quarta-feira, setembro 28, 2005

entreato

decididamente a a realidade entortou a ficção no brasil.

edgar allan poe é jujuba, stephen king, sessão da tarde e alice no país das maravilhas, em nossas manhãs, comeu o coelho a tacos de colheres de sobremesa. e ainda cospe para ver se aumenta a audiência por um fio daquela que nem os baixinhos de ontem querem comer mais.

holiúdi, démodé, filma massacres de serras elétricas retrô, que revidamos com invenção pós-terceiro-mundanista do “micro-ondas”.

como a nossa economia, o “ micro-ondas” precisa só de um empurrãozinho e combustível. o resto pega no tranco, cresce no solavanco e se encaixa no sopapo. de quebra, as pernas, pra encaixar no pneu. avanço e tanto ao homem bala. este só fumaçava antes. no “ micro”, antes, durante e depois”. quando estaciona, serviço completo, não tem flanelinha.

não há terror que resista a nossa carnavalização. carnaval que dura quase um ano inteiro. dura até o momento em que as fantasias recozem-se na mutilação da realidade. a geografia do caos urbano brinca de esconde esconde com a nossa harmonia bossa nova. e se mostra, quando não se gosta, reorganizada a nos atirar mais que sangue cuspe, catarro e bosta. bala perdida não é venda perdida. sempre sobra mais uma alguém. nem melhor sorte quem leva bala da polícia, enferrujada.

no brasil, país de tantos altos e baixios, o céu é uma buraco mais embaixo. e, longe de ser abissal, o inferno fica sempre mais uma degrau acima. seja no morro ou no planalto.

nosso terror é terroir. roteiro exportação de uma realidade coreografada e cenografada em sangues e pudins, filmada em retículas de cocar e cocaína, e pós-produzida em bundas bronzeadas e tome parafina.

isto ainda vai dar noutra sessão. entrada franca de crianças, animais e velhinhos com direito a quebra-queixos sem anestesia.

nosso cateterismo social não passa de claquete.
o paraíso é aqui.


sim meus amigos portugueses, e não estou a fazer piada, “micro-ondas” é a instalação de um tipo alquebrado, geralmente a porradas, quando não é serrado à cru e incrustado dentro de um pneu. pneu logo besuntado de gasóleo, querosene, gasolina, simples ou aditivada, de qualquer octanagem. morro abaixo, rola aceso e sempre cai em falésias das veredas tropicais periféricas e limítrofes das searas do luxo ao lixo, crematório de outros horrores. no quase fim, lembra certo barril que não levava vinho, por volta da idade média, apesar da trajetória apagada deste. não, nem de longe similar. fogo faca de açoites sem pregos no “ micro-ondas” nada há que perfure e esvazie a vida antes da queima sentida de todos os poros.

sem provocações, poder-se-ia dizer que melhor sorte tiveram os primeiros portugueses cozinhados em panela de barro pelos índios. pelo menos a crença, e o tempero eram outros. não descascassem a pele a pelo, como tomates.

conceitos de crueldade, atenuados pelo barbarismo ? mais bárbarismo de quem ? invasor, invadido ou evadido?

a finalidade da história não é vingar. morre por aqui. quase açorda de palavras. nem sempre a tantos gostos apimentada. sentimentos enchidos atrás e a frente do balcão, a nossa ementa é de paz. vai se servindo quem quer. a casa tem livro de reclamações.

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