domingo, junho 12, 2005

pêlo não é cabelo II

Às folhas tantas

Do livro matemático

Um Quociente apaixonou-se Um dia

Doidamente

Por uma Incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável

E viu-a, do Ápice à Base,

Uma Figura Ímpar;

Olhos rombóides, boca trapezóide,

Corpo octogonal, seios esferóides. Fez da sua

Uma vida

Paralela à dela

Até que se encontraram

No Infinito.

"Quem és tu?" indagou ele

Com ânsia radical.

"Sou a soma do quadrado dos catetos.

Mas pode me chamar de Hipotenusa."

E de falarem descobriram que eram

O que, em aritmética, corresponde A almas irmãs

Primos-entre-si.

E assim se amaram

Ao quadrado da velocidade da luz

Numa sexta potenciação Traçando

Ao sabor do momento

E da paixão

Retas, curvas, círculos e linhas sinoidais.

Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclideanas

E os exegetas dc Universo Finito.

Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.

E, enfim, resolveram se casar. Constituir um lar.

Mais que um lar,

Uma Perpendicular.



Convidaram para padrinhos

O Poliedro e a Bissetriz.

E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro

Sonhando com uma felicidade

Integral

E diferencial.

E se casaram e tiveram uma secante e três cones

Muito engraçadinho E foram felizes

Até aquele dia

Em que tudo, afinal,

Vira monotonia.

Foi então que surgiu

O Máximo Divisor Comum

Freqüentador de Círculos Concêntricos.

Viciosos.

Ofereceu-lhe, a ela,

Uma Grandeza Absoluta,

E reduziu-a a um Denominador Comum.

Ele, Quociente, percebeu

Que com ela não formava mais Um Todo, Uma Unidade.

Era o Triângulo,

Tanto chamado amoroso.

Desse problema ela era a fração

Mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade

E tudo que era expúrio passou a ser

Moralidade como, aliás, em qualquer sociedade.

Poesia Matemática, Publicado n'O Pif-Paf/ O Cruzeiro, 1949
Um Clássico do Millôr, completo.

agora façam as contas . e releiam o com o texto abaixo. de tabela podem também ir ao tioolavo.blogspot.com e ler algumas das crônicas escritas por seu postador.

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