quarta-feira, agosto 31, 2005

visto de saída

os portugueses são muito ciosos do seu idioma, no que fazem muito bem. chegam até ao rubro quando se diz sotaque português, como disse uma certa senhora, tida como importante e incisiva, em programa televisivo: “ como sotaque português?— respondendo a um brasileiro. eu não tenho sotaque. fomos nós que criamos a língua. quem tem sotaque são vocês “.

acontece que os mesmos defensores do idioma são os primeiros a desrespeitá-lo ao dizer que falamos “ brasileiro”.

ora pois, pois que santa ignorância. não existe o idioma brasileiro. falamos e escrevemos português, se é que não sabem. um português que representa, não um barbarismo mas sim a evolução e revolução da língua por 180 milhões de pessoas que, doutas ou ignorantes, decisivamente contribuem para sua afirmação no planeta. compreender a riqueza e as características evolutivas da língua, seja no brasil, seja em áfrica, seja no oriente é no mínimo ter paixão pela língua. mas não castradora. nossos dicionários, não por acaso tidos como os melhores da língua, registram o triplo das palavras registradas pelos congenerês lusos. e assim o é porque longe de dizer " não falamos assim ou isto não existe em português ", nós o fazemos existir, pois a função da palavra não é só representar a realidade mas tornar a realidade decifrável e cifrável em todas as suas nuances.

deveria ser dever de casa, enriquecedor se quer que o diga para qualquer português ou não português que ama a língua, conhecer as diversas nuances da língua praticada nos continentes mundo a fora. e neste sentido a tradução, quer para portugal dos livros editados no brasil e vice-versa, como os editados em africa ou onde mais for é um deserviço à lingua.

deveriam ser impressos no original, quando ao máximo, acompanhados de glossário, para que assim aprendessemos novas palavras, novos significados. e como as palavras conhecidas podem ter outros sentidos e significados, descobrindo em muitos casos de onde elas vieram.

quem ama a língua solta o verbo. não a prende. corrije e ensina, aperfeiçoa ou tolera mas não impõe.

já é tempo de alguns portugueses- e brasileiros- perceberem que mais importante do que a palavra saudade é a palavra liberdade. se a primeira só existe em português, a segunda precisa ser praticada aos excessos. só assim depuram-se sobras.

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