portugal me é um rombo da base do pescoço a púbis.
nele cabem
lisboa e
ponte 25 de abril
até em hora de ponta
cabem a costa da caparica
na beira do rio e os barcos do barreiro
cabe também o balanço do vôo da tap
e quase não cabe o grito de quem se assusta e brada: esta merda abana mas não cai - foda-se! sempre abana após o passar da ponte
cabe a estrada para o algarve
nem precisa chegar lá.
porque cabe uma açorda de coentro
na cidade mais comunista do roteiro
mas vá lá,
tá-se bem, cabe o algarve
praias para inglês ver
e português desatinar
cabem uns copos no jamaica
onde descubro que ainda sei dançar
cabe o bas-fond e o largo do sodré
e a padaria que vende o melhor pão tigre que jamais comi
o comboio pro estoril
cabe o salto em cascais
para retornar à rua da beira baixa
cabe o maluco - os rafeiros cabem sempre -
cão que nunca soube de quem
não sabia ele nem eu
ser meu também
de quem guardo fotografia
única do rombo
cabe o marquês
e o trottoir do eduardo sétimo
cabe o cheiro das castanhas
até bairro alto cabe mesmo de dia
cabe o rato e para sempre campo de ourique
e cabe jardins da gulbenkian e corte inglês
(coube até as passeatas contra)
cabem todas as tascas e até o lux
onde quase não cabia ninguém
cabem compras no supermercado
das amoreiras
pra comer banana
no shopping
enquanto devoro leituras
pensando num expresso duplo
cabem as caminhadas solitárias
em quaisquer das cidades por onde andei
e me reconheci feliz mesmo quando não
cabe super-bock, fino e imperial
na ribeira
que porto chego já
assim como cabe
meco
contagiado
pela alegria portuguesa
na estação do sol
tanta alegria
que nem sinto falta
dos biquinis brasileiros
pois aprendi a
ler nas entrelinhas
dos biquinões
embora ainda ache top less dispensável
não por falso moralismo
mas porque são um atentado à imaginação
cabe a alegria de caminhar sob a chuva
mesmo no inverno
declaração de liberdade
onde nem brasileiro
nem português
apenas
homem
menino nu
ainda mais
no meu porto
onde cabem todas as salas da amc
as francesinhas da santa catarina
onde até cabiam travestis e as putas
retirando pinturas na mesma hora
em que acabo mais uma noitada
cabem as poucas horas de sono
nas madrugadas de volta à vila do conde
cidade irmã de olinda onde estou
cabe
ida e vinda
e até a pachorra
de aguentar o reninho discursando
cabe do granizo das madrugadas
as pataniscas de bacalhau
e convida-me
quem nunca me viu
cabe o café com perfume
brinde de mãos calejadas
cabem todas as fnacs
e até o norteshopping
cabe a foz
e a minha voz
tentando pronuncias do norte
com sua simplicidade
enorme
fonte de vida
e sabedoria
onde aprendi
que não conservamos tudo o que amamos
ainda que conserves na memória o que cabe
do que já não podes
cabem em mim
até os erros de concordância
que riem de mim
junto com os tus que não batem com os erres
mas não cabe o quartilitro de vigor
a isto chama-se saudade
o que não cabe em si.
minha autorização de residência venceu em 12 de maio de 93. de lá pra cá tornei-me apátrida. mas ainda devo ser português, já que alguém me diz que as finanças me cobram dívidas que nunca contrai, e pela qual já me deram atestado de nada consta duas vezes. acho que isto me torna meio luso ou não ? apesar do que não diz o bilhete de identidade, quase igual pela convenção luso-portuguesa e pela honra de me terem concedido direitos e deveres iguais aos nacionais, juntamente com direitos políticos. mas como não fiz política aceitando uma certa proposta de uma certa fcb perdi a chance da nacionalização alcançada pelo prazo de residência por seis anos ininterruptos. caso volte, em que estádio ficaria ? que não me responda o paulo portas.
ResponderExcluirvc: provavelmente bug emitido pelo outro computador onde editei a resposta. devo corrigir até a próxima semana reinstalando sistemas e fazendo todos os up-grades. até agora resisti bravamente ao OS X, mas parece que vai ter de ser agora.
ResponderExcluirem Portugal ainda se pode viver em paz.
ResponderExcluirtodos temos um pouco de "blue dog" inside.