sábado, agosto 27, 2005

motorista sem carteira conduz ônibus há 10 anos sem bater de frente

dirijido pelo julio hungria, bluebus completa 10 anos. para além de nos levar a muitos locais, tem inegavelmente o mérito de ter feito muita gente andar de ônibus, sem sentir vergonha, principalmente publicitário. o que é uma das características deste país. para além do racismo, do nepotismo, dos iísmos de toda sorte. das carteiras compradas aos ônibus dos sacolões. cascavilhando o site, sob a foto do mentor um texto de de intenções e mudanças concretizadas? haja pneus neste país de rodovias que mais parecem serpentes mordidas a morder.

Bom dia. Embora tivesse muita gana desde o inicio, custei muito a concordar em assumir o papel de 'critico' na internet. Formado como 'reporter' no radio e no jornal e, depois, como 'copy' e 'editor', tenho consciencia da incompreensao gerada por eventuais comentarios que a gente faz com a melhor das intençoes e que, no caminho entre teu teclado e o leitor, acabam sendo desvirtuados, ou porque se tem uma ideia preconcebida do que o critico representa, ou porque o leitor nao admite que discordem dele ou porque, afinal, quem sabe, você escreve muito mal - e nao se fez entender. Você dá sorte se escreve o que a maioria pensa, caminho certo para o sucesso. Muitas vezes a gente tem essa intuiçao - 'sente' o que as pessoas estao querendo ouvir e, sem perceber, escreve o que elas gostariam de ler.

Deus me livre de criticar o jornalismo brasileiro mas... ja fiz isso algumas vezes, desde que o Estadao 'matou' o Zuenir Ventura, que continua vivo, o Jornal do Brasil confundiu o Dia da Independencia com o da Proclamacao da Republica, a Veja concluiu que um Juiz 'processa' um réu (era o Bill Gates) - até fatos mais recentes e sao tantos que eu parei de anotar... Pra nao dizer que é preciso avisar a um canal de noticias da TV que o filme do Polanski é 'O Pianista' e nao 'O Piano', como eles informaram... ;- )

Ha outras questoes no jornalismo brasileiro, como a da 'noticia enguiçada', notada pelo Tutty Vasques em um dos seus brilhantes textos no site No Minimo. Ela fica ecoando por dias seguidos na procura desesperada de uma 'suite' que nao vem (compreensivel diante da falta de assunto da era pos Bush, escândalos, etc, que enxugou o noticiario de negocios, por exemplo, de um modo radical).

Embora alguns profissionais que sao honra e gloria do oficio tenham verificado em artigos recentes a mediocridade geral, que imputam a baixa qualidade do ensino universitario e a crise econômica que tirou de cena antes da hora os mais velhos (que tinham que ter ficado nas redaçoes suprindo a incompetência do ensino) - ainda hesito em me beneficiar deste aval. 'Criticar os colegas?' - será a 1a pergunta inconformada. Nao estou interessado em ouvir questoes como essa para nao ficar mais amargo ainda. E resolvi o problema mudando de profissao. Sim, mudei de profissao. Pelo menos por declaraçao propria.

É parecido assim com o gesto de quem se 'naturaliza', seja por conveniência ou proximidade. Na verdade voce fica se sentindo meio 'estrangeiro' em qualquer dos lados que está. Adotei a profissao de 'motorista' pois, afinal, toco um ônibus, um ônibus azul, o Blue Bus, que nao tem outra pretensao intelectual ou pratica do que 'levar as pessoas aos lugares', através de notas curtas e links, como um 'guia' diario instalado basicamente sobre o assunto 'midia', mas tambem colecionando informaçoes 'relacionadas' nas areas de negocios, comportamento, etc. Sorte que eu faço isso com uma parceira que comunga de toda a minha ansiedade por exatidao (quem, quando, onde, como, etc) e toda a minha obsessiva perseguiçao pela renovaçao humana de comportamentos, praticas, eticas, etc

Declarei ao Vitrine do Marcelo Tas, faz talvez 1 ano, minha opçao por 'dirigir' e todas as dificuldades inerentes - parar nos pontos certos, ultrapassar somente nos momentos adequados, reduzir a velocidade quando é necessario e, especialmente, tentar mostrar uma paciência chinesa com o 'trânsito' (o que nem sempre consigo). Dirijo sem carteira. Nunca frequentei auto escola e aprendi no dia a dia destes 8 anos na rua (somos de 1995). Graças a Deus, nunca apareceu um guarda para me pedir documentos.

Preciso contar um segredo - como consegui chegar a este providencial atalho (o da mudança de profissao) para me sentir mais integro e mais livre (nao estou dizendo mais 'perfeito') e nao ser envolvido pela avalanche sobre a qual escorrega a midia rumo aos infernos (no mundo inteiro, talvez um tanto menos na Inglaterra), misturada a incompetência provocada tambem pela desordem econômica, censura, indulgência e corrupçao.

Tudo se resume numa historinha simples. Ha uns dois anos, um desses jornalistas paulistanos carregados de medalhas, desses que se movimentam hoje quase a margem do mercado principal, embora a competência e o notavel curriculo, se inscreveu num evento que Blue Bus promoveu para seus leitores e na ficha que mandou por fax omitiu a informaçao 'profissao'. Pedi que cobrassem dele preencher o campo deixado vago. E ele nao demorou muito. Voltou - 'filósofo' ;- ).

Assim é se lhe parece.
juliohungria.com.br © 2003

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