quinta-feira, maio 17, 2007

azul marinho ou cinza/gray ?

Por aqui, na verdade, as idéias é que valem pouco.

Os ditados populares costumam traduzir muito bem os costumes e valores de uma sociedade. Outro dia, fiquei matutando sobre isso depois de ler a coluna do antropólogo Roberto da Matta, publicada no jornal O Globo, sobre o valor das idéias.

Entre outras coisas, Da Matta chamou a atençao dos leitores para a frase "quem sabe faz, quem não sabe ensina". Muitos de nós já ouvimos esse ditado ou até repetimos, certamente sem pensar muito no que dizíamos. Na verdade, esse dito apenas reproduz um conceito arraigado em nosso país, de que as açoes valem mais do que as idéias.

O antropólogo, craque em pinçar do cotidiano exemplos que explicam o funcionamento do coletivo brasileiro, observa que em nosso país o sucesso está bem mais associado as realizaçoes do que ao domínio abstrato das idéias. "Como um povo que na sua longa fase escravista cultivou o analfabetismo e a mais bestial ignorância, e na modernidade republicana (cultivou) a desigualdade social baseada no 'diploma', as letras sempre foram vistas com desconfiança" - escreveu Da Matta.

De fato, muitos poderosos, formados pela 'escola da vida', sao reverenciados nas ruas e nas empresas, em funçao do espírito empreendedor nato e da coragem. Eu também aplaudo esse pessoal, mas nem por isso desvalorizo seus opostos, pessoas que se dedicam a estudar e analisar comportamentos, situaçoes e mercados, antes de decidir por determinada estratégia. Entretanto, essa classe, da qual me esforço para fazer parte, costuma ser menosprezada pelos demais e rotulada pejorativamente de 'teóricos' e 'acadêmicos'.

Nesse cenário, nao espanta a dificuldade que muitas agências enfrentam em convencer seus clientes a pagaram pelas idéias que produzem na forma de peças criativas ou estratégias de comunicaçao. Faz parte da nossa cultura valorizar a entrega e desmerecer o caminho intelectual percorrido até lá. Por isso também as 'sacadas' publicitárias continuam proliferando a despeito da indigência estratégica.

Em nosso país e em nosso mercado, infelizmente, as idéias ainda valem pouco.

(artigo do marinho ontem, no bluebus. pra ficar melhor, transporte isso para mercados ainda mais pequenos onde a idéia é antes de tudo tornada anti-idéia, e experimente propor a remuneração por fee ou seja, o pagamento pela idéia e não pela veiculação, produção ou sabe-se lá mais o quê).

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