sábado, dezembro 17, 2005

filme chapa branca

Durante anos, sustentei a opinião politicamente incorreta de que nós, brasileiros -ainda que dotados de alguns talentos (ninguém duvida da nossa competência no futebol, ou na música popular)- não sabemos e jamais aprenderemos a fazer duas coisas: vinho e cinema.

Deixo o tema vinho para outra ocasião, para tratar de cinema. Em que pese termos produzido duas ou três coisas passáveis, nessa área, nos últimos cento e poucos anos (a atividade começou, aqui, em 1897), minha opinião baseia-se em algumas considerações objetivas - de cinéfilo e não de cineasta.

Tomando por base os padrões de Hollywood - que está para o cinema como a França para cozinha ou a Suiça para chocolate - um bom filme precisa ter qualidade nada menos do que ótima em: direção, som, fotografia, iluminação, cortes, casting, capacidade de
representação dos atores, trucagem e mais duas dezenas de outros aspectos. Qualquer DVD de filmeco norteamericano, depois do The End, fica muitos minutos no vídeo passando os nomes das centenas de profissionais que contribuiram para assegurar uma qualidade mínima ao produto final.

Nenhum filme nacional - mesmo consagrado e premiado -jamais passou nesse teste. Além disso, temos uma atávica dificuldade em representar; em toda a cênica brasileira são pouquíssimos os bons atores e quase nenhum realmente excepcional. As novelas da Globo disfarçam isso bastante bem, com tecnologia, mas é só tirar o som para ver que desastre.

Nesse contexto, fiquei curioso com a unanimidade aparente - nas minhas fontes de informação – sobre "2filhos de Francisco" e apressei-me a alugar o DVD para assistí-lo em casa e ver se mudava de idéia sobre a cinematografia nacional.

Trata-se de um bom filme, que pode ser incluido entre os passáveis do segundo parágrafo. Mas não passou no primeiro teste. Embora tenha muita gente nos créditos
- demonstrando que houve cuidado acima da média na sua produção - a direção é desigual; o som ruim, a ponto de se perderem palavras em momentos cruciais; a fotografia só às vezes é boa; a iluminação pobre, como de costume, e em algumas cenas de "noite" simplesmente nada se vê; alguns cortes são geniais, outros primários; a maior parte do casting é competente, mas há falhas; a capacidade de representação é baixa, na média, com a agradável exceção dos meninos músicos, que não deveriam sair de cena; há outros problemas, como o logotipo recente do Bradesco aparecendo numa cena de 20 anos atrás... Enfim, business as usual.

Mas como explicar o sucesso - e a aparente unanimidade? Em primeiro lugar, há a grande generosidade da imprensa brasileira com assuntos tais como universidades públicas, cinema nacional e Caetano Veloso com toda sua família. Há patrocinadores ricos e fortes, como o já citado Bradesco, Texaco, as lojas Marabraz e a TV Globo. A roteirista é filha do jornalista que foi assessor especial do presidente Lula; e os artistas que são tema do filme - Zézé di Camargo e Luciano - destacaram-se no apoio à eleição do candidato do PT à presidência. Talvez não explique tudo, mas ajuda a entender.

josé whitaker penteado filho, fazendo sua fita.

quanto ao vinho “brasileiro”, parece que anda melhor que o cinema nacional que tem nos roteiros seu maior problema. os diálogos dos nossos filmes são tatibates de cidra pura. e aí, haja sardinha em lata.

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