quinta-feira, fevereiro 08, 2007

e o rato não roeu a roupa do rei de roma ou relacionamentos que acabam antes de começar

Há alguns anos, quando prestava uma consultoria para uma empresa em Tijucas, lembro-me de ter ouvido uma confissão de minha cliente, dona de uma pequena loja de departamentos. Ela queria saber se eu conhecia alguém que a auxiliasse a pensar estratégias de vendas. Fiquei surpresa, pois ela já estava bem assessorada (pela pessoa, inclusive, que me indicou o trabalho). Então testemunhei o desabafo. Sim, o consultor de vendas era bom, criativo, competente, mas ela não estava gostando porque ele era muito espaçoso. Sempre se convidava para tomar café, forçava uma relação informal, era um simulacro de amigo-de-infância. Ela ficava sem jeito e não sabia mais o que fazer. Queria um profissional, não um amigo.
Essa história me veio à lembrança quando li, há alguns dias, que cientistas britânicos descobriram que os camundongos não gostam de queijo. Ao contrário do mito popular, os ratinhos apreciam mais o sabor adocicado presente nos grãos e nas frutas. Para o paladar deles, o queijo tem cheiro e gosto fortes demais. Na falta de outra iguaria, vai um parmesão mesmo, mas, segundo esses estudiosos, as ratoeiras (pelo menos as inglesas) seriam muito mais eficientes se funcionassem com pedacinhos de doce.
Então, de onde veio essa história de que ratos adoram queijos? Quem inventou essa falácia? Não consegui descobrir nenhum indício. Mas talvez tenha vindo do mesmo lugar de onde saiu a lenda de que clientes gostam de relacionamentos. Sabe-se lá como, tal afirmativa virou lei, e ai de quem duvidar.
Vou falar por mim: prefiro ser apenas bem atendida e não fico de maneira nenhuma ofendida se o dono da padaria da esquina, que é uma simpatia, não me oferecer um desconto no mês do meu aniversário. É claro, ele não sabe a data. Você acredita que ele nunca me pediu para preencher um cadastro?
Estou farta de lojas que querem saber o meu endereço de e-mail para me entupir de promoções que supostamente me interessam; que me enviam cartões de felicitações como se fossem da minha família; que me ligam para dizer que chegou a nova coleção de sapatos que são a minha cara. Só quero lojas confortáveis, atendentes educadas e um caixa eficiente e rápido. É pedir demais? Só que a maioria das redes com programas de relacionamento peca justamente no feijão-com-arroz. No afã de descobrir suas preferências (Camembert? Roquefort? Brie? Provolone?) acabam fazendo você passar fome.
Meus relacionamentos, escolho eu. Não acho justo ser coagida a me relacionar com uma loja (ao preço de um longo cadastro obrigatório, verdadeira ratoeira) se só quero o básico: competência, gentileza, educação, eficiência. Itens que seguramente dispensam seus dados pessoais mais particulares.
É , acho mesmo que as referências nessa área deveriam se espelhar mais nos cientistas britânicos e menos nos ratos

(sobre ratos e relacionamentos da lígia fascioni no acontecendo aqui)

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