segunda-feira, novembro 25, 2013

o outro lado dos fatos - ou pelo menos das versões - no tempo em que publicitários também interessavam-se por isto


O papel da máfia no assassinato de John F. Kennedy

A ninguém, nem à família, interessava revelar as ligações de Kennedy com a Máfia, os complôs para assassinar Fidel Castro e comprometer a CIA.



Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira
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[Nota do autor: Maiores detalhes sobre esses episódios podem ser encontrados, com as respectivas fontes, nos meus livros "Formação do Império Americano" e  "De Marti a Fidel - A revolução cubana e a  América Latina", ambos da Civilização Brasileira]

“Es una mala noticia” - exclamou Fidel Castro, ao saber do assassinato do presidente John Kennedy, no dia 23 de novembro de 1963. No momento, ele estava almoçando, em Varadero, com o jornalista francês Jean Daniel, editor internacional de L’Express, que passara antes por Washington e a quem Kenndey solicitara que o sondasse sobre a possibilidade de normalizar as relações entre Cuba e Estados Unidos, caso ele adotasse uma linha de não-alinhamento, como a da Iugoslávia [1]. Ele, outrossim, havia instruído o embaixador William Attwood, adjunto de Adlai  Stevenson na ONU, no sentido de explorar a possibilidade de acomodar a situação com Fidel Castro, mediante a cessação de suas atividades subversivas na América Latina e a completa neutralização de Cuba, com a retirada dos militares da União Soviética, que lá ainda ficaram [2].

O presidente John Kennedy, aparentemente, havia desistido de invadir a ilha, dado o alto custo político  e de vidas humanas, bem como por causa do acordo com a União Soviética, para a retirada dos mísseis (outubro/novembro de de 1962) que lá estava a instalar. E daí que passou a jogar outras cartas para resolver o problema com Cuba, antes da eleição presidencial a ocorrer em 1964.

Não obstante, ao mesmo tempo em que Kennedy experimentava abrir um caminho para a negociação, em 22 de novembro de 1963, o agente Desmond FitzGerald (1910 -1967), substituto de William Harvey como chefe da Cuban Task Force W, da CIA, apresentou em Paris, como representante pessoal de Robert Kennedy, ao major Rolando Cubela Secades, antigo dirigente do Directorio Revolucionario, representante de Cuba na UNESCO e recrutado pela CIA desde 1961, a fim de tramar o golpe de Estado, em Havana, e entregou-lhe uma caneta com um dardo envenenado, para que disparasse contra Fidel Castro, operação  esta conhecida pelo criptônimo de AM/LASH. Se Fidel Castro fosse eliminado até novembro de 1964 e se instalasse em Cuba um governo aceitável para os Estados Unidos, Kennedy poderia apresentar-se ao eleitorado americano como o presidente que impediu o avanço do comunismo no hemisfério.

Conforme alguns dos seus colaboradores, talvez a CIA não houvesse informado ao presidente Kennedy sobre o projeto AM/LASH, embora ele não tivesse preconceito contra assassinatos políticos. Quando a CIA, 1961, articulava o golpe contra Leónidas Trujillo, na República Dominicana, Kennedy declarou que os Estados Unidos, “as a matter of general policy, could not condone assassination” e também autorizou o golpe de Estado contra o presidente do Vietnã do Sul, Ngo Dinh Diem, assassinado em 2 de novembro de 1963, em negociações secretas com o Vietnã do Norte. Entretanto, em 23 de novembro, no dia seguinte à entrega da caneta com dardo envenenado a Rolando Cubelas por Desmond Fitzgerald, foi Kennedy que tombou assassinado, em Dallas, por Lee Harvey Oswald. O projeto AM/LASH fracassou como dezenas de outras tentativas de matar Fidel Castro.

O assassinato do presidente John F. Kennedy constituiu um ato de terrorismo individual, cujas causas a razão de Estado (Raison d´État) obstaculizou a investigação realizada pela President's Commission on the Assassination of President Kennedy, conhecida como Warren Commission, nome do chefe da Justiça dos Estados Unidos, Earl Warren. Sua conclusão foi que Lee H. Oswald atuara, isoladamente, assim, como Jack Leon Ruby, quando o matou na estação de polícia [3].

Houve um "covert-up", acobertamento, usual nos Estados Unidos. Embora a viúva, Jacqueline Kennedy, estivesse convencida de que seu marido fora morto não pelos comunistas, como J. Edgar Hoover e outros queriam crer, mas como resultado de uma conspiração doméstica, a ninguém, nem à família, interessava revelar as ligações de Kennedy com a Máfia, os complôs para assassinar Fidel Castro, comprometer a CIA. O presidente Lyndon B. Johnson temia que um inquérito mais profundo indicasse algum envolvimento da União Soviética e de Cuba na morte de Kennedy e tornasse inevitável uma guerra nuclear [4], ou, quiçá, por algum motivo pessoal.

No entanto, após exaustiva investigação, o Select Committee on Assassinations of the U.S. House of Representatives (HSCA), estabelecido, em 1976, constatou que foram dois os atiradores que dispararam contra o presidente Kennedy, que o terceiro tiro partiu de Lee Oswald e que, com bases nas evidências disponíveis, se podia assentar "that President John F. Kennedy was probably assassinated as a result of a conspiracy" [5].

O professor G. Robert Blakey, chefe do Conselho e diretor da equipe da House Select Committee on Assassinations, e Richard N. Billings, diretor editorial da House of Commmitte e antigo diretor da revista Life, assinalaram que Lee Oswald tinha estabelecido significativas conexões com ativistas anti-Castro e o crime organizado, e afirmaram que “we concluded from our investigation that organized crime had a hand in the assassination of Presidente Kennedy” [6].

De fato, todas as evidências apontaram para a existência de um complô, com a participação da CIA e da Máfia e de cubanos asilados [7]. Segundo o gangster Sam Giancana, Lee Harvey Oswald trabalhava para a CIA, participara de uma série de sessões de intensivo treinamento em inteligência, quando servira como marine, servira como espião na União Soviética, onde se casara, em Minsk, com Marina Prusakova, e tinha ligações com a Máfia desde a juventude [8]. Quando voltara aos Estados Unidos, em 1962, proclamava-se abertamente a favor de Fidel Castro e não só distribuíra material de propaganda do Fair Play for Cuba Committee [9] como tentara obter, no México, visto para Cuba, que lhe foi várias vezes negado [10].

Ele estava preparado para representar o papel do terrorista no complô contra Kennedy [11] . Tinha características similares às de  Marinus van der Lubbe, o autor do incêndio do Reichstag, na Alemanha (1933) [12] e que fora fichado como comunista, de acordo com o plano dos dois próceres do nazismo, Joseph Goebbels e Hermann Goering, a fim de possibilitar que Adolf Hitler obtivesse poderes extraordinários e implantasse a ditadura, legalmente, sem revogar uma linha sequer da Constituição de Weimar.

A CIA, logo após o assassinato, havia elaborado um Memorandum com as informações de que Lee H. Oswald estivera no México, entre 23 de setembro 2 de outubro, e visitara o vice-cônsul Kostikov [13], conhecido agente do KGB, especialista em sabotagem, e previu que ele seria assassinado, a fim de que nada pudesse revelar às autoridades americanas, se estivesse realmente envolvido em uma conspiração estrangeira. E cumpriu-se a previsão.

Dois dias depois, 24 de novembro, Lee H. Oswald foi executado por Jack Ruby, proprietário de cassino em Dallas e, vinculado ao crime organizado de Chicago [14]. Ele prestara serviços à Máfia, contrabandeando dinheiro de Cuba, nos anos 1950, quando o sargento Fulgencio Batista era o ditador. Sua eliminação, dentro da própria estação de polícia, sob o olhar impassível dos detetives, que o agarravam para impedir qualquer reação, teve como objetivo impedir que ele revelasse a extensão do complô. Tornava-se necessário apagá-lo [15].

Sam Giancana revelou ao irmão Chuck, que escreveu suas memórias, haver escolhido Jack Ruby para executar essa tarefa, porquanto ele havia trabalhado com a CIA, na invasão da Baía dos Porcos, e sempre tivera entendimento com os policiais de Dallas [16].  Cada homem envolvido no complô para matar Kennedy recebeu US$ 50.000,00, revelou Sam Giancana, confessando que ele, pessoalmente, ganhara milhões em petróleo, “from the wealth right-wing Texas oilmen” [17].

O complô, no entanto, não se restringiu aos membros da Máfia, Jimmy Hoffa, Sam Giancana, Johnny Rosselli, articulados com Frank Fiorini Sturgis, que também trabalhara com a CIA na invasão da Baía dos Porcos e recrutara Marita Lorenz para envenenar Fidel Castro [18].  Giancana afirmou que o complô envolveu “right up to the top of the CIA” e "meia dúzia de texanos de direita fanáticos, o vice-presidente Lyndon Johnson" e Richard Nixon, que havia encorajado os preparativos para a invasão da Baía dos Porcos, sob o governo do presidente Dwight Eisenhower [19].

O general Alexander Haig, secretário de Estado no governo de Ronald Reagan, declarou que o presidente Lyndon Johnson, de quem fora assessor, acreditou até morrer que o “obsessivo desejo” de matar Fidel Castro [20], alimentado por Bob Kennedy, estava por trás do assassinato e  ressaltou que a existência do grupo secreto, que o tramava, não fora revelado à Comissão Warren nem à opinião pública, e o operação de cobertura visou a proteger a reputação do Presidente [21].

O jornalista Seymour M. Hersh escreveu que o custo de uma completa investigação seria muito alto, porquanto revelaria a verdade a respeito do presidente Kennedy e de sua família [22] , os vínculos com Sam Giancana e Johnny Rossely, que se consideravam traídos por causa do processo contra eles movido por Bob Kennedy, como procurador-geral. Robert Kennedy talvez por isso se evadiu de prestar depoimento perante a Warren Comission [23]. O custo seria, realmente, muito alto.

A investigação revelaria que Sam Giancana, que lhe fora apresentado por sua amante (de ambos) Judith Campbell Exner, ajudara-o durante a campanha presidencial nas eleições primárias em West Virgínia e Chicago, juntamente com outros gangsters, tais como Joseph Frischetti e Meyer Lansky, e entendimento com a Máfia foi intermediado por Frank Sinatra e conduzido por seu pai, Joseph Kannedy.

Os que tramaram o assassinato do presidente Kennedy, provavelmente, tiveram o propósito de compelir os Estados Unidos a invadir Cuba, sonho acalentado pela Máfia, pelos Cuba Project plotters da CIA e do Pentágono [24], assim como pelos mobsters Sam Giancana, Johnny Rosseli, Joseph Frischetti, Meyer Lansky, Santo Trafficante e outros capi da Máfia, ansiosos para reabir os cassinos em Havana.

Estavam todos inconformados com o esforço de Kennedy para conseguir uma acomodação com Fidel Castro. Frustraram-se, porém. Lyndon B. Johnson (1963-1968), ao assumir a presidência, não deu maior atenção ao conflito com Cuba, como o fizeram os irmãos Kennedy, que se deixaram dominar pelo compulsivo anseio de revanche, após a humilhante derrota da Brigada 2506 em Playa Girón. Em 7 de abril de 1964, ordenou à CIA que cessasse as operações de sabotagem e não mais participasse dos raids contra Cuba, assim como cancelou um plano elaborado durante a administração de Kennedy para uma segunda invasão, que deveria ocorrer entre março e  junho de 1964 [25].

Entre 1975 e 1976, quando Senate Select Committee to Study Governmental Operations with Respect to Intelligence Activities (Church Committee), tratou de esquadrinhar as ações da CIA, FBI etc., seu presidente, o notável senador Frank Church, do Partido Democrata, ampliou seu raio  de investigação até o assassinato de Kennedy e intimou vários gangsters a prestar depoimento. Nenhum, porém, pôde comparecer perante o Church Committee. Foram misteriosamente assassinados, a fim de que não rompessem ou traíssem o código de silêncio, a omertà.

San Giancana, que mantinha relações pessoais com Kennedy e colaborava com a CIA para matar Fidel Castro, morreu com um tiro na nuca e seis em torno da boca, em 19 de junho de 1975 [26]. “Undoubtedly, Giancana was murdered to prevent him from talking about CIA-Castro plot or any other Mafia secret”  - afirmou o advogado do gangster (mob lawyer) Frank Ragano em suas memórias [27]. Cerca de dez dias depois, em 30 de julho de 1975, o líder sindical James (Jimmy) R. Hoffa, vice-presidente da Teamsters Union, que fizera doações para a campanha de Nixon, desapareceu, misteriosamente, quando viajava para encontrar-se, em Detroit, com o gangster Anthony Giacalone [28]. Ele também estava convocado pelo Church Committee, dado ter ligação com os gangsters Santo Trafficante, proprietário de extensa rede de jogo em Cuba, fechada por Fidel Castro, e Carlos Marcello, cujo nome aparecera vinculado ao assassinato de Kennedy. Sam Giancana, conforme seu irmão Chuck, revelou que articulara, antes dele próprio ser assassinado, a execução de Hoffa, por solicitação da CIA, tarefa empreendida por cinco soldados: dois de Chicago, um de Boston, um de Detroit e um de Cincinnati [29].

Muitos anos depois, em 14 de janeiro de 1992, o New York Post afirmou que Hoffa, Santo Trafficante e Carlos Marcello participaram do complô para matar Kennedy. O advogado Frank Ragano, em suas memórias, confirmou que, em começo de 1963, Hoffa lhe incumbira de levar a Trafficante e Marcello mensagem relativa a um plano para assassinar Kennedy: “The times has come for your friend and Carlos to get rid of him, kill that son-of-a-bitch John Kennedy” – disse-lhe Hoffa [30].

Quando o encontro se realizou no Royal Orleans Hotel, Ragano falou: “Vocês não acreditarão no que Hoffa quis que eu lhes dissesse. Jimmy quer que vocês matem o Presidente”. Ambos - Trafficante e Marcello – deram-lhe a impressão de que pretendiam efetivamente executar a ordem.

Em sua autobiografia, publicada em 1994, Ragano contou ainda que, em julho de 1963, Hoffa lhe mandara outra vez a New Orleans, com outra mensagem sobre o assassinato de Kennedy. Conforme contou, Carlos Marcello, Santo Trafficante e Jimmy Hoffa tiveram de fato importante participação na morte de Kennedy [31].

Santo Trafficante odiava Kennedy e dizia haver ele traído os cubanos anti-Castro, não dando apoio aéreo à invasão da Bahia dos Porcos, em 1961 [32]. Hoffa, por outros motivos, destestava também os Kennedy [33]. E todos esperavam que Lyndon Johnson, ao assumir a presidência, demitisse Bob Kennedy da procuradoria-geral [34] e cessasse a investigação por ele promovida contra o crime organizado.

Os Kennedy haviam violado o compromisso assumido pelo pai, Joseph Kennedy, quando buscou seu apoio financeiro e político para a campanha do filho, John, em 1960 [35]. Com efeito, alguns poderosos chefões da Máfia e Frank Sinatra, a eles vinculado, apoiaram financeiramente a campanha de Kennedy, o que foi constatado por um agente do FBI, em New Orleans, em março de 1960 [36]. Sam Giancana e os mobsters do nordeste dos Estados Unidos, sobretudo de Chicago, julgavam que haviam colocado John Kennedy na Casa Branca e tinham direito a um "quid pro quo" [37]. Todos, os cubanos anti-Castro e os mobsters, julgavam-se também traídos [38].  Seu assassinato configurou, portanto, uma vendetta.


NOTAS 


[1] Schlesinger Jr., 1965, pp. 998-1000. U.S. Senate - Alleged Assassination Plots Involving Foreign Leaders, pp. 173 e 176.

[2] Memorandum by William Attwood, Washington, September 18, 1963;  Memorandum for the Record. Subject: Minutes of the Special Meeting of the Special Group, 5 November 1963. Washington, November 5, 1963; Memorandum from William Attwood to Gordon Chase of the National Security Council Staff, New York, November 8, 1963. Ibid. pp. 868 a 870, 878 e 879 .

[3] Report of the President's Commission on the Assassination of President Kennedy - United States Government Printing Office - Washington, D.C. U.S. Government Printing Office, Washington : 1964

[4] Trento, 2001, pp. 265-270.

[5] Report of the Select Committee on Assassinations of the U.S. House of Representatives - Union Calendar No. 962 - 95th Congress, 2d Session - House Report No. 95-1828, Part 2 - Findings and Recommendations March 29, 1979.--Committed to the Committee of the Whole House on the State of the Union and ordered to be printed - U.S. Government Printing Office, Washington: 1979.
http://www.archives.gov/research/jfk/select-committee-report/


[6] Blakey & Billings, 1981, pp.  177-180.

[7] Ibid.,  pp. 173, 174 e 176. Schlesinger Jr., 1965, p. 1029.

[8] Giancana & Giancana, 1992, pp. 330-333.
[9] Movimento em favor de Cuba existente no Estados Unidos, sustentado em grande parte pelos militantes do Socialist Works Party (trotskista) e também pelo Partido Comunista, com apoio financeiro, ao que tudo indicava, do Governo de Havana.
[10] Hinckle & Turner, 1992, p. 241. .Dobrynin, 1995, pp. 112.
[11] Sam Giancana explicou que Oswald nunca foi simpatizante de Castro, porém “CIA all the way”, um fuzileiros naval treinado para falar russo e infiltrar-se na União Soviética. Hinckle & Turner, 1992, pp. 271 e 272.

[12] Em 1933, agentes da Gestapo induziram Marinus van der Lubbe, doente mental e fichado como comunista a empreender o incêndio do Reichstag (Parlamento alemão), conforme a idéia de dois próceres do nazismo, Joseph Goebbels e Hermann Goering. Esse que permitiu a Adolf Hitler obter poderes extraordinários e implantar a ditadura, legalmente, sem revogar uma linha sequer da Constituição de Weimar.

[13] U.S. Senate - The Investigation of the Assassination of President John F. Kennedy: Performance of the Intelligence Agencies, Book V, Final Report of the Select Committee to Study Governmental Operations with Respect to Intelligence Activities, April 23, 1976, pp. 91 e 92.
[14] Hersh., 1997, pp. 450 e 451.  Hinckle & Turner, 1992, p. 246.
[15] Vide Bakley & Billings, 1981, p. 279.
[16] Giancana & Giancana, 1992, pp. 330-333.
[17] Id., ibid., p. p. 332.
[18] Frank Fiorini Sturgis foi um dos cinco que arrombaram o Comitê Nacional do Partido Democrata, no complexo hoteleiro de Watergate, em 1962.
[19] Giancana & Giancana, 1991, p. 333.
[20] Johnson, após o assassinato de Kennedy, comentou: “Kennedy tried to get Castro, but Castro got Kennedy first”. Haig, 1992, 114.

[21] Id., ibid., p. 115.
[22] Hersh, 1997 , p. 456.
[23] A Warren Commission on the Assassination of President Kennedy foi criada por uma order executive do presidente Johnson. Seus trabalhos foram presididos Earl Warren, chefe da Justiça da Suprema Corte. Sua conclusão de que o assassinato de Kennedy resultou de um ato individual de Lee H. Oswald não convenceu e as controvérsias sempre existiram.
[24] Hinckle & Turner, 1992, p. 239.
[25] Essa decisão Johnson tomou, não porque respeitasse a soberania de Cuba, e sim porque Robert Kennedy, a quem odiava, era o mentor do projeto.
[26] Giancana & Giancana, 1992, pp. 353-354.

[27] Ragano & Raab,  1994, p. 325.
[28] Em 1983, Hoffa foi declarado legalmente morto.

[29]Giancana & Giancana, 1992, p. 354.
[30] Ragano & Raab, 1994, pp. 144-145

[31] Id., ibid., pp. 348-349.
[32] Id., ibid., p. 154.
[33] Dallek, 2003, p. 299.
[34] Ragano & Raab, 1994, p. 359.
[35] Id., ibid., p. 358.
[36] Dallek, 2003, p. 298.
[37] Ragano & Raab, 1994, pp. 357-359.
[38] Id., ibid., p. 357.




1 Comentário

Orlando F. Filho - 23/11/2013
Kennedy acabou com os negócios da mob na ilha, gigantescos e milionários, envolvendo drogas, prostituição, inclusive grandes canaviais, pois queriam seu antigo poder de volta. A Igreja Católica ficou ao lado dos mafiosos contra a reforma agrária. Bom, não é de espantar, né? 
misterwalk, acrescenta o complemento abaixo, também extraído da carta capital, sim claro, of course, a publicação dos caras que comem fígados de criancinhas no café da manhã.


O ato final de Kennedy: aproximar-se de Cuba
Peter Kornbluh - especial para o La Jornada


Nos dias que antecederam o seu assassinato, o presidente estadunidense explorava ativamente uma aproximação com Cuba e trabalhava em segredo com Castro.


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O aniversário de número 50 da morte violenta do presidente estadunidense John F. Kennedy nos projeta um segredo longamente guardado: após o assassinato em Dallas, Fidel Castro enviou uma mensagem por canais discretos a Washington pedindo para reunir-se com a comissão oficial que investigava o magnicídio, para dissipar os crescentes boatos de que Cuba era a responsável. A comissão, encabeçada pelo presidente da Suprema Corte de Justiça estadunidense, Earl Warren, enviou um de seus advogados, o afro estadunidense William Coleman, em missão clandestina para reunir-se com o líder cubano em um barco no Caribe.

Coleman contou, em entrevista ao repórter investigativo Philip Shenan, a primeira relacionada com esta reunião ultrassecreta, que falaram durante três horas. Apesar de pressionar o líder cubano no tema dos vínculos de Lee Harvey Oswald com Cuba e a sua misteriosa visita à embaixada cubana no México antes do assassinato, Coleman informou a Warren: não encontrei nada que me fizesse supor que existem provas de que ele [Castro] o fez. De fato, pese ao acontecido em Playa Girón, a crise dos mísseis, os complôs para assassinar gente em Cuba e o embargo comercial, Castro insistiu em que admirava o presidente Kennedy.

Segredos e teorias conspiratórias

Nos Estados Unidos, o aniversário da morte do jovem presidente gerou uma cobertura massiva nos meios de comunicação: documentários especiais para a televisão, uma onda de livros e artigos novos, um novo filme feito em Hollywood.
Inevitavelmente, surgem novas teorias que discutem mais uma vez as possíveis conspirações relacionadas com quem matou Kennedy e por quê. A Comissão Warren concluiu que Oswald, solitário enlouquecido que se declarava marxista, agiu sozinho quando disparou no presidente. Mas o sigilo do governo estadunidense, em particular que a CIA retivesse informação de seus esforços ultrassecretos para assassinar Castro, e da vigilância que exerceu sobre Oswald quando visitou a Cidade do México (protegendo suas operações de coleta de informação de inteligência no México), levantou suspeitas de que alguém encobria algo. A Casa Branca tampouco compartilhou detalhes extraordinários, como que a atitude de Kennedy em relação a Cuba teve um giro significativo, sendo Cuba um país central em qualquer discussão histórica do impactante assassinato do presidente em Dallas.

Quase imediatamente depois do assassinato cometido no dia 22 de novembro de 1963, os inimigos da revolução cubana começaram a plantar acusações de que o pró castrista Oswald havia conspirado com Cuba para matar o presidente. Em Nova Orleans, onde Oswald criou o comitê “Joguemos Limpo com Cuba” (de apenas um membro), um grupo de exilados com respaldo da CIA, chamado Direção Revolucionária Estudantil (Revolutionary Student Directorate), publicou um boletim no dia 23 de novembro, com um retrato de Castro junto a uma foto de Oswald.

Seis dias depois do assassinato, o diretor da CIA, John McCone, informou ao novo presidente, Lyndon Johnson, que um agente de inteligência nicaraguense no México, Gilberto Alvarado, havia advertido a nossa estação [no México] com grande detalhe sobre o suposto fato de que no dia 18 de setembro viu Oswald receber 6,5 mil dólares na embaixada cubana na cidade do México. Alvarado afirmava que o dinheiro era o pago para matar o presidente.

A CIA suspeitou de imediato da credibilidade desta informação porque o FBI tinha provas concretas de que Oswald estava em Nova Orleans no dia 18 de setembro; os documentos de imigração mostravam que não havia viajado ao México até 26 de setembro. Alvarado foi retido em uma casa de segurança da CIA e depois entregue às autoridades mexicanas para que continuassem interrogando-o. Este não passou no detector de mentiras dessa agência e se retratou de suas afirmações. De acordo com o relatório ultrassecreto da CIA “O assassinato do presidente Kennedy”, Alvarado admitiu diante das autoridades mexicanas que seu relato era uma fabricação desenhada para provocar que os Estados Unidos tirassem Castro de Cuba a chutes.

Castro também observava acontecer uma conspiração, muito diferente. No dia 23 de novembro transmitiu uma declaração pela rádio cubana na qual qualificava o assassinato de Kennedy de conspiração maquiavélica contra nosso país, que tentava justificar, de imediato, uma agressiva política contra Cuba... construída com o sangue ainda morno e o corpo insepulto de seu presidente, tragicamente assassinado. “Oswald”, declarou Castro, “pode ter sido um instrumento dos setores mais reacionários que estiveram tramando esta sinistra conspiração, e que podem ter planejado o assassinato de Kennedy por estar em desacordo com sua política internacional.”

No momento em que acontecia essa dramática declaração, Castro sabia algo da política internacional de Kennedy que o resto do mundo não soube: nos dias que antecederam o seu assassinato, o presidente estadunidense explorava ativamente uma aproximação com Cuba e trabalhava em segredo com Castro para instaurar negociações secretas com o fim de melhorar as relações. Em novembro de 1963, Cuba não tinha razões para assassinar Kennedy porque estava envolvida na criação de uma diplomacia por canais secretos que poderia ter conduzido à normalização das relações. No mesmo momento em que se cometeu o assassinato, Castro mantinha uma reunião com um emissário que Kennedy havia enviado a La Habana em missão de paz.

Conversas secretas Cuba-EUA

As conversações entre Cuba e Estados Unidos começaram, ironicamente, após um flagrante ato de agressão de Washington: a invasão paramilitar de Playa Girón.
Depois da vitória cubana sobre uma incursão armada que contou com apoio da CIA, o presidente e seu irmão Robert Kennedy enviaram ao advogado James Donovan para negociar a liberação de mais de mil membros da incursão que foram capturados. Durante o curso de várias sessões de negociação, no outono de 1962 Donovan conduziu um acordo para abastecer a ilha com 62 milhões de dólares em alimentos e remédios em troca da liberação dos prisioneiros. Este homem não apenas obteve a liberdade dos prisioneiros, mas a confiança de Fidel Castro.

Na primavera de 1963, Donovan regressou a Havana várias vezes para negociar com Castro a liberação de duas dúzias de estadunidenses – três deles agentes da CIA – presos em cárceres cubanos sob acusação de espionagem e sabotagem. Durante o curso destas reuniões, pela vez primeira vez Castro expôs o ponto da restauração de relações. Dada a acrimonia e a hostilidade do ocorrido no passado recente, como poderiam os Estados Unidos e Cuba procederem com o assunto? perguntou a Donovan.

Lee Harvey Oswald que, segundo a pesquisa oficial, disparou no presidente
Sabe como os porco espinhos fazem amor? Respondeu Donovan.Com sumo cuidado. E é assim que vocês e os Estados Unidos deveriam proceder com esse assunto.

Quando o relatório de Donovan sobre o interesse de Castro em sentar-se para conversar a fim de normalizar relações chegou à mesa de Kennedy, a Casa Branca começou a considerar a possibilidade de um enfoque doce em direção a Castro. Os ajudantes de maior graduação argumentaram que os Estados Unidos deveriam exigir de Castro que deixasse para trás suas relações com os soviéticos como precondição de qualquer conversa. Mas o presidente se impôs; ordenou seus assistentes mais próximos que começassem a pensar em temos mais flexíveis ao negociar com Castro, e deixou claro, segundo alguns documentos revelados pela Casa Branca, que se mostrou muito interessado em prosseguir nesta opção.

Em abril de 1963, em sua última viagem a Cuba, Donovan apresentou a Castro uma correspondente da ABC News, Lisa Howard, que havia viajado a Havana para realizar um especial televisivo sobre a revolução cubana. Howard substituiu Donovan como interlocutora central neste prolongado esforço secreto para entabular as primeiras conversações sérias, frente a frente, para melhorar as relações. Em seu retorno de Cuba, a CIA se reuniu com ela em Miami e a interrogou sobre se havia um claro interesse de Castro no melhoramento das relações. Em um memorando ultrassecreto que chegou à mesa do presidente, o diretor adjunto da CIA, Richard Helms, informou: definitivamente Howard quer impressionar o governo estadunidense com dois dados: Castro está pronto para discutir uma aproximação e ela está pronta para discutir o assunto com ele, se o governo dos Estados Unidos pedir.

Como era de se esperar, a CIA se opôs fortemente a qualquer diálogo com Cuba. A agência tinha a autoridade institucional para prosseguir com seus esforços de frear a revolução por meios encobertos. Em um memorando apressado que foi enviado à Casa Branca no primeiro de maio de 1963, o diretor da CIA, John McCone, solicitou que não se desse, pelo momento, nenhum passo na aproximação e pressionou para que Washington fosse o mais limitado em suas discussões em torno de um processo de acordo com Castro.

Mas no outono de 1963, Washington e La Habana ativamente empreenderam passos em direção a negociações reais. Em setembro, Howard utilizou uma festa em sua casa de Manhattan, na rua 74 leste, como cobertura para a primeira reunião entre um funcionário cubano (o embaixador nas Nações Unidas Carlos Lechuga) e um funcionário estadunidense (o embaixador adjunto na ONU William Attwood).

Attwood disse a Lechuga que pelo menos havia interesse da Casa Branca nas conversações secretas, se existia algo do que falar. Também apontou que a CIA maneja a política com Cuba. Após a reunião, Castro e Kennedy utilizaram Howard como intermediária para começar a passar mensagens em torno dos possíveis acordos para efetuar uma sessão de negociações entre ambas as nações.

No dia 5 de novembro, o sistema de gravações secretas do Salão Oval de Kennedy registrou uma conversação com seu assessor em segurança nacional McGoerge Bundy, sobre se enviar William Attwood (que nesse momento servia como adjunto do embaixador estadunidense Adlai Stevenson nas Nações Unidas) para reunir-se em segredo com Castro.

Bundy disse ao presidente: Attwood tem agora um convite para ir falar com Castro sobre as condições e termos sob os quais estaria interessado em discutir suas relações com os Estados Unidos. Se escuta o presidente aceder à ideia, mas pergunta se é possível tirar Attwood da nômina antes que vá, para saneá-lo, fazendo-o ver como um cidadão qualquer, em caso de que vazasse o rumor da reunião secreta.

No dia 14 de novembro, Howard combinou que Attwood fosse a sua casa e falasse por telefone com o assistente principal de Castro, Rene Vallejo, tentando obter a agenda dos cubanos para uma reunião secreta, em La Habana, com o comandante cubano. Vallejo aceitou transmitir uma proposta ao embaixador Lechuga, que informaria os estadunidenses. Quando Attwood passou esta informação a Bundy na Casa Branca, este lhe disse: quando receber a agenda, o presidente vai querer ver-me na Casa Branca para decidir o que dizer e se há que ir [à ilha] ou como proceder.

Isso foi em 19 de novembro, lembra Attwood. Três dias antes do assassinato.

O ato final de Kennedy

Mas Kennedy também enviou a Castro outra mensagem de potencial reconciliação. Seu emissário, o jornalista francês Jean Daniel, se reuniu com Kennedy em Washington para discutir o assunto Cuba. O presidente lhe deu uma mensagem para Fidel Castro: são possíveis melhores relações, e ambos países devem trabalhar para pôr fim às hostilidades. No dia 22 de novembro Daniel passou essa mensagem a Castro, e os dois a discutiam com otimismo no almoço quando Castro recebeu um telefonema informando que haviam disparado contra Kennedy.

“Isso é terrível”, disse Castro a Daniel, dando-se conta de que sua missão havia sido abortada pela bala de um assassino. Ali ficou a missão de paz.

Então Castro previu com precisão: vão dizer que nós o matamos.

Entre as controvérsias que continuam em torno de possíveis teorias conspirativas, o que se perde na discussão histórica do assassinato é que o último ato de Kennedy como presidente foi aproximar-se de Castro e oferecer a possibilidade de uma relação bilateral diferente entre La Habana e Washington. Cinquenta anos depois, o potencial que Kennedy avistou, em relação a uma coexistência entre a revolução cubana e os Estados Unidos, tem ainda que cumprir-se. Como parte da comemoração de seu legado, devemos recordar, reconsiderar e revisar sua visão de um cessar as hostilidades no Caribe.

(*) Peter Kombluh dirige o Projeto de Documentação sobre Cuba no Arquivo de Segurança Nacional em Washington e é coautor, junto a William LeoGrande, do livro de próxima aparição Talking with Cuba: The hidden history of diplomacy between the United States and Cuba

(**) Tradução ao espanhol: Ramón Vera Herrera

(***) Tradução ao português: Liborio Júnior

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