segunda-feira, março 19, 2007

de(e)feitos só de ecos?


1. “Você precisa sair dessa. Não pode se misturar com jornalistas que não entendem nada de criação”.

Cansei de ouvir isso quando criamos, Armando Ferrentini, Cícero Silveira e eu, o Prêmio Colunistas, há quarenta anos. Naquilo que me dizia respeito, o Prêmio tinha sido criado para valorizar o pessoal de criação, que naquele momento dava início a uma virada histórica na propaganda brasileira. No entanto, não foi assim que eles entenderam. Muitos deles, inclusive, iniciaram uma cruzada que acabou desaguando no prêmio de Clube de Criação de S. Paulo.

Eles me pressionavam, mas eu insistia. Estava convencido de que, naquele momento, um Prêmio seria saudável para a publicidade brasileira que era estimulante e dava visibilidade e trazia respeito aos que nela trabalhavam.. Sabia, também, que se eu abandoasse o barco o Prêmio naufragaria. Afinal, éramos apenas três colunistas no Brasil. Com o afastamento do Cícero, alguns anos depois, restamos nós dois, Armando e eu, mais o Fernando, que se juntou a nós na ocasião.

Mas não foi fácil. Tínhamos contra, a turma que, por convicção, não queria o Prêmio. Além dos que concorriam, não ganhavam e nos chamavam de incompetentes. Lembro-me de uma frase famosa, do Neil Ferreira:

“Prêmio é justo quando eu ganho. Quando perco, é marmelada.”

Um dia, o diretor de criação de uma agência onde eu trabalhava deu-me o ultimato:
Ou você abandona o colunismo e o prêmio, ou deixa a agência. Deixei a agência.

2. Será que havia outra razão para tanta insistência?

Certa vez, na Almap, o Plínio, um redator extraordinário, disse-me: o pessoal da criação estava conversando a seu respeito, e não conseguiu chegar a uma conclusão – você se expõe desse jeito porque quer poder ou dinheiro? Achei graça da cara que ele fez, quando lhe disse nem, uma coisa, nem outra.

Mas havia – aliás, continua havendo – outra razão, sim: sempre achei que falamos pouco, publicamente, sobre a nossa profissão. Raramente ressaltamos seu papel, na sociedade. No máximo afirmamos algo parecido como a propaganda, é a alma do negócio, mola do progresso e vai por aí afora. Coisa antiga.

O resultado é isso que estamos vendo aí: deixamos a sorte do setor nas mãos da ABAP, que, convenhamos, vive para defender o interesse das maiores agências brasileiras, que raramente coincide com o universo do setor. Afnal, ela reúne. pouco mais de 7% do total. E como não admite que nos reunamos para conversar, ficamos fragilizados. Tomamos porrada de tudo quanto é lado e não reagimos. É o preço do silêncio: se apanhamos de um lado não nos comprometemos de outro, preocupados apenas em ganhar dinheiro. Quanto mais, melhor.


3. No livro “Deixa eu Falar” (Summus Editorial), título grafado assim mesmo, entre aspas, Roberto Menna Barreto faz um diagnóstico, quando afirma, entre outras coisas, que não conhece outra profissão “que pense tão pouco, em extensão e profundidade, sobre si mesma... Os criadores, quando de fato fecundos e brilhantes, quase invariavelmente desprezam intimamente a profissão... De modo geral, os verdadeiros talentos criadores em propaganda, mormente quando assalariados, a exercem “em legitima defesa”, com vista a metas pessoais de segurança e lazer, extravasando aqui e ali indisfarçável dose se constrangimento... Tais talentos, fora do expediente, tendem a espairecer e “ pensar em algo mais importante”... anda que inteligentes, operativamente capazes, alguns com notável sendo de lideraça, estão genericamente a anosa-luz de qualquer padrão de intelectualidade... Realmente, o mesmo núcleo responsável por lances de efeitos indiscutíveis sobre imensas parcelas da sociedade possui.genericamente falando e com indubitágeis exceções, um nível intelectual miseravelmente baixos.”

É essa a imagem que você quer para você? Eu não quero pra mim. Quero que minha família e meus amigos continuem me olhando com respeito.Por isso, vou continuar berrando. Mantendo minha janelinha aberta para que fale, através dela, quem tiver disposto a falar.Faço-o sem nenhuma ambição de poder.Ou de riqueza. A dignidade é o meu lucro.

silêncio, o prejuizo e o lucro, do eloy simões.

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