domingo, outubro 16, 2005

nem com tim maia

dia de domingo. dia miserável. desconfio vingança de deus que não acredito.

tivesse trabalhado mais um diazito, tal artítice, o mundo não seria bola inchada de sandices inda mais cagada pelas estultícies dominicais.

diazinho a mais só. descanso pra que ? pergunta que qualquer criador, até publicitário, sabe preciso para arredondar a idéia. faria a sí próprio, se tiver decência na tola.

mais um de trabalho e a semana seria mais palatável para míseros mortais que amargam ditadura do domingo a pensar noutras coisas mais que banhar-se em praias de refugos e coliformes, da cada vez mais infielmente proletária, gentalha burguesa. e à milanesa. que horror!

dia de trabalho a mais. fim dos buzinaços que madrigalmente começam, meiam e findam domingo. dia que deixa sem carga toda a semana de quem, ainda que não torcedor, acaba por retorcer os tímpanos, por times de segundona. roucos de bola murcha, inversamente proporcionais aos decibéis loucos que traduzem alta amperagem de estupidezes. repetindo a vida, palavras de ordem do futebol? só juizes da puta filhos, ladrões ?

dia mais e, fiat lux: extermínio dos almoços de família, fim do quase bandejão. onde se espeta o bife de terceira, junto com arrozes e macarrões das mágoas quase-azedos da semana, pensando-se na sogra, na cunhada ou no parente já morto. que insiste em sentar-se à mesa. molhos de intensidades diferentes, conforme imagens que lhes vem a cabeça, garfos pontudos não menos que narizes e facas menos que línguas afiadas. e nem vou falar das crianças que meu coeficiente herodes hoje está de baixa.

parentesis à sonoplastia do almoço: pagode ensurdecedor, carro que passa em frente, trombada rabuda com kelvin duran, que arrebenta no vizinho. chega-se a pensar que a banda esta presente, já que bundas mexem. a julgar pela tonelagem de celulite e água-oxigenada que não cabe em shorts, horrorizados com tal espetáculo, somado ao desafino em soprano histérico, ainda assim tem gente excitando-excitada fazendo coro da janela.

pós almoço, retoma o ante. leitura encavilhada de anúncios miseravelmente fraternos em ruindade. bolo de rolo nos jornais de domingo prenunciando a que servem. precisa auto-denúncia de quem abafa o peido no sofá vendo faustão ou, que beleza de opção, márcia goldsmith, promete dar um jeito na sua vida. tal qual muita gente trata torcicolo: quebrando pescoço - e ainda falam mal do joão kleber ? de quebra tem gugu, e netinho, num zap de bate-bôcas que dura até a hora de ser enxotado com verminoso convite do hoje não tem jantar, só lanche, pizza recheiada de papelão colada na geladeira.

fique claro que tem gente que tem tv por assinatura mesmo que não possa assinar cheques. o castigo é que, salvo a programação ininteligivel para a maioria, os filmes são repetidos à exaustão, com uma dublagem monocórdica que home-theater nenhum do mundo salva. salvam-se cacas grossas que trazem legendas que traduzem fuck you por vá se danar.

no mais, dê-se por contente porque na recifilis que ser quer cosmopolita tudo está fechado, salvo, churrascarias e shoppings, repletos de futuns do non-sense de uma cidade que agora quer-se-por que-quer-se emergente às custas de um louva deus a porto digital, e ou marítimo e refinaria silicone no meio de miséria tal, que já há gente comendo mangue, sem beat, onde nem caranguejo se alimenta mais.

é claro está que você pode ficar em casa, lavando seu gol contra o orçamento que não podia, seu palio seco ou mille, a melhor idéia da fiat. pagou-se há decadas mas classe mírdia esfola-se para pagar os tubos por um carro chamado de popular, num país que nem bicicleta é popular, preço que mata de inveja sicilianos da matriz.

dia a mais só. e não teríamos o domingo. mas deus não é brasileiro? tinha que parar pra descansar depois de ficar enrolando, enrolando e fazer aquela merda toda com o barro, adicionado de costeletas de espírito de porco ?

não ficando satisfeito, tascou-mos o domingo.

nós também não ficamos. mas acontece que para todos os SACS, que juram de pés juntos que não, toda reclamação é blasfêmia, ainda mais ditas-cujas celestiais. dão-nos de ombro, fazendo ouvidos de salvador, cuspindo pragas, chantageando conversão. discurso evangélico, que concorre com pagode e pélvis de duram, veio daí.

pra piorar, no domingo de uma manhã modorrenta, com tais pensamentos, fica a parecer que nunca mais vem segunda. ou o que é paroxísticamente pior: que a semana inteira nesta cidade parece um domingo gordo, lambuzado de maionese, a regurgitar orações em vômito, o que escuto da minha janela lateral do quarto de dormir.

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