sexta-feira, dezembro 15, 2006

job pra que te quero ou tem muita coisa que não bate coisa com coisa

Não. Não é o trabalho que eu odeio. Odeio essa palavra. Por quê? Porque é um estrangeirismo, é mais um que invade a nossa praia. Neste caso específico, desta palavra que não vou mais escrever, a culpa é do mercado publicitário, que a-d-o-r-a anglicismos. Se o nome da coisa significa trabalho, então porque não usar simplesmente trabalho? Alguém vai poder cobrar mais caro por utilizar a palavra em inglês? Somos mesmos uma bestas, colonizados escumalhas assumidos, não acreditamos que somos donos da nossa terra. E o pior: não damos valor a ela.

Preferimos dar nomes de prédios com nomes de cidades dos Estados Unidos, Green Park, Red Valley, Oklahoma. Temos um repertório vastíssimo de termos originais e relacionados com a nossa cultura indígena mas isso fica para uso restrito em aulas de Antropologia. Ou então em papos-cabeça de udi-grudis que salvam o mundo a cada rodada de cerveja.

Fala sério, um case não pode ser um caso? Ou caso é só para quem tem amante? E Branding então? Pode? É construção de marca. Então escreve a fala: construção de marca. Todo mundo vai entender. Brain Storm é ótima. Merece parágrafo inteiro. O "boss" da agência (CEO para os mais modernos) chega e convoca a cambada toda pra aquela famosa reunião de onde certamente sairá uma idéia genial da próxima campanha. Até a mulher que serve cafezinho tem sua chance de opiniar. E se vier dela a melhor idéia? E não é que veio. Na hora, ganhou roupa nova paga em oito vezes na Renner e virou trainée... O telefone toca e a secretária justifica, ninguém pode ser interrompido. O interlocutor insiste, quer saber o que está acontecendo. "é um tal de braistoch", responde ela, fazendo voz de locutora.

Vamos sair do mercado publicitário, porque a esta altura a categoria já me xinga bastante, em inglês, espero. Antes de cambar de bordo, lembro de uma que é um "must" (saiu mais uma): Outsourcing. Daí, é assim. Quem sabe o significado usa a expressão com naturalidade. Quem ouve e não sabe, faz um ar blasé de que entendeu. Não tem a mínima idéia do que se trata, mas não pergunta nada porque considera que isso será um atestado de burrice. Imagina, não saber falar sobre outsourcing ou downsizing. Um absurdo. Melhor de tudo é ler que a fulana agora é cake designer. Muito legal. Na verdade, ela é uma doceira. Mas como a clientela é chique e tem bala - socialites - coloca cake designer no cartão e aí pode cobrar mais caro. Quer estacionar? Chame um vallet. Ele vai entregar um flyer, não tem? É que a festa é do tipo open bar e open kitchen. Tem chill out e lounge. Sofá não tem. Não está escrito que vai ter. Olha só, adoro quem sabe usar o verbo coisar. Estou tentando aprender. Daqui a pouco chego lá.

odeio job, adoro coisar, do marcos heise

talvez o marcos tenha razão. só ontem eu, que não sei nem conjugar o verbo to be no present tense, usei quase uma dúzia de termos.
por outro lado, também estou cansado de ver um bando de mba de ladeira arrotar sabedoria de gogó porque a mama pagou-lhes um curso de inglês em casa de burguês.
bluff por bluff fico com a imperfeição dos sotaques das verdades do meu.

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