terça-feira, fevereiro 14, 2006

talento e coisa parecida não se misturam

1.O dono da agência estava desolado. Recebeu, com a maior pompa de que foi capaz, o novo diretor de marketing do cliente. Passeou com ele pela agência, mostrou como ela está bem instalada, demonstrou que possui equipamento de última geração, e nada: o ilustre visitante limitou-se a observar – “e a sua equipe? Quero conhece-la.”

O dono da agência ainda tentou desconversar. Há dias fizera – como, aliás, era seu hábito – uma “limpeza” na agência. Botou quase todo mundo na rua, e ainda estava tentando contratar. O que não era fácil, porque todo mundo sabia o que, periodicamente, ocorria por ali.
O diretor de marketing insistiu: “cadê o diretor de criação? Quero cumprimenta-lo. Tem feito um excelente trabalho pra mim.”
O dono da agência não pode atender: o elogiado criativo também tinha sido demitido. O diretor de marketing ouviu uma explicação qualquer – que explicava mas não justificava.
A visita terminou em um ambiente gelado. A relação cliente-agência começava a ser interrompida ali.

2. Uma notícia surpreendeu, recentemente, o mundo dos negócios: a Disney comprou, por 7,4 bilhões de dólares, a Pixar, do lendário Steve Jobs. Duas outras surpresas ocorreram quando mais detalhes do negócio foram revelados: Jobs, apesar de vendedor, passou a ser sócio,com 6% das ações da Disney; e assumiu a chefia da área de animação dessa empresa.
É bom lembrar: a Disney possui parques temáticos, redes de televisão (ABC e ESPN, inclusive) , emissoras de rádio, estrutura estúdio de animação, para distribuição de filmes e produtos derivados, além de uma fantástica imagem que começa a ser arranhada pelo fraco desempenho da empresa e um faturamento anual de 30 bilhões de dólares. Perto dela, a Pixar era uma anã: tinha apenas um estúdio que faturou ano passado 273 milhões de dólares.

3. Se é assim, o que levou a poderosa Disney a desembolsar 7,4 bilhões de dólares, tornar Jobs dono de parte das ações da empresa e ainda nomeá-lo chefe da área de animação?
Talento.
Talento que, infelizmente, boa parte dos donos de agência menospreza ao remunerar mal quem o tem e, em muitos casos, a demitir de forma indiscriminada. E que, por isso, perdem excelentes negócios.
Talento que Jobs considera tão importante que já determinou: a Pixel passa a ser da Disney, mas as equipes de uma e outra não se misturam. Trabalharão separadamente, porque é preciso permanecer imaculado.

e o talento engoliu a tecnologia, do eloy simões

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