. Os dois velhinhos passaram a noite enchendo a cara. Como nos temos em que eram jovens. E como naqueles tempos, resolveram encerrar a noite na zona do meretrício. Mais pra lá do que prá cá, entraram numa daquelas casas com luz vermelha na frente e, excitados, foram direto à cafetina. “Vá aos dois primeiros quartos e coloque uma boneca de inflar em cada cama Não estou a fim de aturar velhos e bêbados. Nem de sacrificar minhas meninas com eles. Isso aqui não é asilo. No estado em que estão, eles não vão notar a diferença.” Ordem rigorosamente cumprida, os velhinhos foram encaminhados para os quartos. Lá, tentam fazer o dever de casa. Já na rua, de volta pra casa, eles se gabam do feito: “Acho que a mulher que estava comigo, quando viu a minha espada, enorme e dura, teve um enfarto e desmaiou.” “Ela ficou fria, não se moveu um instante, não falou nada enquanto eu comia ela.” “Pior aconteceu comigo”, disse o outro. “Acho que a mulher era uma bruxa!” “Uma bruxa!!! Por que cargas d'água você acha isso?” 890 estatuetas! Quando li essa notícia na capa da Meio & Mensagem do dia 05 deste mês,eu me lembrei. 3. Lembrei-me do encerramento do evento durante os anos – muitos atrás - em que freqüentei o Festival. Então, havia um Leão de Ouro em disputa. Acho que tinha também o de Prata e o de Bronze, não tenho certeza, além dos diplomas. E o nome da peça vencedora era guardado debaixo do mais absoluto segredo. Ninguém, nem mesmo os jurados, sabia quem era o vencedor. Você há de imaginar o suspense que nos dominava. As emoções e os fofocas que percorriam a platéia, antes e depois que o nome do premiado era revelado, em sessão de gala por ocasião do encerramento do evento. E tinha o orgulho de quem tinha vencido o certame. Era, pelo menos naquele instante, o campeão do mundo. Durante toda a semana do Festival, diariamente, a gente não despregava o olho do telão. Queria ver todos os comerciais inscritos, e para tanto enfrentava sessões que começavam logo cedo e terminavam no fim da tarde. Durante as sessões aplaudia os bons e vaiava os ruins. E à noite nos reuníamos em algum bar para discutir e tentar adivinhar quem seria o vencedor. 3. Li a notícia e fiquei triste: 890 estatuetas! O Festival de Cannes foi vulgarizado. O Leão deixou de ser a conquista inesquecível de um contra o mundo. Passou a ser mais um. Cannes cedeu à cobiça e se transformou em uma máquina de ganhar muito dinheiro. Em compensação perdeu o antigo valor. Agora é mais um prêmio. Uma pena. Agora, quem vai a Cannes age como os dois velhinhos bêbados: embriaga-se com a beleza da França e com as atrações do evento,e ao invés de transar gostosamente com o que há de melhor no mundo em talento, contenta-se com qualquer coisa. Aí, quando tem sorte - porque quem ganha pelo menos um de tantos prêmio só precisa de um pouco de sorte – e traz pra casa uma boneca, digo, um leão decaído, que já não tem o valor de outrora. Afinal, além dele outros 889 estão passeando por aí. Segurando os papéis de uma prateleira qualquer.
Que por sinal, justo naquela madrugada, não estava a fim de muita conversa. Chamou a “secretária” e cochichou:
“Desmaiou? Porque você acha isso?”
“Bem, eu estava nas preliminares e dei uma mordida na bunda dela. Daí, compadre, o caos tomou conta do quarto.”
“Ela peidou na minha cara e saiu voando pela janela com ainda a minha dentadura presa na bunda.”
2. “A performance histórica do Brasil no Festival de Cannes este ano, com 57 Leões conquistados, em boa parte reflete também um aumento significativo na distribuição de troféus nas 12 premiações do evento. Foram nada menos que 890 estatuetas, número 32% maior do que no ano anterior, diante de um aumento de apenas 7% nas inscrições.”
o blog que dá crise renal em quem não tem crise de consciência. comunicação, marketing, publicidade, jornalismo, política. crítica de cultura e idéias. assuntos quentes tratados sem assopro. bem vindo, mas cuidado para não se queimar. em último caso, bom humor é sempre melhor do que pomada de cacau.
quarta-feira, julho 28, 2010
evidências da decadência
quinta-feira, julho 08, 2010
é o fim(ou seria um novo começo?)do que não é justo com as crianças
Alex Bogusky, sócio fundador da agência Crispin Porter & Bogusky, surpreendeu o mercado publicitário mundial esta semana ao anunciar sua saída da publicidade e seu objetivo de "participar da revoluçao cultural que está acontecendo em sua maior parte fora da publicidade". Na semana anterior, no entanto, durante o Festival de Publicidade de Cannes, Bogusky publicou em seu blog um longo post contra a publicidade para crianças. Abre seu texto propondo a criação de um novo prêmio no Festival, mais importante que todos os outros, para destacar a empresa que decidir parar de usar o poder da publicidade contra as crianças.
Bogusky argumenta que as crianças não estão prontas para lidar com a publicidade em função do estágio de desenvolvimento em que estão. "Seus cérebros são fundamentalmente diferente (dos adultos), a principal diferença é que o desenvolvimento do lado direito do cérebro não começa realmente antes dos 12. Isso é importante porque sem o lado direito envolvido, todas as decisões e conceitos são muito ou preto ou branco", descreve. As crianças dividem as coisas entre boas e ruins, diz ele, não entendem o cinza, e por isso não estão equipadas para entender a publicidade da mesma maneira que um adulto.
Segue imaginando o que aconteceria se a publicidade para crianças simplesmente acabasse. Sugere que o relacionamento entre pais e filhos melhoraria, já que não haveria mais a publicidade levando as crianças a fazer pressão para os pais comprarem isso ou aquilo. "Mais de 10% das crianças de 12 a 13 anos admitem pedir mais de 50 vezes aos seus pais para comprarem produtos que viram em anunciados. Só isso já basta para fazer todos os pais assinarem uma petição". Bogusky acredita também que sem a publicidade, as crianças melhoraria sua auto-estima. "Mais da metade das crianças pesquisadas (53%) disseram que comprar certos produtos fazem com que elas se sintam melhor sobre si mesmas", diz.
E o que aconteceria com, por exemplo, os canais de TV para crianças? Cartoon e Nickelodeon desapareceriam, imagina Bogusky. A garotada lamentaria, mas conseguiria conviver com isso. "As crianças seriam forçadas a levantar do sofá e pensar em novas maneiras de se divertir. Algumas dessas brincadeiras poderiam até mesmo incluir atividade física", propõe, sem esquecer que o computador e os videogames também seriam uma opção ("pelo menos têm um pouco de interação").
E o mercado publicitário, como fica? O dinheiro destinado a publicidade para crianças não some, ele migra para outras ações, prevê. Mas para quem tem negócio especializado em publicidade para crianças, Bogusky avisa - "seu negócio será uma baixa". Segundo ele, uma estimativa moderada de quanto o marketing para crianças movimenta chega a US$ 15 bilhões por ano. "É chocante descobrir que isso é 250% mais do que era em 1992. Para mim, esses números são assustadores". Cita os países europeus onde a publicidade para o público infantil foi proibida, em especial a Suécia, que tomou a decisão por considerar que anunciar para elas "não é justo" em função do estágio de desenvolvimento do cérebro. "Eu concordo", diz ele.
Bogusky passa pela questão da ética vs lucro e sugere que seria mais interessante para os lobistas da indústria do fast food defenderem a proibição da publicidade para crianças. Afinal, se for criada uma legislação nesse sentido, a indústria do fast food ganharia em imagem por estar "do lado certo" da questão. "Talvez nosso próprio mercado (publicitário) possa fazer lobby para isso. Deus sabe que os publicitários precisam aparecer positivamente na mídia", ironiza.
Bogusky argumenta que as crianças não estão prontas para lidar com a publicidade em função do estágio de desenvolvimento em que estão. "Seus cérebros são fundamentalmente diferente (dos adultos), a principal diferença é que o desenvolvimento do lado direito do cérebro não começa realmente antes dos 12. Isso é importante porque sem o lado direito envolvido, todas as decisões e conceitos são muito ou preto ou branco", descreve. As crianças dividem as coisas entre boas e ruins, diz ele, não entendem o cinza, e por isso não estão equipadas para entender a publicidade da mesma maneira que um adulto.
Segue imaginando o que aconteceria se a publicidade para crianças simplesmente acabasse. Sugere que o relacionamento entre pais e filhos melhoraria, já que não haveria mais a publicidade levando as crianças a fazer pressão para os pais comprarem isso ou aquilo. "Mais de 10% das crianças de 12 a 13 anos admitem pedir mais de 50 vezes aos seus pais para comprarem produtos que viram em anunciados. Só isso já basta para fazer todos os pais assinarem uma petição". Bogusky acredita também que sem a publicidade, as crianças melhoraria sua auto-estima. "Mais da metade das crianças pesquisadas (53%) disseram que comprar certos produtos fazem com que elas se sintam melhor sobre si mesmas", diz.
E o que aconteceria com, por exemplo, os canais de TV para crianças? Cartoon e Nickelodeon desapareceriam, imagina Bogusky. A garotada lamentaria, mas conseguiria conviver com isso. "As crianças seriam forçadas a levantar do sofá e pensar em novas maneiras de se divertir. Algumas dessas brincadeiras poderiam até mesmo incluir atividade física", propõe, sem esquecer que o computador e os videogames também seriam uma opção ("pelo menos têm um pouco de interação").
E o mercado publicitário, como fica? O dinheiro destinado a publicidade para crianças não some, ele migra para outras ações, prevê. Mas para quem tem negócio especializado em publicidade para crianças, Bogusky avisa - "seu negócio será uma baixa". Segundo ele, uma estimativa moderada de quanto o marketing para crianças movimenta chega a US$ 15 bilhões por ano. "É chocante descobrir que isso é 250% mais do que era em 1992. Para mim, esses números são assustadores". Cita os países europeus onde a publicidade para o público infantil foi proibida, em especial a Suécia, que tomou a decisão por considerar que anunciar para elas "não é justo" em função do estágio de desenvolvimento do cérebro. "Eu concordo", diz ele.
Bogusky passa pela questão da ética vs lucro e sugere que seria mais interessante para os lobistas da indústria do fast food defenderem a proibição da publicidade para crianças. Afinal, se for criada uma legislação nesse sentido, a indústria do fast food ganharia em imagem por estar "do lado certo" da questão. "Talvez nosso próprio mercado (publicitário) possa fazer lobby para isso. Deus sabe que os publicitários precisam aparecer positivamente na mídia", ironiza.
A proposta final de Bogusky é transformar em índice a maneira como as empresas lidam com a ética e o uso equilibrado da publicidade. Já que as companhia são avaliadas por seus impactos na saúde, sustentabilidade, ética no tratamento dos funcionários e até dos animais, por que não serem avaliadas também por sua ética em relação às crianças. "Qual sua pontuação na prática ética e justa da publicidade? Isso pode ser mensurado e quantificado e pode se tornar parte da decisão de compra. Não apenas para quem tem filhos, mas para todos os consumidores", defende.
Publicitário premiado, Bogusky encerra seu post afirmando que ganhar troféu por deixar de anunciar para crianças seria uma maneira de levar o mercado a defender essa idéia. "Minha esperança para o prêmio Cannes Crystal 2011 é que alguma agência trabalhe junto ao seu cliente para encerrar toda a publicidade para crianças e leve para casa o Cannes Crystal Grand Prix Lion em seu ano de estréia. E isso seria o fim da questão. Porque assim que passar a existir um prêmio para isso, todos nós publicitários estaremos brigando por ele".
(não é justo com as crianças, no crianças e mídia, da elisa araújo).