sexta-feira, outubro 06, 2006

e você qual é a da sua cotinha no negócio ?

Algumas coisas me impressionam muito na Cotinha. Uma delas é sua capacidade de permanecer a mesma durante anos. De fazer as coisas como sempre fez. Por mais que o mundo gire, por mais que gente de fora lhe cerque a vizinhança, por mais que o mar já não traga mais tanto peixe.

Mas o fazer sempre igual da Cotinha não é um fazer qualquer não. Trata-se de um fazer daqueles onde o pensamento, a emoção, a alma e o corpo se unem orquestradamente para executar aquilo que os teóricos chamam de um fazer por excelência. Ou seja, inteiro, centrado, cheio, com a consciência e a responsabilidade de quem quer fazer a diferença, por mais simples que seja a coisa a ser feita.

Tal qual a Cotinha, as agências de propaganda também me impressionam pelo seu fazer. Só que, ao contrário dela, o fazer das agências é desprovido de excelência. Não me refiro ao negócio da comunicação em si. Refiro-me aos processos, a operação, que no caso das agências é um “fazer nas coxas”. Aliás, “fazer nas coxas”, não por acaso, é uma expressão corrente no meio.

De fato, do ponto de vista da gestão da qualidade, as agências figuram entre as organizações mais arcaicas. Parecem ser geridas pela dinâmica do caos. Do cotidiano de uma agência brota um encadeamento de atropelos, mal entendidos e refações sem fim. O negócio é “matar” o job, a qualquer custo.

Decorre disso que as agências têm constatado que quanto mais produzem, menos dinheiro entra. E aí produzem mais, para que mais dinheiro entre. Só que produzem mais com menos qualidade, o que resulta em uma sensação ilusória de produtividade. Sim, porque um trabalho mal feito, certamente terá que ser refeito ou não trará resultados. E quando se refaz trabalho, a produtividade cai e o custo aumenta.

Mas, fora os danos causados às instituições ou à atividade da comunicação, na verdade quero ressaltar os danos causados aos profissionais, vistos, neste contexto, como um recurso organizacional a ser maximizado em termos de resultado físico mensurável. Ou seja, as pessoas, ao exercerem uma função profissional, devem funcionar como máquinas, excluindo-se a condição primeira e única de ser humano.
A realidade é que as agências têm se tornado sinômino exacerbado de competição, trabalho, cobrança, caos e tensão. E ausência total de ludicidade, emoção e satisfação.

Fico pensando o que a Cotinha diria se soubesses que o trabalho nas agências de propaganda é um fardo. Fico pensando qual é o barato de se trabalhar sem estar envolvido no trabalho? Que prazer há num fazer mecânico, sem encantamento, sem gosto?
Talvez por isso, os publicitários, sobretudo os mais conscientes, encontrem-se exaustos de si próprios e da dinâmica que os cercam. Eu penso que antes do negócio da propaganda ir mal, na verdade quem está muito pior são os publicitários. Tristemente insatisfeitos com o fazer sem graça e sem sentido que a propaganda se transformou.

O fazer nas coxas, por nega rosi* no acontecendo aqui.

(* segundo jailson de souza, editor do www.acontecendoaqui.com.br : " A partir de agora contamos com a participação de Nega Rosi. Uma legítima manezinha, que não largou o pirão com farinha, mas que passou a se deliciar com os quitutes do mundo publicitário. D. Nega, como é carinhosamente chamada, é prima-irmã de D. Cotinha, nativa do Ribeirão da Ilha, um verdadeiro baluarte desta terra de casos e ocasos raros.
D.Cotinha é depositária de alta estima e consideração por parte de D. Nega, com quem, freqüentemente, busca inspiração e conselhos.
A participação da D. Nega busca, por um lado, resgatar um pouco da cultura açoriana e, por outro, contribuir para o exercício das reflexões sobre o mercado.
Si tu gostarex dus pitacux da D. Nega, ti apruma em mandá recadinhus pra ela, qui ela vai goxtá muintjo, vissi?)

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