quinta-feira, dezembro 15, 2011

agora, imaginem em jaboatão

O que move as pessoas é a percepção, não a realidade. Caminham em função daquilo que acreditam ser, não necessariamente, do que é, de verdade. Sintetizando, a percepção, mais que a própria realidade, é a “realidade” que conta.

Há 35 anos a qualidade de vida na cidade de São Paulo degringolava. As pessoas incomodadas procuravam alguma alternativa de final de semana, ao menos para atenuar o cansaço, na expectativa de que um dia a cidade encontraria soluções para os problemas de trânsito, segurança, e outros serviços básicos e essenciais. Nesse momento um empreendimento pioneiro oferecia o melhor de dois mundos: todas as facilidades, possibilidades e oportunidades da metrópole, sem os desconfortos e constrangimentos da cidade grande, a uma distância mais que conveniente. Nascia naquele momento ALPHAVILLE, referência de solução para todos esses e muitos outros problemas. Uma espécie do melhor de dois mundos.

Hoje, 35 anos depois, a realidade é outra. ALPHAVILLE virou, segundo muitos moradores, um inferno pior que a cidade de São Paulo, razão de sua origem e existência. Mas, a fama de ALPHAVILLE permanece muito maior do que sua realidade. E assim, novos e bem-sucedidos lançamentos de ALPHAVILLES vão se multiplicando pelo país. Até porque, e como iniciamos, a percepção sempre prevalece sobre a realidade.

Na segunda semana de novembro de 2011 a revista SÃO PAULO da FOLHA de S. PAULO fez um amplo balanço daquele que nasceu e ainda é reconhecido como “condomínio dos sonhos das grandes metrópoles”. Conclusão da revista: “ALPHAVILLE, ou, SÃO PAULO?”. No início, o único inconveniente ou ponto negativo de ALPHAVILLE era a distância. Hoje, a distância continua a mesma e todos os problemas típicos das cidades grandes estão presentes no “condomínio dos sonhos”.

Mesmo sendo ainda um pouco – um pouco só – mais barato o preço dos terrenos, casas e apartamentos, existir um pouco – um pouco só- a mais de segurança, a distância curta pelo adensamento do trânsito já não é tão curta assim, os congestionamentos internos são frequentes, falta transporte público nos diferentes condomínios assim como calçadas em outros, em alguns residenciais não existe tratamento de esgoto, e a falta de água e luz é frequente.

A partir deste ano o número de moradores insatisfeitos engrossam os grupos de relacionamento no FACEBOOK. 500 deles saíram em marcha pelo condomínio no dia 5 de maio usando nariz de palhaço e batendo em panelas, e o residencial dos sonhos agora é uma ilha cercada de prédios comerciais por todos os lados.

Que aquilo que aconteceu com aquela que é, ainda, e enquanto perdura a percepção, uma referência em tentativas de se atenuar os problemas do adensamento populacional nas grandes metrópoles, sirva de lição para todos os novos empreendimentos, e seus futuros moradores.

Para que não venham a repetir o que a psicóloga KÁTIA PEUCKERT declarou à FOLHA, “Quando vim para cá, nos anos 1980, tinha gente que chamava ALPHAVILLE de fim de mundo. Agora, está virando Terceiro Mundo”. Ou, como comentou outro morador, THOMAZ ASTOLFI, “somos pessoas que compraram um estilo de vida que não existe mais, de calma, de natureza. Se continuar do jeito que está, ALPHAVILLE em breve será pior do que SÃO PAULO”.

(alphaville, realidade e percepção, do madia, que neste fim de ano está tornando os papais-noéis de certas empresas ainda mais vermelhos de raiva).

Em tempo: muitos dos que se mudaram para ALPHAVILLE deram marcha a ré e retornaram para São Paulo. Descobriram que eram felizes e não sabiam.

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