz, chegar na namorada e mandar:
só hoje, Lili, autorizei 3 comerciais para a novela das 8 e mais 2 no Jornal Nacional. Quase 2 paus.

No atendimento, precisa tomar cuidado. Se na hora de ser contratado pedirem para você esticar os braços, é porque querem ter uma ideia de quantos layouts cabem embaixo deles. E você corre o risco de virar um leva-e-traz. Vai cansar de carregar anúncio, vai cansar da propaganda, vai cansar da vida.

Sem contar uma coisa ainda pior: numa agência em que trabalhei, fizeram a maldade de fajutar um mata-burro entre criação e atendimento. Veja que sacanagem: um lado era para os gênios, no outro ficavam os jumentos. Maldade é pouco.

Um lugar legal para ficar é na área digital. Deixe crescer uma barba de 2 dias, evite lavar o cabelo e use um tênis pedindo água (diz-se dos calçados onde a sola descolou, e eles parecem estar de boca aberta).

Sobretudo, adote o digitalês como idioma oficial do departamento. Se vier um cara do planejamento com perguntas, seja solícito:
Ô,meu, só tem 40 pixels. Vamos dar um drop-out que fica bom.

Se vier o presidente da agência, explique tudo direitinho:
Seo Sergio, são 400 hits no target. A gente dá um shut down com cross mídia, mais um enhance no set-up, não tem pra ninguém.

Se vier o financeiro, finja um desmaio. O filho da mãe vem do Ibemec.

Falando sério. Por que será que tão pouca gente faz prospecção? Conta nova é o oxigênio da agência. É a maneira mais indicada para uma agência crescer. É um seguro contra conta-que-de-repente-sai-da-agência- ninguém-sabe-porquê.

Resolvi chutar o balde. Depois de ter sido redator de várias agências, diretor de criação de quatro e sócio de outras três abri meu home-office (estava na hora) e me dedico a fazer prospecção (qualificada) e consultorias.

E capricho: quero encontrar a agência mais adequada para cada cliente. Procuro fazer o encontro entre clientes que têm potencial com agências que sabem desenvolver negócios. Casar a fome com a vontade.

Sabe da maior? A coisa começa a dar certo.

Xô, patinho feio. 

Hans Dammann
hdammann@uol.com.br    

*Prospecção: o patinho feio da propaganda? Do redator, diretor de criação, Hans dammann, falecido hoje aos 83 anos. Um dos verdadeiramente grandes da propaganda num tempo onde havia grandes bem maiores dos que hoje só ficam pela metade(menos na comissão)

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