quarta-feira, fevereiro 15, 2006

quarta ah portuguêsa: no brasil, belmiro não aprendeu a sambar apesar de só ter sambado

Proposta polêmica do homem mais rico de Portugal coloca a operadora de telefonia móvel do Brasil num momento de decisão

Chama-se Belmiro de Azevedo o empresário português que chacoalhou o mundo corporativo na semana passada. O homem mais rico de Portugal, dono de uma fortuna de 1 bilhão de euros e proprietário do grupo Sonae, império que atua nas áreas de varejo, construção e telecomunicações, sacou US$ 12,8 bilhões para fazer uma oferta
hostil pela Portugal Telecom, líder da telefonia em seu país e sócia aqui no Brasil da Telefonica na operadora Vivo. O lance deixou boquiabertos os portugueses, mexeu com as bolsas – em Lisboa e Nova York – provocou discussões acaloradas no
meio político, irritou os acionistas da PT e lançou vários pontos de interrogação: Como ficará a operação Brasil? Qual o futuro da Vivo se Belmiro comprar a PT? E se não comprar? O que a Telefonica pretende fazer? Perguntas que se tornaram mais inquietantes na quarta-feira 8, quando, em entrevista coletiva na cidade do Porto, Belmiro foi taxativo: com a Portugal Telecom em suas mãos, sairá do Brasil. “Se alguém aqui for acionista da Portugal Telecom pergunte, na próxima assembléia, o que é que a empresa tem ganhado no Brasil”, desafiou ele. Qualquer que seja o desfecho, o
setor de telecomunicações no Brasil será fortemente chacoalhado nesse processo.


A primeira reação da PT, liderada pelo executivo Miguel Horta e Costa, foi rejeitar a proposta. Nos corredores da sede da companhia, em Lisboa, o espírito era de
revolta diante da proposta de Belmiro. “Oportunista” e “aventureira” eram os adjetivos preferidos para qualificar a pretensão do dono do Sonae. Para executivos da PT, ele teria escolhido a dedo o momento de trazer sua oferta a público. A Vivo
encontra-se no período de silêncio obrigatório antes da divulgação de seus resultados anuais e, assim, não poderia rebater com números as críticas de Belmiro. A
PT também enfrenta um “momento de transição”. Em dezembro do ano passado, os mandatos dos membros do conselho de administração e da diretoria executiva chegaram ao fim. A assembléia destinada a escolher os novos ocupantes dos cargos ocorrerá apenas em 21 de abril – ou seja, os dirigentes vivem uma espécie de mandato-tampão, o que os deixa fragilizados para tomar decisões estratégicas.

Passada a surpresa inicial, diretores da empresa deram início à reação. Uma de suas apostas é que dificilmente os órgãos de defesa da concorrência portugueses aprovariam a união de duas operadoras que, juntas, deteriam 63% da telefonia móvel no país. A revolta também se estendia ao preço oferecido pela Sonae, algo em torno de 9,5 euros por ação. Um relatório do Citigroup que circulava nas mesas da sede
da PT mostrava um preço-alvo para o papel equivalente a 11 euros. As críticas do empresário à Vivo foram tratadas com ironia. “Ele diz que venderá a empresa e
já começa a depreciá-la. É como colocar um carro à venda e declarar que seus pneus estão carecas”, afirma um consultor que trabalha para a PT.

Talvez Belmiro esteja comparando coisas diferentes. Na Europa, mercado consolidado, a PT apresenta bom desempenho. No Brasil, mercado com uma concorrência "embriagada”, nas palavras de um especialista, todas as operadoras sofrem com margens anêmicas e a Vivo não é exceção, embora tenha algumas vantagens em relação aos demais competidores. A empresa é hoje a maior operadora da telefonia celular brasileira, com 30 milhões de usuários. Nos últimos tempos, perdeu espaço com o avanço das concorrentes TIM, Oi e Claro. Em 2004, o prejuízo chegou a R$ 490 milhões, para uma
receita líquida de R$ 7,3 bilhões. As dívidas somaram R$ 3,8 bilhões. Por outro lado, a receita média por usuário, importante indicador do setor, é de R$ 28 por
mês – maior que a da Claro (R$ 21) e da TIM (R$ 26). “O maior desafio da Vivo é a falta de convergência entre a telefonia fixa, móvel e internet, o que reduziria os custos”, avalia Anderson Ramirez, gerente da Price Waterhouse especialista em telecomunicações.

E se Belmiro não levar a PT, como fica a Vivo? A própria PT já andava pensando em dissolver a parceria com os espanhóis – embora negue publicamente qualquer
movimento nesse sentido. Nesse caso, ela sairia da parceria, mas não deixaria o Brasil. “Não é de hoje que a PT se mostra interessada na Telemar. A Vivo precisa da integração e a Telemar já fez com sucesso a convergência entre as três divisões”, afirma Manoel Horácio, presidente do Banco Fator e ex-presidente da
Telemar. E quem ficaria com a Vivo nesse caso? A Telefônica seria a candidata mais óbvia. O descaso demonstrado por Belmiro poderia ser visto como um “sossega leão” nos espanhóis. Afinal, a Telefonica é a maior acionista individual da PT, com 9,9% de
participação. Sem seu apoio, dificilmente a oferta hostil de Belmiro prosperará. Ciente de que seria um grande negócio para a Telefonica ficar com a
totalidade da Vivo, o empresário foi logo dizendo que queria sair do Brasil. Os espanhóis estão com o caixa vazio após a compra da operadora inglesa O2 por US$ 32
bilhões, mas poderiam usar o dinheiro da venda de sua participação na PT para financiar a parte da PT na Vivo, avaliada em US$ 3 bilhões. Trata-se de uma
análise é muito “local”, acredita-se na sede da PT. Espanhóis e portugueses têm uma parceria estratégica que vai além das fronteiras brasileiras. “Por que
aceitariam vender as ações por um valor abaixo do real?”, pergunta o consultor da PT.

O descaso de Belmiro pela Vivo pode ter motivo mais emocional: sua declarada aversão ao Brasil, depois dos tombos que tomou por aqui. Seu braço varejista, por exemplo, naufragou. O Sonae chegou a ter 148 supermercados no País. Vendeu-os para Carrefour e
Wal-Mart por menos do que comprou. Belmiro também foi o principal alvo da CPI do leite, instalada em 2002 no Paraná – isso porque ele era o principal distribuidor
do produto na região sul e os produtores se queixavam do preço pago por ele. No Paraná, ele investiu numa fábrica de compensados de madeira, que contaria com
incentivos fiscais negociados com o governo Jaime Lerner. Seu sucessor, Roberto Requião, cortou os subsídios e Belmiro fechou a fábrica. Restou ao grupo,
no País, a parte imobiliária, com ativos de R$ 500 milhões. Seu faturamento por aqui bate em R$ 55,7 milhões – um troco na fortuna de Belmiro. “Ele é rei em Portugal.
Mas aqui no Brasil é só mais um investidor português”, diz o consultor da PT. “Ele
sentiu falta do tapete vermelho no Brasil”. A melhor definição do homem mais rico de Portugal partiu de um analista brasileiro: “Ele tem o poder financeiro de Antônio Ermírio de Moraes, a influência política de Jorge Gerdau, a auto-suficiência de Abílio Diniz e o estilo de negociação de Daniel Dantas.”

Belmiro tem até o dia 26 para formalizar sua proposta. A partir daí, o conselho da PT teria oito dias para aceita-la ou não. Em sua ofensiva, Belmiro apelou para o espírito patriótico dos lusitanos. Com ele, diz, a PT ficaria em mãos portuguesas, livrando-se das garras de uma possível ofensiva espanhola por parte da
Telefonica. Curioso! Belmiro recorreu a empréstimos do espanhol Santander para fazer a proposta. E sua empresa de telefonia, a Optimus, é parceria da France Telecom. Na quinta-feira 9, surgiram rumores de que o Banco Espírito Santo (dono de 8,4% da PT) poderia financiar grupos portugueses interessados em fazer uma proposta de mais de US$ 13 bilhões pelo controle da PT. Façam suas apostas.

por joaquim castanheira e darcio oliveira para a isto é dinheiro.

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