- Celso Muniz o problema maior não é confundir trabalho com arte. é confundir trabalho com emprego;) ou seria vice-versa?
Celso Muniz pois é cristiano: só que neste caso a semântica não está nas estantes, nem nas teses. está nas práticas diárias do comportamento antiprofissional em tudo. a começar da postura de nao encarar agência como um local de trabalho duríssimo - não custa lembrar que era a profissão que mais matava no mundo, segundo a oms(agora deve matar de tédio) - quer moleza? há cargos de vida mansa em pedreiras ora, pois,pois - e sim, a troca da noção de trabalho pela de emprego(cabides inclusos) na mais rasa correspondência ao caricato do emprego público(horas a mais nas redes, e de menos tentando pegar a pequena idéia que seja com o puçá)(até o truque do paletó sobre a cadeira é copiado com o blazer da zara ou o moleton da(escolham a griffe) isso é fato. não me julgo reclamão, porque sou burro de carga. nem incompreendido, porque sempre fui muito claro nos meus erros e acertos. e nunca me frustei, porque o meu gênio gostava de conviver com restos de lâmpadas queimadas nas madrugadas tentando acender algo mais que as idéias mediocres. agora, quando você começa ser destestado - entre outras coisas, of course - porque gosta de trabalhar, é porque a semântica chegou de vez para lhe fuder o emprego. no caso destes que falamos é o emprego que chegou para fuder o trabalho.
Cristiano Souza É verdade, Celso. Sua conclusão é perfeita como sempre. E diante dela, o que podemos fazer? O relógio não volta. E mesmo se voltasse, eu não gostaria. A questão é: O que podemos fazer com tudo que aprendemos? Jogar na vala-comum da irrelevância? Ou mesmo, simplesmente deixar para lá? Podemos retransformar muita coisa ainda. Eu ouvi uma vez que, por não entender o novo, comecei a endeusar o antigo. Bem, entendi o novo e ele continua sendo superficial e descartável. Meu trabalho é criar desejo nas pessoas e não fazer videocases fake para divulgar uma ótima ideia, que ninguém vai ver. Tenho um compromisso com minha devoção, que é a comunicação. Pode parecer utópico, mas a revolução ainda está acontecendo, não vamos desistir dela. Vamos pegar as rédeas, tira-las das mãos dos vaselinas, dos preguiçosos e dos que acham que comunicação é algo menor. E se, no meio do caminho, formos odiados, que seja. O objetivo é maior.
Celso Muniz bem cristiano, não sei se sou a pessoa mais sensata e capaz de responder a meta-pergunta com um instrumental mais amplo do que a minha visão que dizem ser suicida do negócio. sou um publicitário típico dos anos 70. quando a formação e os objetivos eram outros. saido do jornalismo - que criticava tanto a publicidade mas era capaz de engendros piores do que os dela - fui para a publicidade porque disseram que eu era bom tituleiro: aquele cara que fecha as matérias junto com o diagramador que vai pedindo: duas linhas, dezoito toques, tres linhas, 12 toques, sem margem de errro, e assim por diante (sem computador para encaixar titulos nos espaços) nas madrugadas, tempo em que os jornais de domingo, saiam aos domingos - fotolito, composição em linotipo e tudo o mais - fazia os títulos de todas as secções, economia, policia, política,cidade, e até os da primeira página, já que era secretário de redação. com o vê, a atração pelas madrugadas já estava nas veias. como escrevi alguns artigos chamando governadores de assassinos(ronaldo cunha lima),secretários de segurança de medíocres, fiquei sem emprego;) e quando descobri que a publicidade pagava até 100 vezes o que ganhava, lá fui eu ser um redator publicitário de segundo time - aquele que cobre o primeiro mas ganha um terço do que eles ganhavam, e tem seu nome na ficha de inscrição para cannes retirado estrategicamente. bom, mas isso são só detalhes.
nestes tempos, havia um compromisso menos intelectual e diria mais emocional com o fazer bem feito. éramos crianças saindo do patinete para brincar com aviões. faziamos duas três campanhas numa só noite só para competir internamente - o que era ótimo para a agência e cliente, apesar de algumas voos acima do teto(verba e pertinência;) - e éramos felizes. havia sacanagens, má gente, intrigas? sim, mas o saldo do trabalho era tão bom que isso era o de menos. voltando ao tema, do que aprendemos quando as agências se tornaram modelos de negócio capitalistas saindo da esfera da superestrutura(de pensar os bordões do sistema) para a função imediatista da caixa registradora, de repente, não mais do que de repente, descobriu-se que propaganda dava dinheiro, e muito, e mole, se comparado com outros negócios - com uma sobretaxa que gerou episódios burlescos e grotescos. depois os clientes descobriram que aquele luxo todo era pago por eles ao tempo em que as novas gerações formadas em faculdades chegavam para standartizar o pensamento(todos formatados e não formados). formados eram os do departamento de criação ou do atendimento, que antes sabia seu lugar. gente de letras, sociologia, escultura, química, matemática, física, arquitetura, politica, biblioteconomia, arquitetura e o que mais você pensar. iconoclastas por natureza, que não se adaptaram as suas profissões(sim médicos e engenheiros, muitos, também)que chegaram à praia da publicidade nadando em todos os estilos, portanto geradores de pensamento diferenciado, porra-louca até, porém bem fundamentado. a weeltanschauung (a visão de mundo) era ampla, o conceito de liberdade que por um lado ainda era herança frustada dos hippies estava no lead do liberdade é uma calça azul,velha e desbotada( enquanto hoje é calça jeans levanta bum-bum, com leiautes pum pum). eu, por exemplo, anos 80, atendia o banco nacional, e lá os jingles eram feitos por zé rodrix, sá e guarabira. minhas vinhetinhas arranjadas pelo maestro cipó e erlon chaves( hoje um zé mané de teclado comprado no shopping tacaruna faz ou nem isso, pega-se um programa e pronto(trilionésima versão do mais do mesmo) ou seja: excetuando-se a mais rombuda obtusidade ou mediocridade e até uma certa burrice, você estava amparado por um corpo e cabeças que tinham qualidade inata e inquestionável e que não deixavam você comer ou fazer merda.lá pelos anos 90 a fonte começou a secar ainda mais( de talentos e verbas) houve a a ascenção do blefe do planejamento como canivete suiço no lugar dos samurai. e entraram em cena as grandes corporações transformando as já transformadas agências em caixas registradores em cartões de crédito consignado. ai fudeu tudo. acabou-se o domínio da ideia como produto de venda. o que se vende agora é solução sem ideia. aliás, quando menos ideia melhor. ideia só atrapalha o esquema do planejamento estratégico que é o homem - ou a mulher do tarot - que faz previsões de tudo, e como a mulher do tarot ou sahara de iemanjá, erra noventa por cento do que prediz.
parecia haver esperança com a criação das hot-shops, pequenas agências com potencial criativo ilimitado, impulsionadas pela atmosfera do modismo de plantão: o pensamento de guerrilha. só que as hot-shops, incialmente criadas por talentosos publicitários insatisfeitos com os rumos e muros de alumínio e vidro, onde a ideia padecia de inanição - nem água de coco podia tomar, só suplementos e aquelas coisas que dizem ter menos h20 e muito h - fizeram também as hot, moeda de troca, para voltar as estruturas grandiosas como diretores associados. era chique um conglomerado adquirir um agência dita criativa para informar ao mercado que estava investindo aguerridamente na criação(mccann fez isto com a sra. rushmore, menos mal, e aqui no brasil, com a já debilitada w/brasil, um cu de resultados: mudou alguma coisa criativamente?). assim sendo,o quadro não apresenta muitas saídas, já que a competência profissional real não é reconhecida nem assim remunerada. e o que é pior: se você tem o mínimo senso profissional vai ficar encalacrado porque se disser a verdade, perde o cliente, porque foi metido, desrespeitoso, em suma, não lambeu o cu do diretor de marketing tosco ou da estagiária amante do vice presidente. não vejo muita solução, ainda mais num mercado como o nosso, onde, para piorar, todo mundo se acha publicitário - até dono de agência - e publicitário muito bom, o que nos fode mais ainda.por estas e outras, dada a minha total incapacidade de mentir além e dentro da conta, declarei-me incompetente para o ofício de então, muito embora, ironicamente, tenha criado alguns projetos que decolaram imediatamente por conta de serem criativos e verdadeiros, e feito com gente que estava na merda. acontece que o sujeito está na merda, implorando por uma oportunidade, e quando ela chega, ele te abençoa aos céus e diz que dinheiro não importa. que o que importa é estar agora tabalhando e fazendo um bom trabalho. o dinheiro começa a entrar, e o cara que vivia com uns frilás que mal davam mil reais por mês - e passou a ganhar 3,5,8, - começa a se esquecer da dureza e começa a se transformar em consumidor ensandecido. o corsa que lhe cabia agora tem de ser um civic, e por ai vai. por conta disto, começa a brigar -eu admito, escolhi sempre péssimamente os meus sócios - por fazer concessões para manter o faturamento quando faturamento chegou até ali justamente por não fazer concessões. então é como diz o ditado português: é a pescadinha com o rabo na boca ou seja o peixe que come o próprio rabo, neste caso come a própria cabeça com o rabo. para mim, o fato concreto é que sem um bom caráter por trás do profissional ele desanda tudo. há caras que são bons no que fazem mas péssimos de caráter e formação, que são capazes de vender a mãe e passar recibo. e fazem isto para com os clientes, que obviamente não são burros e passam a perceber que gente assim não é confiável e facilmente descartável porque há mais de cem lá fora querendo vender a mãe, a cunhada e irmã caçula, por um preço mais baixo ainda. eis o retrato mal tirado da nossa profissão atualmente. estagiário, posando de diretor de arte com tres meses de agência, se diz sênior com seis(antes levava-se no mínimo uns oito anos para diretor de arte, e cinco para redator poder dizer que eram sêniores e ainda assim a agência travava muita gente-por conta de salário também) nerds que se dizem diretores de novas tecnologias, geeks que gerenciam departamentos digitais, que sabem fazer aquelas pantomimas que nos deixam a nós mais velhos com cara de ultrapassados mas não pecebem nada de gente, que é a grande questão alvo do nosso trabalho. as pessoas se esqueceram que por trás de números,infográficos, redes e toda aquela chanchada toda de nomes em inglês(sim, com tem nome em inglês agora para denominar os mesmos bull shits de sempre) há gente que peida, caga, sofre, ri, chora, à toa ou de verdade, com bons ou maus valores, mas que enfim é o velho ser ser humano de sempre que ainda é movido por emoção. e emoção e identificação profunda e não descartável a serviço da comunicação de marketing de marcas, só se consegue gerar com ideias e nunca com tecnologia(ainda não somos robôs).enfim, todo o problema atual é que perdemos os parâmetros. não só estéticos e de grandezas realmente maiores mais sobretudo de um termo - que me falta agora - que traduz bem esta situação. o termo caracteriza a situação em que você perde de vista o objetivo maior da vida para se concentrar nos excessos de posses que te dão a ilusão de estar aproveitando a vida melhor(muito marxista isto não?) ou seja, quando você tem, por exemplo, um bom automóvel, ou casa vá lá que seja, conseguido pelo bom trabalho que fez, e se permite fazer merda para ter dois carros ou uma casa maior ainda quando você já tem espaço sobrando na sua. eu, decididamente, não vou além da minha conta. deve ser porque tenho um pensamento medíocre - não sou o gênio que anuncia a agência revolucionária do recife, como a bam bam das novas tecnologias de rede e comunicação de nicho e das idéias diferenciadas( porque dizem, o mercado mudou e anúncio é coisa de quem não sabe inovar - isto em duas páginas em jornal de domingo - do diretor de criação que prediz o short list de cannnes, que tem peças selecionadas para anuários de causas nobres - eu já acho um filho da puta o cara que faz anúncio para as crianças que perderam pernas e braços em angola por conta das minas só para ganhar leão dizendo que não(para que inscreve então)? e sim, ao fim ao cabo faz um anúncio de 1/4 de página para a rede globo nordeste(outra pulhice de comunicação institucional de péssima qualidade - pra quem um dia teve a agência da casa -) mas tão fedorento, tão fedorento, de leiaute, de texto, de tudo, que até o meu gato desistiu de cagar em cima(os gatos são animais extremamente limpos você sabe). então, quem sou eu para me meter a cavalo do cão se sigo os passos do meus gatos e tento me manter longe da catinga.? não sou joana d´arc sem fogueiras. já briguei muito - nunca por privilégios para mim e sim para minha equipe - peitei clientes para o bem deles e para o bem da agência. e como reconhecimento consegui ser detestado por todas as partes. então, como não faço a linha coitadinho, nem capitulei ,fui cuidar de outras roças onde bosta tem a função de fazer crescer flores que cheiram bem ou capim que dá caldo. recaídas são de quando em vez cometo a besteira de atordoar os pacientes, e os intermitentes, com tijolos iguais a este. e ai, levo na cabeça de novo. bem feito por querer ser mais book do que face.
o blog que dá crise renal em quem não tem crise de consciência. comunicação, marketing, publicidade, jornalismo, política. crítica de cultura e idéias. assuntos quentes tratados sem assopro. bem vindo, mas cuidado para não se queimar. em último caso, bom humor é sempre melhor do que pomada de cacau.
terça-feira, julho 10, 2012
derivações no facebook ou quando o assunto é propaganda
Uma das coisas mais chatas que existe é publicitário reclamão, incompreendido, gênio frustrado e que adora falar mal da profissão. Eu adoro o que faço. Poucos empregos me permitiriam conviver em ambientes vivos, com pessoas divertidas e ainda ser pago por isso. A questão é que alguns PUBLICITÁRIOS confudem o trabalho com arte e para mim, foi e sempre será trabalho duro, garimpando qualidade e oportunidades em meio a razões sem sentido, briefings ralos e prazos insanos. Sendo assim, se você reclama do seu trabalho, acha que seu potencial não é plenamente utilizado ou coisa que o valha, meu querido ou querida, saia do mercado, vá escrever seu livro, pintar seu quadro ou ficar em casa tomando leite com pera(Cristiano Souza).
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