o blog que dá crise renal em quem não tem crise de consciência. comunicação, marketing, publicidade, jornalismo, política. crítica de cultura e idéias. assuntos quentes tratados sem assopro. bem vindo, mas cuidado para não se queimar. em último caso, bom humor é sempre melhor do que pomada de cacau.
domingo, junho 29, 2008
copy na cabeça
“Never let their toys die”, afirmam os quatro anúncios que compõem a campanha destacada com o Grand Prix de Press do Festival de Cannes 2008. Um trabalho que, com certeza, entrará para os anais da competição como um dos mais memoráveis da história da propaganda mundial. Por quê? Falam por si as imagens das quatro peças, em todos os detalhes que as compõem, sem exigir mais texto do que a frase “the world’s longest lasting battery” para promover os benefícios do produto, função básica e, pode-se dizer, atualmente, banal de qualquer peça publicitária. Porque essas quatro imagens falam muito além do briefing elaborado pelo cliente, cuja principal preocupação é, de praxe, obter share of market.
Na África do Sul, profissionais da DDB e da Energizer parecem ter estabelecido, de certo modo, um vínculo de cumplicidade que derruba barreiras do comodismo e do medo de ir além com esta campanha absolutamente relevante em seu contexto de veiculação, ao contribuir para o despertar de uma consciência humanitária na tenra fase em que o caráter do ser ainda é semente, por isso, precisa ser regado para fortalecer raízes e não crescer com seu vigor comprometido por negligência de pais e educadores.
É incrível, porém, o fato de a grande maioria dos anunciantes e publicitários ainda não ter se apercebido de que para falar bem de si mesmo – ou de um produto, ou de um serviço – nada é mais conveniente, no mundo conturbado em que vivemos, do que simplesmente “falar” o bem. Obviamente, falar ou propagar o bem não é missão que possa se exigir de um trabalho de cunho publicitário, muitos dos quais recebem milhões de dólares ou euros de investimentos com a intenção de defender lideranças de mercado, entretanto, será mesmo que os efeitos desejados continuarão sendo atingidos exclusivamente pelas novidades tecnológicas inventadas, pelo uso de uma linguagem que favorece a inclusão no meio visado, pela piada pronta ou inusitada? Se, ao pensar na resposta para essa questão, os publicitários e anunciantes são tomados por mais dúvidas, é porque o feeling das pessoas mais sensíveis está dando sinais de alerta bem claro de que tudo está mudando muito mais rapidamente do que já mudou em toda da a história da humanidade, motivo pelo qual talvez não haja tempo para pensar muito na resposta, ou seja, é preciso agir.
Agir pelo bem quando uma marca, produto ou serviço acredita que pode “falar” o bem em vez de permanecer no lugar-comum de quem fala bem somente de si mesmo, almejando que sua fala seja reproduzida por formadores de opiniões em grau de abrangência suficiente para que o público-alvo lhe seja receptivo e fiel. "Quem acredita que pode" não pode, neste caso, ter o o "rabo preso".
Duas meninas loirinhas cospem em alguém que passa, lá embaixo, em qualquer rua da África do Sul. Um garotinho loirinho pensa em pintar de vermelho seu pequeno cachorro de estimação que, como ele próprio, precisa de amor e cuidados materiais para viver. Um garoto loirinho coloca em risco sua parceira loirinha em pleno parque de diversão, local no qual estamos acostumados a sonhar com a paz na Terra. E outro garoto loirinho mostra à sua parceira, também loirinha, o pênis que o diferencia da ainda inocência feminina que pode vir a se transformar num complexo de castração em breve. Tanta coisa para pensar com apenas uma rápida leitura de quatro simples peças publicitárias que têm o propósito primário de lembrar ao consumidor que pilhas Energizer não podem faltar nos lares dos moradores da África do Sul. Assim como não pode faltar quem eduque e conscientize as crianças de hoje – não apenas na África do Sul – para que amanhã os adultos não sejam preconceituosos, não sejam maldosos, saibam respeitar o semelhante de qualquer sexo ou preferência sexual e sintam sincero afeto pela natureza e os animais.
Este Grand Prix do Festival de Cannes 2008 é merecedor, com todas as letras, do Grand Prix que lhe foi outorgado. Mais do que isso. Este Grand Prix é fundamental para que os publicitários e os anunciantes nunca deixem a propaganda morrer.
(não deixem a propaganda morrer, da gisele centenário)
p.s. não é a imagem que é contudente apenas. é o conceito da campanha, cujo impacto é arrematado por um copy que vai além da epiderme. never let their toys die é trabalho de copy e não de redatores medíocres que não conseguem simplificar para ir mais fundo.
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Now playing: cátia de França - coito das araras
via FoxyTunes
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