sábado, agosto 27, 2011

o executivo disfarçado de artista


A essa altura todo mundo já sabe – ou pior, já deve estar saturado com o assunto: Steve Jobs entregou o posto de CEO da Apple para Tim Cook, até então COO, e passou a ser chairman do board da empresa.

Muitos estão dizendo que essa é uma mudança meramente simbólica já que Cook exercera a posição de CEO interino durante as licenças médicas de Jobs, e que há tempos já é efetivamente responsável pelo dia-a-dia da empresa. Mas pouco se questiona o fato de que essa mudança representa o início do fim da influência de Steve Jobs na Apple, e marca uma passagem importante: começar a administrar seu futuro sem a presença de seu fundador.

Uma questão bastante discutida é se Cook pode ser um executivo tão competente quanto Jobs. Acho que essa é uma questão de importância secundária: o mercado está cheio de bons, ótimos, excelentes executivos. Dos milhões de executivos que se formam, se aperfeiçoam e progridem em suas carreiras todos os dias, há de sair pelo menos um à altura. Se por algum motivo o plano de sucessão falhar, certamente acharão um bom substituto para ele.

Mas o impacto e a comoção com a saída de Jobs do cargo de CEO - que tomaram todo o noticiário e as redes sociais imediatamente após seu anúncio - não aconteceram por ele ter sido um bom executivo.

Jobs tem outra qualidade, mais importante, mais rara e mais vital para a Apple continuar sendo como é: a de artista. Como artista, Jobs é visionário e obsessivo.

Visionário, porque ele tem um ideal muito claro e preciso de como o mundo à sua volta deveria ser. Obsessivo, porque não mede esforços, não preserva relacionamentos e não poupa recursos pra fazer esse ideal ganhar vida.

Foi por essas qualidades de seu líder que a Apple promoveu rupturas tão profundas nas categorias de mercado em que atua. Mas um resultado ainda mais impressionante do que o financeiro, foi a enorme influência na cultura popular que a marca exerceu sob o comando de Jobs. Sem tamanha influência na cultura popular, certamente a Apple não teria se tornado a empresa mais valiosa do mundo.

Influência cultural é algo que importantes marcas já perceberam ser a chave para ganhar espaço no mundo atual. Jonathan Mildenhall, VP de Estratégia Global de Publicidade e Excelência Criativa da Coca-Cola, declarou em Cannes que o objetivo da marca é "conquistar um espaço desproporcional da cultura popular".

Sim, as marcas já estão entendendo a importância disso. O desafio, agora, vai ser implementar esse pensamento. Não é uma tarefa fácil, porque implica mudar uma série de atitudes-chave na forma como elas enxergam sua atuação no mercado.

Significa mudar processos de inovação, abandonando aperfeiçoamentos graduais vindos de R&D e buscar rupturas bruscas com o status-quo.

Significa parar de delegar para os consumidores a decisão sobre o que fazer, e usar sua visão e sua obsessão para inspirá-las.

Significa parar de querer agradar gregos e troianos, e focar em construir uma cultura da qual as pessoas queiram tomar parte.

Significa olhar menos para o que você tem a perder, e mais no que ainda precisa ser mudado.

Significa ser menos executivo e mais artista.

Jobs deixa a Apple como a empresa mais valiosa do mundo, que cresceu 100 vezes em valor de mercado desde que reassumiu a empresa em 1997.

No papel de administrador, foi muito eficiente. Mas, talvez ainda mais significativa, seja a posição de vantagem avassaladora em que ele deixa a Apple enquanto influenciadora da cultura popular. Para seus concorrentes, ainda há muito trabalho ser feito.

O que deveria nos preocupar não é apenas o futuro da Apple. É o futuro de tantas marcas que ainda abraçam modelos obsoletos e pouco eficientes.

( artigo é do rodrigo maroni, diretor de planejamento e estratégia digital da dm9ddb, que titulou-o como o artista disfarçado de executivo.
ao inverter o título, solto a faísca ou a bufa sobre a compreensão e o equívoco sobre o que é ser verdadeiramente um gestor fora dos padrões que atribuem o cacoete da inconformidade ao artista e ao executivo a visão entre quatro paredes. a grande verdade é que temos "artistas" demais e executivos de menos. daí a razão do negócio da propaganda estar numa decrescente qualitativa, diria, sem retorno.quando o executivo deixa de ousar o "artista" sucumbe junto e vice-versa. como diria sêneca, nós não entramos em dificuldades porque ousamos nós nos dificultamos simplesmente porque não ousamos. já está mais do que na hora defenestrar o modelo max gehringer, juntamente com o do artista temperamental e pseudosensível.

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