terça-feira, janeiro 31, 2006

voce não precisa ser expert para saber quem é o arquiteto desta frase.

um expert é um homem que parou de pensar. para que pensar se ele é um expert ?
frank lloyd wright

P: ou se eu fosse consultor aprendia a tocar contra-baixo

Gene Simmons, lider do Kiss, mais conhecido pela maquiagem exótica e por exibir a lingua pra lá de fálica, abriu uma consultoria de marketing. Seu 1o cliente é a Indy Racing League, responsavel pela corrida Indianapolis 500. Entrevistado pela Forbes, disse que sabe que sua fama nao será suficiente para conquistar novas empresas, mas acha que ser "o cara que poe a lingua pra fora" será util para abrir portas - "Tudo bem, qualquer coisa para faze-los (os executivos) sentar e ouvir por um tempo".

Simmons transformou sua banda em uma empresa que vale hoje quase US$ 1 bilhao. Atraves de licenciamentos do nome Kiss e do visual do grupo, está em produtos diversos como jogo de tabuleiro e cartao de credito. Noticia da Forbes, via bluebus de ontem.

nestas horas me dá uma raiva da minha mãe que me botava de castigo toda vez que eu estirava a língua. tivesse continuado o exercício e quem sabe hoje não seria consultor ?

fim da dupla com o vesgo ou só pra vender livro ?

“Está na hora dos jovens (e dos não tão jovens) marketeiros e publicitários brasileiros  abandonarem o mágico e ilusório mundo da propaganda que a propaganda faz de si mesma e finalmente caírem na real. Neste livro genial Gordon Lewis nos ajuda a fazer esta auto-análise, melhor ainda, esta catarse de que precisamos urgentemente para nos tornarmos Profissionais de Marketing com P e M maiúsculos.” 
do editor e tradutor do marketing mutilado que vem" derrapando" e na contra mão logo no post abaixo.

é o sílvio mas não é o santos

O mundo do marketing e da propaganda no Brasil tem o péssimo costume de ser essencialmente auto-laudatório e badalativo. As vaidades e os interesses comerciais e de carreira impedem que se reconheçam publicamente os erros, mesmo aqueles que internamente chegam a provocar de puxões de orelha a demissões de executivos.

Isto explica (mas não justifica) porque tão raramente aparecem comentários críticos sobre marketing ou propaganda na nossa imprensa (com gloriosas exceções, como a do jornal Propaganda & Marketing!).   

Ora, nos Estado Unidos, pátria do marketing, isto não é assim. Críticos do marketing e da propaganda escrevem em diversos veículos, e o mais famoso desses críticos é Gordon Lewis, cujo brilhante livro Marketing Mutilado acabamos de editar no Brasil.

Por isso, um profissional de marketing americano que leia português (se é que existe algum) e acompanhe as nossas revistas e jornais irá pensar que todas as empresas e agências de propaganda do Brasil são perfeitas e que todos os seus profissionais são gênios que nunca erram, pois só se fala nos prêmios que ganharam e nas contas que conquistaram. Quando uma conta troca de agência, é porque houve "reposicionamento estratégico", ou por "alinhamento", nunca porque algo não estava dando certo.

sílviio lefèvere, na apresentação do porque das derrapadas, no frontspício do seu site derrapadas de marketing.
 

anti-tak

silvio matos e nizan guanaes em séría concorrência para ver quem engorda mais. as contas ?

proposta indecorosa

luiz marinho, alguns dias atrás, no bluebus, comentando sobre a abrangência da valoração enquanto força das marcas, acentuava que sua empregada, que ganha um pouco mais de dois salários minimos, havia separado uma quantia para que ele lhe comprasse um perfume importado de marca bastante conhecida.
pouco mais de dois salários mínimos, hummm? do jeito que anda o salário de publicitário, vai ter muita gente se oferecendo para ser dupla.

modestamente falando ?

não são os melhores blogs do pedaço mas quase todo dia eu vou lá.

misterwalk.blogspot.com
o blog que coleciona joanetes a procura da reflexologia podal.

voudejeg.blogspot.com
para quem gosta de carros além das quatro rodas

foodsequiser.blogspot.com
fast food, slow food, raw food & food tudo.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

a prática leva a perfeição

eles aperfeiçoaram o sistema de tornar impossível a boa propaganda.
publicitário inglês, very british, acerca d´um cliente.

o mau caráter do bom caráter

material agora disponível no senteapua.blogspot.com

amarelando

faça-me um favor sr. PV.

se o partido quer fazer alguma coisa realmente limpa em comunicação, adote a política de menos ecologia conceitual e mais tecnologia partidária. ou pelo menos olhar mais sensível, para não dizer profissional, ao semear suas mensagens.

já não bastasse um símbolo vesgo, de dar penna a sobreposição do v da vitória, temos um vereador avermelhado por falta de iluminação correta. em televisão, a natureza das imagens e paisagem com controle de luz, constrói-se dentro do estúdio ou, se vai pra fora, há que tener plata, que a natureza é pródiga mas também é implacável com amadores.

suas legendas amarelas, verde com amarelo não necessariamente traduzem leitura de brasil ou brasilidade, juntam-se aos tiques do nervosismo do líder, totalmente sem direção, da bancada de oposição do recife. e tome mais ruídos e leituras de amarelamento no conflito da tipia da logomarca, com os caracteres que saudam os 20 anos do partido que por sua vez, não harmonizam por natureza das suas famílias com créditos ao quase ventríloco apresentado - e que discurso de tronco do pau ôco, não ?

isso sem falar que se alguém quiser falar com o PV, do rio grande de norte, por exemplo, fica sem resposta de mail e não escuta nem piado de passarinho.

assim fica difícil, muito difícil, defender o verde, até mesmo para quem nutre simpatia por ele.

amadorismo não é sinônimo de honestidade nem nunca foi. verde que é verde não é furta-cor. nem da natureza, nem do discurso político.

é esta vontade de comer que nos mata de fome

o consumidor existe, apesar do consumidor, das interpretações das pesquisas, dos planejamentos estratégicos, dos planos de mídia, das elocubrações do atendimento, dos gerentes de marketing, e dos donos do negócio.

ele só não está conseguindo é se reconhecer em meio a tanta masturbação.

sábado, janeiro 28, 2006

caminhando e cantando

"os que escrevem as canções de um país influenciam mais do que os que escrevem suas leis "

ser cafona já foi revolucionário. ou seria o contrário ?

Dentro do grande armário da música popular brasileira, a obra de Odair José quase sempre ficou guardada numa gaveta modesta, de cuja clausura só escapuliam rótulos como “brega”, “cafona”, “popularesco”, “limitado”... A novidade é que cresce uma frente de oposição à compreensão corrente, que tem historicamente mantido em trincheiras inimigas as classes ditas intelectualizadas e o povo.

A denúncia de preconceito classista por trás desse cisma foi inaugurada pelo historiador, jornalista e professor Paulo Cesar de Araújo no “livro-guerrilha” Eu Não Sou Cachorro, Não (Record, 2002), que luta para demonstrar por A mais B que o “sapo” Odair foi tão perseguido e censurado pela ditadura militar quanto o “príncipe” Chico Buarque. Agora, esse grupo ganha um reforço importante: 18 dos roqueiros mais modernos do País uniram-se para gravar de modo independente e cooperativo o CD Vou Tirar Você Desse Lugar – Tributo a Odair José.

O cantor é homenageado não como ídolo “cafona”, mas como um rebelde que afrontou os costumes e a ditadura.

A denúncia de preconceito classista por trás desse cisma foi inaugurada pelo historiador, jornalista e professor Paulo Cesar de Araújo no “livro-guerrilha” Eu Não Sou Cachorro, Não (Record, 2002), que luta para demonstrar por A mais B que o “sapo” Odair foi tão perseguido e censurado pela ditadura militar quanto o “príncipe” Chico Buarque. Agora, esse grupo ganha um reforço importante: 18 dos roqueiros mais modernos do País uniram-se para gravar de modo independente e cooperativo o CD Vou Tirar Você Desse Lugar – Tributo a Odair José.

Aos 57 anos, do condomínio fechado onde mora com a mulher e dois filhos nas imediações de São Paulo, Odair José contempla a movimentação com olhar impassível, mas algo surpreso. “Tenho cantado em lugares ótimos, para pessoas até muito esclarecidas. Para lugares mais populares não me contratam mais. Ou então, quando vou, não é um arraso”, descreve, antes de ensaiar uma explicação: “Hoje o povo prefere o que não o faça parar para pensar”.

Eis aí um ponto que poderia frear logo de início a tentativa de entender o fenômeno: mas Odair José lá fazia música “para pensar”? Vejamos.

Ao migrar de Morrinhos (GO) para o Rio de Janeiro, em 1966, o adolescente fugido de casa dormiu em ruas, praias e banheiros de aeroporto, até encontrar abrigo entre estudantes que, como ele, comiam no restaurante Calabouço e lideravam passeatas contra a ditadura.

Após uma fase em que “à noite tocava em puteiros, de dia enchia o saco das gravadoras”, materializou o sonho musical na CBS, onde estreou em 1970. “Um dia, (o produtor) Rossini Pinto me disse que a companhia estava insatisfeita com meus resultados, que iam me dar a chance de fazer mais um compacto e, se não desse certo, era tchau e bênção.”

Foi para casa e voltou com Vou Tirar Você Desse Lugar, de um narrador que se declarava à namorada e prometia resgatá-la do prostíbulo em que ela trabalhava. Rossini odiou (“Disse ‘pô, os caras lhe fazem um favor e você vem com essa merda?’”), mas deixou passar – e o compacto vendeu a bagatela de 800 mil cópias. O Brasil de 1972, em pleno reinado do terror, aprendia a pensar sobre o tema-tabu da prostituição.

A bordo do sucesso nacional, Odair se mandou da CBS: o executivo André Midani tirou o novo ídolo popular daquele lugar. Um ano após a estréia na Philips, bateu de frente com a ditadura pela primeira vez, e absolutamente sem querer. O governo patrocinava a entrada da pílula anticoncepcional no Brasil, e Odair foi instigado por um amigo a colaborar na difusão do tema.

O resultado: enquanto o governo alavancava a campanha “Tome a pílula com muito amor”, Odair inverteu tudo e saiu gritando “pare de tomar a pílula/ ela não deixa o nosso filho nascer”. A canção já estava na boca do povo quando a Censura percebeu o estrago e a interditou.

Hoje Odair se diverte com a comédia de erros que co-protagonizou: “Acho que o governo proibiu a música errada. Se eles queriam que todo mundo tomasse a pílula, era melhor deixar. Ninguém aqui sabia de pílula, eu estava contando que existia, mais gente podia usar por causa da música”. E o Brasil de 1973, em pleno horror oficial à simples menção da palavra “sexo”, aprendia a pensar em sexo, contracepção e tabus afins.

Desobediente, Odair seguiu cantando a música em shows pelo País. Atendia o clamor do público subalterno que o acompanhava e por isso foi repetidas vezes reprimido, intimidado e preso pelo regime.

Voltou a cair nas malhas da Censura em 1974, quando tentava lançar A Primeira Noite de um Homem, agora cutucando o tabu da virgindade masculina. Por conta dessa, esteve cara a cara em Brasília com o general Golbery do Couto e Silva, por intermediação de um censor amigo que, segundo ele, “gostava dos artistas”.

“Ele me levou até o Golbery, que passou os olhos na letra, nem olhou na minha cara e disse: ‘O que está proibido é a idéia’.” O alto comando fardado do Brasil aprendia, nem que por um só instante, a pensar em música e em artistas populares como Odair José.

Ainda em 1973, Caetano Veloso tentou escalar os muros das classes sócio-político-musicais e convidou Odair a dividir com ele, no evento coletivo Phono 73 (CartaCapital nº 369), uma reinterpretação de Vou Tirar Você Desse Lugar. O galã suburbano foi recebido com vaias intensas pelo público universitário.

“Era um público de pessoas, entre aspas, conhecedoras dos problemas do País, que queriam ser líderes e comandar o País em benefício do povo, mas que na verdade tentavam fazer isso rejeitando o próprio povo”, reavalia Odair. Se no mesmo evento a Censura tirava os microfones de Chico Buarque e Gilberto Gil para impedi-los de cantar Cálice, Odair resistiu sozinho à saída irritada de Caetano do palco e acabou cantando... a censuradíssima Pare de Tomar a Pílula.

Confusão menor causou Deixe Essa Vergonha de Lado (1973), em que o narrador rogava à namorada, em tom tristíssimo, que parasse de esconder dele o ofício de empregada doméstica em casa de “gente importante”: “Eu já sei que o seu quarto fica lá no fundo/ e se você pudesse fugia desse mundo”. O Brasil era forçado a repensar incômodos ocultos nos quartos de despejo; e, instigada pelo apoio do cantor popular, a classe das empregadas domésticas foi à luta e conquistou o direito à sindicalização.

A balada atraiu para o autor o apelido pejorativo de “terror das empregadas”. “Foram Rita Lee e Paulo Coelho que começaram, naquela música Arrombou a Festa. Começou a surgir o negócio do ‘cantor das empregadas’, do ‘cantor das putas’. Na época eu nem via o preconceito por trás disso.”

Experiência “de corte” seria o projeto O Filho de José e Maria (1977), ópera-rock que atraiu a ira da Igreja Católica (um padre chegou a excomungar o cantor): além de investir contra o casamento e defender a instituição do divórcio, apresentava um Jesus Cristo pós-moderno, em conflito com a própria sexualidade. “As pessoas precisam saber da verdade/ (...) não sei por que você não se assume pra viver”, protestava.

“Fui ao Vaticano e voltei apavorado. Cada castiçal daqueles mataria a fome de muita gente”, reflete Odair, convicto do acerto do LP “fracassado”.

É esse Odair José mais complexo e contraditório, e não mais a caricatura cafajeste do “terror das empregadas”, que os revisionistas procuram agora tirar da gaveta. Descentralizado, o tributo une nesse propósito bandas que enviaram releituras fabricadas no Pará (Suzana Flag), Paraná (Poléxia, Terminal Guadalupe), Pernambuco (Mombojó, Volver), Brasília (Suíte Super Luxo) etc., e mesmo nomes mais conhecidos como Zeca Baleiro, Paulo Miklos, Mundo Livre S/A...

“Não houve cobrança de cachês, a maioria esmagadora das bandas bancou os próprios custos. Todos têm participação nas vendas do CD”, explica Sandro Rogério Lima Belo, economista, professor universitário e dono do selo musical Allegro, que coordenou o projeto a partir de Goiânia.

O suporte teórico concentra-se no texto de Paulo Cesar de Araújo no encarte, que defende que artistas como Odair José enfrentaram duas ditaduras simultâneas – a político-militar e outra de tez cultural, que persiste até hoje. “A ditadura das elites culturais exclui, segrega e rotula, e isso é uma quase doença, uma patologia cultural-ideológica”, revolta-se o pesquisador a CartaCapital.

Entre as bandas participantes, as motivações para embarcar na aventura mostram-se variáveis. Reinaldo Andreatta, do paulista Sufrågio, brinca de mesclar razões assumidamente comerciais com outras 100% emotivas: “Fui criado por dona Natalina, uma brilhante cantora do lar, já falecida, que tenho certeza que se orgulha da homenagem dos filhos Reinaldo e Ronaldo a ela. Para minha banda, que é ótima, mas não tem espaço na mídia, também foi uma oportunidade de aparecer um pouco”.

Fernanda Takai, do Pato Fu, confessa que hesitou em topar por não ver ligação direta a princípio, mas logo mudou de idéia: “Achei que era um jeito bacana de se colocar um novo foco sobre parte da música brasileira que é esquecida como obra”.

Já o gaúcho Arthur de Faria classifica Odair como “gênio” e se empolga pela “delicadeza e tolerância” que perpassam a obra. “São canções de carinho absoluto pelo gênero humano, de uma doçura comovente, de uma singeleza. A chave maior é esta: gentileza. Ele é encantador.”

Tatá Aeroplano, do paulistano Jumbo Elektro, balança entre a superação de preconceitos e a mera diversão: “Na banda a gente quer mesmo é deixar a vergonha de lado e se divertir. Acho que hoje essa coisa de gostar escondido está acabando”.

É nesse embalo de gente chegando de vários outros lugares que Odair José, entre sereno e incrédulo, vai botando seu bloco na rua outra vez (à frente da Bíblia e da imagem religiosa que segue admirando e contestando)

a outra vida de odair, por pedro alexandre sanches para carta capital

a entrevista ou o brasil? uma pelada onde tem gente na banheira e ninguém marca impedimento ?

Centro do Rio de Janeiro, reunião da Executiva Nacional do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Tarde de sábado e centenas de militantes se aglomeram no primeiro de uma série de encontros para decidir quem será o candidato do PDT à presidência da República. Cristovam Buarque e Jefferson Peres falam com desenvoltura, mas é Bautista Vidal quem tem o apoio de Gilberto Felisberto Vasconcellos. Autor de vários livros, atual colunista da Caros Amigos, editorialista da Folha de S. Paulo na época de Cláudio Abramo, Felisberto se destaca hoje como um dos maiores conhecedores do pensamento nacionalista em Getúlio Vargas, João Goulart, Leonel Brizola e Darcy Ribeiro. Por isso mesmo, não podia deixar a mídia colombina fora de suas análises.

***
Gostaria que você explicasse o termo "capital videofinanceiro".

Gilberto Felisberto Vasconcellos – O capital videofinanceiro é a junção do banco com a mídia. Há um entrosamento entre os dois, sendo que no Brasil o vídeo estrutura o capitalismo bancário, no seguinte sentido: a televisão é um órgão, é uma ponta-de-lança do capital financeiro, dos interesses internacionais. Então, nós estamos vivendo num país específico, pois em todo lugar você tem a televisão e o banco. Mas, no Brasil, o peso do vídeo é absolutamente determinante. Por quê? Porque somos uma sociedade ágrafa, ou seja, a população não conhece as letras e todo mundo vê televisão. De modo que a televisão é um agente que está na infra-estrutura econômica. Não é mais aquela superestrutura ideológica que se pensava antigamente. Não. A televisão é um componente fundamental do processo político. A televisão faz o Estado; a televisão determina o rumo da consciência. A televisão determina a atitude da nossa vida. Isso tudo está estruturado nessa fusão com o banco, com o capital financeiro, sobretudo o internacional, que é quem banca a mídia.

Então o maior financiador da mídia é o capital financeiro internacional?

G. F. V. – Claro. Basta fazer a análise da propaganda. É tudo multinacional, que já compraram 30% dos grandes jornais. E [Ruppert] Murdoch e aquele reverendo Moon já estão de olho na Globo. Quer dizer, se no Brasil foi vendido o solo, o subsolo e o espaço aéreo, você acha que não vão ser vendidos também a televisão e os meios de comunicação de massa? Claro!

Em pelo menos dois de seus livros você cita a influência das novelas no cenário político. Gostaria que você explicasse o papel das novelas no contexto da manipulação.

G. F. V. – Eu acho que a novela é a escola política do povo brasileiro – escola no mau sentido. Embora ela não toque em assuntos políticos explicitamente, ela vai estruturando a cabeça. Ela alcança até o inconsciente das pessoas. Então eu acho que os dois grandes fatores que determinam o comportamento e a escolha das pessoas são a novela e o programa de auditório. É por isso que a direita está sempre de olho nessas duas vertentes, tanto do ponto de vista quantitativo quanto do ponto de vista qualitativo. Uma vez um aluno me contou que não ia votar no Brizola – no interior de Minas, em Ubá – porque ouviu dizer que Brizola, ganhando, iria proibir as novelas. Então, em Ubá, Brizola não teve votos.

O governo atual afirma estar sendo atacado pela mídia, alegando que FHC era mais bem tratado, além de Lula comparar-se a Getúlio.

G. F. V. – Isso aí é delírio do Lula. Porque o Lula, na prática, faz tudo contra o trabalhismo. Se o Fernando Henrique foi o coveiro, Lula jogou cal em cima do Getúlio, do Jango e do Brizola. Talvez o parceiro ideal para o imperialismo seja o tucano e o PT seja coadjuvante. Agora, é claro que a mídia não quer também o PT porque há o perigo... Porque o PT não é só a direção do PT. O PT tem uma militância. Eles têm medo disso. Claro que é improvável que surjam lideranças autenticamente petistas, não acredito nisso. Mas pela ótica da dominação, eles vêem isso com constrangimento, daí esses ataques a Lula. Agora, claro que FHC foi muito mais poupado pela mídia. Porque é o canal. É disso que o imperialismo precisa. E a junção do PT e do PSDB é o que eu denomino "petucano". Esse verso e reverso fazem parte da classe dominante brasileira. Qual é a classe dominante brasileira hoje no Brasil? São as multinacionais. PT e PSDB representam essa classe dominante. A ideologia dominante de uma sociedade é a ideologia da classe social dominante. O petucanismo é uma expressão da hegemonia das multinacionais, que pega tudo: pega o Senado, pega a mídia, pega tudo.

Sobre Getúlio, há na academia uma aversão muito grande a ele. Outro dia um colega disse que na verdade ele não passava de um grande latifundiário, que tinha interesse apenas em estabelecer as leis trabalhistas na cidade, esquecendo o campo. Como você vê isso?

G. F. V. – É mentira. O Vargas não foi latifundiário, morreu pobre. Seu pai é que tinha fazenda, mas não é por aí. É que existe uma criminalidade acadêmica, que consiste em vilipendiar, estigmatizar, sabotar a figura do Getúlio na história brasileira. Em toda minha formação, eu nunca ouvi falar no Getúlio, nunca ouvi falar no Jango, nunca ouvi falar no Brizola. Por isso é que a universidade tem uma hegemonia antitrabalhista.

Mas a academia não seria teoricamente de esquerda?

G. F. V. – Mas é uma esquerda europocêntrica. É um marxismo de Kiev, que vem da neve. Então, sempre que havia uma contradição entre o marxismo e o nacionalismo, o que fez o mundo acadêmico? Optou pelo marxismo, porque o marxismo é europeu, é internacionalista, e Getúlio seria uma coisa tacanha do Rio Grande do Sul. Essa é a visão deturpada que fez com que o Brizola não penetrasse nas universidades, inclusive pintando o Brizola como um cara bronco e, na verdade, se você pega os artigos de Brizola da década de 1960, você percebe que não há nada na academia que se compare ao Brizola do ponto de vista da profundidade analítica, inclusive do imperialismo. É só você pegar o Iseb [Instituto Superior de Estudos Brasileiros], a USP, os grandes jornais da época e você vai ver que o Brizola possuía uma visão muito mais profunda do imperialismo, sendo governador do Rio Grande do Sul.

Nesse sentido, falando do imperialismo, você acha que a Carta-Testamento de Getúlio continua atual?

G. F. V. – Claro, totalmente atual! O Glauber [Rocha] dizia que era o documento mais trágico do Brasil, onde estaria o roteiro do povo brasileiro. Porque o Getúlio tem que descer. Como você sabe, o suicida fica no limbo, é um morto-vivo. Então o Glauber dizia que Getúlio estava rodando nos espaços siderais e um dia ele poderia voltar e assumir a libertação do povo brasileiro! Isso é genial! E é o que pode acontecer com o Bautista Vidal como pré-candidato à presidência da República pelo PDT e colocar o Brasil como sujeito da história, acabando com essa coisa colonial, essa timidez, como se na práxis nós fôssemos um paisinho merreca. Quando na verdade o epicentro da história mundial hoje passa pelo Brasil do século 21!

Com relação às pesquisas de intenção de voto, por que você tem se manifestado contra, em seus artigos?

G. F. V. – Primeiro, porque ela só pode ser encomendada por quem tem dinheiro. Segundo, porque ela tem um viés manipulador. A pesquisa instiga na opinião pública a idéia de que eleição é uma corrida de cavalo, um jogo, onde você deve votar em quem ocupa a primeira posição. Esse jogo começa a partir das campanhas de marketing e desemboca nas pesquisas. Até hoje ninguém me mostrou qual é a utilidade dessas pesquisas. Além do que, a pesquisa está despolitizada. A idéia, a ideologia, a situação política é substituída pela estatística. Então, o Lula tem 30%, Garotinho tem 20%. Fica uma linguagem da percentagem que, aliás, é a linguagem reificada do capitalismo. Em todo programa de televisão só se fala em percentagem.

E quanto à argumentação de que as pesquisas seriam importantes para evitar fraudes?

G. F. V. – Isso aí pode tanto ser quanto não ser. Para se evitar a fraude tinha que existir o voto impresso, coisa que não há. O próprio Brizola achava que ele havia sido garfado nas eleições de 1989. O perigo dessa urna é total. Enfim, a pesquisa de intenção de votos e o dinheiro andam juntos. E é uma jogada da direita. O Brizola apontou isso como um componente de manipulação dentro do sistema. Tanto isso é verdade que nenhuma reforma nesse sentido passa

a tv é ponta-de-lança dos interesses internacionais, entrevista de gilberto felisberto vasconcellos a marcelo salles, coordenador do site fazendo média.

a conferir

a arte dos slogans, luis carlos lasbeck, upis, 2002.
enquanto isto garanta o marcas de valor, da anna acioly, joaquim marçal f. de andrade e lula vieira, edição senac rio. um passeio, também iconográfico, inestimável por marcas que não saem da cabeça dos comsumidores apesar de muito publicitário desconhecer a sua história ocupado em copiar anuários estrangeiros.

fera

rory block, last fair deal.
gata e boa pra caralho musicalmente falando.
mas claro se você quer ouvir a banda eva quem sou eu pra desdizer o seu adão.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

cross country

o marketing está desfazendo seu próprio caminho. o consumidor consciente está nascendo, não é sonho, não é utopia, é pura realidade.
nádia rebouças, no I fórum social publicidade, fórum Social mundial/BR

cartas a um jovem publicitário

novo livro de duailibi. não promete, não compromete, mas é fraquinho, até mesmo para ser bíblia de estagiários.
rainer maria rilke, merecia analogia melhor.
se quer ler um duailibi que compensa, faça-o lendo criatividade: a formulação de alternativas em marketing, escrito com o harry simonsen jr. a edição original da mcgraw-hill do brasil, de 1971, você só encontra em sebos, esta de capa dura. mas foi relançado e esta nas livrarias e megashops da moda. a régua heurística que traz ainda pode lhe fazer furor quando estiver a gritar " quem se eu gritasse, entre milhões de anjos me ouviria " apesar de, meu caro, anjos na publicidade ser coisa que decididamente você não vai encontrar. pelo menos sem sexo.

à folha

misterwalk.blogspot.com
sério candidato ao grêmio lítero-recrativo de são tomé das letras.
é ler pra crer.

chovendo no molhado, para alguns, para alguns

No Brasil e em grande parte do mundo, consumir marcas de qualidade é símbolo de status social, no grupo ou na comunidade. Em uma sociedade onde é impossível conhecer as pessoas realmente, as marcas que a pessoa utiliza são pontos de ligação, uma segurança, um conforto no reconhecimento de um igual, ou de uma pessoa que tem os mesmos hábitos e gostos que você. Neste ponto, marcas são a representação da pessoa, as pessoas são as marcas que consomem. Diga-me quais marcas que você consome e eu te direi quem és. Essa é a realidade. E adivinha onde as pessoas se espelham para construir suas imagens de marca? Na tv, nas revistas. Tudo que a dona de casa-secretária-professora-mãe-nutricionista quer é parecer a mulher do comercial, a mulher da revista, que está no anúncio. E para isso é preciso comprar os produtos.

Eles são o Santo Graal fragmentado em bilhões de partículas que, consumidos em todos os seus pedaços, constroem a persona da mulher perfeita, realizada, vencedora. Não tem nada de mal nisso, pelo contrário, a propaganda e o próprio consumo em si são um anestésico potente para as mazelas diárias de milhões de indivíduos. A imagem surrada da mulher que, deprimida, deixa uma fortuna no salão e sai de lá novinha em folha, de unha feita, depilada, cabelos cortados, pintados, lisinhos e ainda passa no shopping e estoura o cartão de crédito para depois sorrir aliviada é a pura realidade de milhões de consumidoras. E o melhor é que a busca do Santo Graal nunca termina e nunca vai se completar, pois a partir do momento em que há uma certa estabilidade e evolução financeira, é a bolsa da marca Louis Vuitton, o sapato Manolo Blahnik, o batom Cristian Dior, o esmalte Mac, a blusa Zara, a camisa Cloé, o rímel Lancôme, o anel H. Stern e o colar Tiffany!!
Para o homem não é diferente, as marcas masculinas são tão ou mais sofisticadas, só perdem mercado no terreno jóias e maquiagem. Um terno Ermenegildo Zegna não tem preço, é uma Ferrari para se vestir. E vale cada cent.

Entrando na Grande Rede
A rede espanhola Zara, uma das maiores redes de varejo do mundo, que não pára de crescer a fatura anualmente bilhões de dólares, simplesmente é especializada em “copiar” com amor e carinho os modelitos lançados por Armani, Versace e outras grandes griffes mundiais. A estratégia é simples. Os grandes estilistas lançam as novidades e eles vão lá e copiam rapidamente, alterando-a, claro, para um gosto mais médio, com tecidos mais baratos, mas ela lembra bem aquelas novidades lançadas pelos estilistas. Tudo isso muito rápido, então, quando a pessoa comum vê o vestido Versace maravilhoso que a atriz X usou na entrega do Oscar, logo em seguida ela vê algo parecidíssimo na vitrine da Zara vai lá e compra, feliz e realizada. A diferença básica entre os dois modelitos? O primeiro custa 20.000 dólares, o segundo, duzentos reais. O primeiro vai ser usado apenas uma vez, o segundo vai ser batido durante todo o verão e depois vai parar no corpinho oversize da empregada e fazer o sucesso de um batizado qualquer em uma quente noite de suor, pagode e cerveja.
Ambos serviram, como produto, exatamente para o que se destinam, no caso do primeiro, alavancar a imagem da marca Versace, fazê-la ser comentada e mantê-la no topo, para com isso vender entre outras coisas, milhares de perfumes e etceteras que são o grosso do
faturamento de uma marca como essa. O segundo serviu para manter a Zara como uma empresa que satisfaz suas consumidoras ávidas por novidades, mantendo a promessa que, comprando nesta loja, ela estará sempre na moda, usando as roupas das artistas internacionais, se destacando em seu grupo social.
Em ambos os casos, e isso é um ponto de convergência entre as duas vendas, vestir-se, a função primeva da roupa ficou lá na décimo nono lugar em termos de importância. O sentido da compra de 20.000 dólares ou 200 reais é exatamente o mesmo. O que estamos vendendo em ambos os casos é sonho, ideal, sublimação, encantamento, status, tudo, menos roupa.

Roupa, ninguém precisa. Repito: Roupa, ninguém precisa.
O quê você vende mesmo? Roupa?
É melhor deixar isso para a C&A, que atendendo as mesmas demandas de sonho, encantamento e status, vende, dentro das mesmas percepções, a blusinha de 20 reais, também levemente inspirada na moda das tops e baseada em uma fortíssima pesquisa de rua que, a cada coleção põe nas prateleiras o que as pessoas estão pensando ou querendo, fazendo um mix alucinante de moda pop. Detalhe é que a C&A, com centenas ou milhares de lojas pelo mundo todo, tem bala para fazer isso, ou seja, pode colocar uma roupa na moda, rapidamente na loja, à um custo de 20 reais e ser competitiva ainda assim. Mas como dá para perceber, até na C&A as percepções vêm antes das necessidades reais. É claro que para a cliente padrão da C&A ela representa o mesmo status que Zara ou Versace conferem às suas consumidoras.
Mesmo a C&A não vende exatamente roupas, mas, se mergulharmos ainda mais na escala social, a gente vai encontrar
alguém que realmente venda roupa, mas aí o calor já fica insuportável, e pessoas trajando fuseaus coloridas e camisetões que cobrem grandes circunferências, estão gritando, arrancando os cabelos e oferecendo 3 pelo preço de 2 que, convenhamos, é o próprio inferno.

Se você acha que a ascensão social através do consumo de marcas é um certo exagero, observe mais à sua volta.
Todas as pessoas se relacionam através de marcas, das mais simples às mais sofisticadas, claro que dentro dos signos de sua classe social. A perua chiquérrima usa Hering branca com jeans Fórum, bolsa Dior e sapatos Gucci, para deixar bem claro com quem você está falando. Se você elogiar a elegância dela, invariavelmente ouvirá : imagina, estou usando Hering. Se ela falar na bolsa Dior, pode ter certeza que a perua em questão é uma nova rica. Entre pessoas de bom gosto é de extremo mau gosto ficar falando das marcas que se consome. Exibir pode, falar, jamais. Aquela velho olhar de nossos pais e avós sobre o tipo de roupa que a pessoa está usando, principalmente os sapatos, ainda é um balizador extremamente fiel de com quem estamos falando. Comece a observar mais os sapatos das pessoas. Eles realmente dizem muito sobre elas. Às vezes dizem coisas horríveis, é verdade. Um sapato maltratado destrói até mesmo um terno Armani. Uma bolsa de marca que já esteja gasta ou expuída diz que aquela mulher já teve dinheiro ou status e já não tem mais. Um blazer de couro cor de creme diz que aquela pessoa tem ou teve dinheiro, ninguém investe em um nesta cor sem ter outros dois, pelo menos, um preto e um marrom. A pensadora americana Camile Paglia diz que o terno é a armadura do homem moderno, alguém duvida?

Uma roupa chamativa demais para trabalhar, tipo uma roupa que poderia ser usada à noite, geralmente significa uma mulher de uma educação mais simples que ascendeu socialmente rápido e não tem dentro de si os signos e símbolos sociais vigentes. Ou alguém que já teve status e perdeu esse status, mas quer mantê-lo através das roupas. Ter dinheiro não significa ter bom gosto, mas sempre é possível depurá-lo com o tempo, pois o acesso que o dinheiro dá à cultura através de viagens, decoração, tecnologia, arte, marcas em geral, acaba por reformatar o indivíduo, deixando-o dentro dos padrões facilmente reconhecíveis na escala social. Padrões estes que são sintonizados em segundos por todos nós. É instintivo no ser humano. Em apenas alguns minutos, você já sabe de que nível social e cultural é aquela pessoa que acabou de conhecer e já tem para ela, um comportamento padrão adequado.
Parte deste reconhecimento instintivo se deve ao que a outra pessoa lança de sinais, através de suas roupas, seus cabelos, seu olhar e, claro, suas marcas e a forma como ela as usa.
Mesmo nas classes mais baixas, a ascensão social se dá através de marcas. O que acontece é que nosso olho não registra o fato pois são marcas que para nós já estão incorporadas em nosso cotidiano.
Por exemplo, se você vai na casa de uma pessoa humilde e ela lhe oferece guaraná, ela com certeza comentará “não é Guaraná Antarctica, mas é bem bonzinho esse guaraná”, justificando-se pelo oferecimento da marca sórdida de guaraná que ela tem na geladeira para seu consumo e de seus familiares e ofereceu à você, pessoa de uma classe social mais alta.
Até bem pouco tempo atrás, e isso ainda persiste entre pessoas mais velhas, se comentava que, ao tomar água ou refri na casa da fulana, percebeu o capricho com que ela cuidava da casa, até o”copo estava bem limpinho” como se não se esperasse por isso. Independente de ser um preconceito terrível, é um sentimento. Daí o conceito popular do “pobre, mas limpinho”, que é um valor (limpeza) entendido e aceito por todas as classes sociais e primeiro degrau de ascensão social. Ninguém sobe a escada social sendo “sujinho”, no sentido físico da palavra, é claro. Se você for ao aniversário do filho de uma pessoa humilde terá na mesa, com certeza, Coca-Cola e Guaraná Antarctica.
E na hora da foto dos parabéns à você alguém vai correr e virar os rótulos das garrafas para saírem na foto, bem direitinho, pois naquele meio social isso é status. Na verdade todos nós, do mais pobre ao mais rico, estamos subindo a escada social e demonstramos isso através do consumo de nossas marcas. Mesmo um milionário que põe na sua parede um Degas, está consumindo uma marca -Degas- e colocando na parede para todo mundo ver. Se fosse apenas para seu deleite secreto estaria no closet.
E ele não teria pagado uma fortuna pelo quadro. Ninguém nunca compra uma coisa pelo valor que ela realmente vale, pois senão ela vale menos ainda que seu preço real. Ao contrário, todos compram pelo valor emocional, pelo valor do que você ganha com aquilo, pelo valor que aquilo, aquele objeto, lhe dá. Pelo quanto aquilo acrescenta a você na subida da escada. Há muito tempo as pessoas não compram produtos e sim, percepções, sinais para serem reproduzidos socialmente. Esta é as função das marcas. Garantir o status nosso de cada dia. Todo santo dia.

Ascensão social através do consumo de marcas , do Alexandre Assumpção Diretor Criativo da e21

como curiosidade registro que a zara não faz publicidade. é um case do bôca a bôca.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

negativo ou prova de contato

imagem nenhuma é capaz de vender nada. o texto é que vende. as exceções são estatísticamente desprezíveis.
roberto mena barreto, no copy criativo, da quality.

grey

nesse mattos, não tem coelho. mas tem cartola. e como tem.

choca ou primus inter pares

mais pra bussunda do que pra juliana. e ainda tem gente que acha a cerveja - e sua propaganda - boa.

campanhas liquidadas

nestes tempos de saldos e descontos, as suas campanhas não se salvam nem dando desconto de 90%, quanto menos de 60.
mordem a lingua do pior varejo.
guararapes,tacaruna, outlet. resta ver o que fará shopping recife, já que boa vista, já se sabe de há muito, não se leva pra casa nem dando.
haja paço ou inda mais paciência.
habemus plaza, por fim ?

à pasquim

misterwalk.blogspot.com
quem não lê é mulher do padre.

temos modernos

1. As novas tecnologias produziram, no meu entender, um enorme, excessivo incremento da circulação da palavra, uma inflação da comunicação, tanto oral quanto escrita, e contra isso a literatura tem de lutar, hoje. Não creio que os novos suportes eletrônicos possam modificar a natureza da arte da palavra, como, aliás, não aconteceu substancialmente no passado, por exemplo, com a invenção da imprensa. Se há novas possibilidades na evolução da música e das artes visuais, isso ocorre porque o som e as imagens são digitalizáveis, decomponíveis em unidades mínimas, enquanto a palavra tem a soleira do significado que não se pode superar (ultrapassar). Sondar as soleiras do significado das palavras e de seus conjuntos é a tarefa da literatura, da poesia. Mas os significados não são quantitativos, portanto, não são digitalizáveis, e isso afasta a influência nociva do meio eletrônico, na esfera da palavra. Os experimentos que eu fiz se referem, ao contrário, as possibilidades combinatárias do computador que, porém, são apenas uma extensão e uma agilização das manuais. Penso, então, que, no que diz respeito a palavra, o meio não é a mensagem. (Nanni Balestrini, poeta, romancista plástico, um dos fundadores do Grupo 63, lançador dos poetas Novíssimi, início dos aos 60, em entrevista publicada domingo 22, no O Estado de S. Paulo).

2. Outro dia divulguei, neste site, artigo em que manifestava minha decepção com os anúncios publicados nas edições de novembro e dezembro das revistas Veja e Isto é. Um lixo, classifiquei. A entrevista do Nanni, que você devia ler na íntegra, deu-me vontade de voltar ao assunto. E voltar a reiterar o que há anos venho afirmando: o computador e a internet estão matando a criatividade da comunicação de marketing.

Infelizmente, redatores e diretores de arte estão se esquecendo de que antes de finalizar uma mensagem é preciso cria-la. E de que criação nasce na cabeça, não no computador. Nem na Internet.

3. O jargão publicitário tem uma frase para indicar o anúncio copiado: é chupado. E ninguém gosta ou não deveria gostar - de ganhar o apelido de chupador de idéias alheias.

Hoje a chupada se tornou mais sutil, porque as peças de comunicação de marketing saem do computador ou da internet. Ou melhor: se no conceito anterior chupava-se, em geral, boas idéias dos outros, hoje não se dá a esse trabalho. Pega-se uma imagem da internet, coloca-se nela um monte de lugares-comuns, e pronto. Fez-se a chupada. Quem faz assim tenta, embora nem isso consigam, chupar do mesmo jeito.

4. Claro: já se observam, hoje, alguns (pouquíssimos, por enquanto, infelizmente) diretores de criação estão preocupados com o que está ocorrendo. Mas ainda vai levar um tempo para reverter esse processo. Não sei se estarei vivo para assisti-lo.

De qualquer forma as agências têm uma grande responsabilidade nisso. Cabe a elas fazer com que as coisas aconteçam mais rapidamente. Até porque se não agirem assim , continuarão jogando o seu maior diferencial. Aquilo que nenhum cliente consegue fazer com maestria: a criatividade.

a tecnologia e a idéia, do eloy simões a quem, qualquer dia, vou ter de pagar royaltes. ainda mais agora ao completar-me num coro em que não estou sozinho.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

visto de entrada

"com a língua portugesa acontece o mesmo que acontece com a minha mulher: amo as duas mas não domino nenhuma".

quarta ah portuguêsa: sobrou cavaco, faltou alegria, e o super-mário agora sabe o que sentiram os dinossauros na idade do gêlo

…. assim, o melhor trunfo, o mais sólido alidado de cavaco silva é o estado de decrepitude em que o pais afunda. com o seguinte corolário: se silva foi eleito domingo graças ao desastre econômico sofrido por seu país, na sequência este mesmo desastre econômico se tornará o primeiro inimigo do mesmo silva, condenado a tirar portugal do atoleiro que se meteu …..gilles lapouge, para a agência estado.

deficit

“e este atoleiro é fundo. portugal se tornou o país mais pobre da europa. um quarto da sua população vive com menos de 350 euros por mês. pelo sexto ano consecutivo, ele terá em 2006 um crescimento mais fraco do que todos os outros países europeus(0,8%). o déficit público se elevou a 6,2% do PIB , em 2005, enquanto o tratado da união européia exige que este deficit não exceda a 3% do PIB. e todos procuram um “bode expiatório”. muitos, em lisboa, já o encontraram: é a união européia e, sobretudo, sua moeda comum: o euro. isso é verdade só em parte. a influência da europa, da qual lisboa participa há 20 anos, foi inicialmente favorável, durante quinze anos, antes de se tornar nefasta cinco anos atrás. os anos 80 e 90 foram dourados. portugal era o “ bom aluno” da europa. graças aos recursos europeus, ele construia autoestradas, atraia investidores, etc.

foi em 2001 que tudo desandou. naquele ano, houve um desengate no par espanha/portugal: a espanha decolava enquanto portugal ficava para trás. (em portugal, a administração pública permaneceu imensa(730 mil funcionários)”….. in diário de pernambuco, o jornal mais antigo da américa latina em circulação, “180 anos de credibilidade”, no dia da eleição.

como todos sabem, cavaco, que no brasil significa as sobras de madeira quando estão sendo aplainada tranformou-se em "madeira de dar em doido" e sentou o pau nos oponentes pela força das urnas.

cavaco, que no brasil também tem uma variante,” cavaco chinês”, uma espécie de cilindro tipo “casquinha de sorvete”, cone em portugal, quase biscoito comestível de tamanho e diamêtro equivalente a certas coisas mais avantajadas, ainda faz as delicias de muitas crianças e adultos saudosos em nosso país a fora.

no poder, enquanto primeiro ministro, cavaco silva literalmente arroxou o cone dos imigrantes brasileiros desrespeitando acordos vigentes - como até hoje se desrespeita, numa burocracia miserável que desrespeita a própria honra patrícia - transformando a portela em porteira fechada. justiça seja feita, com o predicado de não fazer isso de forma demagógica e sim, monossilábico e frontal. aliás, a desculpa portugêsa esfarrapada de que os brasileiros aceitam portugueses sem problema porque a população portuguesa é pequena, dez milhões, e o vice-versa com 200 milhões fica impraticável, equivale a tirar do campeonato o time grande porque certamente ele vai ganhar do pequeno. então não se façam acordos e não se estabeleçam regras para serem quebradas caralho! e mandem logo os imigrantes a patria que os pariu porque é á tal história: ou comem todos ou não come nenhum. ponhamos pois um fim as restrições à cor e ao sotaque.

recentemente lançado no brasil em clube vip na barra da tijuca, rio de janeiro- não seria mais adequado nas favelas? no brasil "os direitos recíprocos de brasileiros e portugueses", autoria feminina que lutou na assembléia com apoio astuto e decisivo de mário soares, e que na prática faz-se ao mar de tanta água.

por hora, as notas sobre o estado da economia portuguêsa antecipam os próximos posts que bem poderiam receber títulos como: servindo cerveja em puteiro — não faça julgamentos preliminares de que estamos ofendendo o país que não se trata disso. trata-se de história de publicitário de carne e osso, e não só brasileiro, e dos altos e baixos que nos custa ao ir onde tantas vezes a publicidade não está.

histórias que antes de proporem-se a desestímulo, pelo contrário: abrem os olhos e demais orifícios para a realidade de como é ser desempregado na praia mais pobre da europa. o que desde já antecipa de que não basta ser bom: tem que ter sorte ao ralar.

ou como diria o protagonista para alguns, chegou a hora do amândio e andândio.

para o cavaco, por cima, por sobre as águas da vitória.
mas por quanto tempo ? não sucumbirá ao passivo português que ninguém consegue trazer à tona ?

estamos a caminho ou uma no cravo outra na ferradura

"No atual ritmo de crescimento e distribuição de renda, o Brasil vai levar 304 anos para atingir o mesmo nível de distribuição de renda dos países ricos". no site da BBC, traduzida pelo IG.

dichionário

estou na cave dos meus pensamentos roendo uma laranja.

cave é quase porão para brasileiros. porão que no brasil nem sempre fica abaixo do terréo, que em portugal é rés-do-chão. o porão pode estar no alto, principalmente nas casas que o disfarçam como sotão.

sotãos, onde antes só habitado por fantasmas, tal como águas furtadas, habitadas hoje por quem ganha fantasma de salário ou busca moradia com aplomb - o dichionário é de português, portanto…
bem apropriadas para salário de publicitário que anda a baloiçar por excesso de bolso para tão pouca nota. nota no brasil é grana, grana é estaleca em portugal, o mesmo que bufunfa pra brasucas. tanto lá como cá é preciso uma nota preta, bufunfa, estaleca, money, para se morar realmente bem, por mais criativo que se seja.

pequenos cômodos acima do ultimo dos últimos andares, que é como se chama apartamentos em terras portuguêsas, o nosso equivalente para as águas furtadas antigamente eram moradia dos porteiros e ou zeladores que também, como em portugal, algumas edificações a tem no rés-do-chão que você já sabe o que é. há um nome peculiar em portugal, para quem, cada vez mais raro, faz as faxinas, as zeladorias para os prédios, verbete que vou ficar devendo até a próxima. antes diminutas e desprezíveis. hoje, a parte mais cara de um andar no brasil, as ditas coberturas, onde até pode-se jogar tenis e nadar até cansar. em portugal, cidade milenar as coberturas ainda não se multiplicaram talvez porque mesmo para os mais abastados anda difícil multiplicar o dito cujo, pelo menos honestamente. se é que alguma multiplicação, incluindo a dos pães, seja honesta. cabe-me o pesar de informar-lhes que lá e cá a classe media ou mírdia, com dizemos, está morta e nem sequer soube como seria enterrada.

mas não quedem-se sôfregos porque estou a roer uma laranja. continuo a roer as unhas quando de vez em quando a ansiedade beija-me a boca à força. roer uma laranja é chupar uma laranja. mas cuidado, não se arme, armar é tomar ares do que você não é, como muita gente que se acha grand-prix, em desabrido cuspidor de piropos, que laranja tem caroço. um piropo são gracejolas, as nossas cantadas. e dizer a uma rapariga, por mais que ela o seja, no sentido brasileiro, que apetece-te roer-lhe a pachacha ou sera paxaxa? que no português de portugal equivale a nossa xereca, xoxota, buceta, xana, que é diferente de chanha, um coceira que orgasmo não cura.
ainda que necessite de alguma outra vitamina que não seja a C vão, no mínimo, aconselhar-te a tomar um sumo da fruta, que é como se chama suco, considerando-te de péssimo mau-gôsto, de tal azedo equivalente ao que entendemos como sumo, que é o que sai da casca esperemida que amarga a boca e avermelha os olhos pra além do queimor.

no geral, todo a gente, que é como se diz todo mundo, vai achar no mínimo brejeiro, palavra com que os portugueses ainda classificam certos calões. calão, coisa que nossos avós, alguns portugueses, não por mera consanguinedade, vociferavam com rigor. maior ainda quando nos admoestavam nossos pais para não perderem a compostura e não usar palavras de baixo calão. o que hoje está imiscuído em nossos vocabulários abertamente como gíria que é como chamamos calão, pesada ou não.em portugal só com a malta jovem portuguêsa, malta traduza por galera, “tchurma”, o faz, e com algumas reservas.

apetece-me dizer-vos por fim que, em portugal, quando se diz que alguma coisa nos apetece, é que a vontade prazeirosa de fazê-la está mesmo na ponta da lingua, tamanho desejo de .e, dito à portuguêsa, é sentir quase um tesão, palavra que os portugueses ainda classificam também de calão ou igualmente brejeira.

se uma coisa brejeira no brasil é ainda remanescente e típica das populações do campo, com seu eterno olhar de inocência sobre o novelo do mundo, sem nenhuma maldade, mas de perspicácia de nos dar nó, em portugal a coisa pega. brejeiro tem um sentido de libertinagem que não vai bem na programação familiar.

o dichionário hoje, por exemplo, andou pra lá de brejeiro.

p.s. madeira de dar em doido, é madeira ou galho de grande resistência que não quebra quando está quebrando as costelas ou a cabeça dos outros(post do cavaco) e sobrar, tanto é o excesso pelo lado positivo, ganhar com muita vantagem; sobrou futebol, jogar muito ou sobrar como sentido de dançar que neste caso é se dar mal. o carro sobrou numa curva ou seja: derrapou e lá se foi para fora da estrada. assim se sobrou cavaco não faltou louçã, este sobrou mesmo pior ainda que o saarsfield

notas ao dichionário

soube-me bem roer esta laranja, apesar da minha guitarra desafinada, quase a esgasgar o ruy*

“roendo uma laranja na falésia, olhando um mundo azul a minha frente…. no calmo improviso do poente…. nadando sem passado nem futuro …. ao longe a cidadela do navio acende-se no mar como um desejo …. a lua já desceu sobre esta paz…. a brisa vai contando velhas lendas de portos e baías de piratas

ááh!…. havia um pessegueiro na ilha plantado por um vizir de odemira que dizem por amor se matou novo aqui do lugar de porto covo….

*ruy veloso, o chico fininho, pioneiro do rock português, que o brasil, que se gaba de ter um ouvido musical, que não é normal, faz-se surdo a moderna música portuguesa que, graças as laranjas e as brejeirices, breijerices sim ô morcão! não é só madredeus. e olha que o veloso até já virou dono de restaurante onde muito brasileiro enche a pança na ribeira da cidade do porto, cidade geminada ao recife.

p.s. sinto muito se para além da beleza da poética de do tê, letrista do ruy veloso, fica sem referência. é nisso que dá ir a portugal e encher os ouvidos de linguiças e só.

panorama da publicidade portuguesa atual em piropos

A tua mãe só pode ser uma ostra para cuspir uma pérola como tu.

Só queria que fosses uma pastilha elástica para te comer o dia todo.

Tens um cú que parece uma cebola! É de comer e chorar por mais!

Oh boa, com um cú desses deves cagar bombons!

És como um helicóptero: gira e boa!

Usas cuecas TMN? É que tens um rabinho que é um mimo!

Belas pernas! A que horas abrem?

Ó Fêvera! Junta-te aqui à brasa!

Ó jóia! Anda aqui ao ourives.

Ó morcôna, comia-te o sufixo!

Ó linda, sobe-me à palmeira e lambe-me os cocos...

Sabes onde ficava bem essa tua roupa? Toda amarrotada no chão do meu quarto!

Acreditas em amor à primeira vista ou tenho que passar por aqui mais uma vez?


Devaneios do copywriter sem nada que fazer, de um anônimo ? publicado do www.truca.pt
deve ser por isso mesmo, arranjem trabalho - ou uma mulher - pra este gajo, porque com esta produção ele não arranja uma coisa nem outra.

visto de saída

“não deu para entender nada. ele fala português tão bem quanto um português”.

terça-feira, janeiro 24, 2006

dever de casa

em publicidade tudo se cria nada se copia.
ôoops, foi mal, eu copiei errado.

os fins justificam os medos ? ou seriam peidos ?

pipocou, mas o certo seria usar o termo, papocou semana passada— e não se sabe porquê tantos publicitários de carteirinha dourada puseram-se a discutir a charqueada - notícia novidadeira sobre a revolução ou seria involução? fato que é velho do fim do modêlo clichê do atendimento em agência que tem nome de bucha.

não pode andar bem mercado que lança mão de artifícios iguais a este. tampouco, que se perde em tomar partido de coisas que sem o partido partidas estão. e de há muito, seja pela casqueadura do tempo, seja pelas falácias que cristalizaram a picaretagem com redundância.

ao fim e ao cabo, interessam os resultados conseguidos. e o tilintar na caixa, para cliente e agência.
esta discussão de fim, começo, lipo, do atendimento, é tal qual a discussão de open ou no open-space em detrimento do open mind.

quando o open space tornou-se moda no brasil e saudado como oxigenador de cérebros, os cérebros que inauguraram o sistema já tinham décadas de experimentação da fumância passiva no espaço. criado a partir da arquitetura de espaços fabris-industriais no finzinho da década de quarenta. tão novidadeiros, como o conceito de loft preferido, durante causa época por nove entre dez noveau richelieus.

o que é fato, de fato, o que também não é novo, e nada auspicioso, é que também, de novo? não é novo em publicidade, é a constatação de que ela não consegue quebrar o cíclo desgastado de sí mesma lançando mão de estratagemas das falsas novidades para camuflar esta verdade: de há muito não se faz nada de novo - e de bom mesmo pra valer - em nenhum tipo de arquitetura: nem física, nem operacional, nem cerebral.

aí lança-se mão das etiquetas carbonizadas de loja de conveniência barata: fim do atendimento! fim das paredes! reestruturação(fim do emprego! e já agora fim do open space! tudo para voltar na década que vêm ou quem sabe antes se não for decretado -e conseguirem - o fim do négocio.

como diria o fotógrafo, antônio quaresma, fotógrafo de arquitetura e publicidade piauiense: no princípio, são os princípios, no meio, são os meios, e no fim, são os fins.
não se sabe ainda se é a masturbação e pela melancolia ou se a melancolia é pela masturbação.

na pasta ou geléia com bosta*

Você é criativo. Você é talentoso. Você é premiado. Parabéns. Você é apenas mais um bom publicitário. Mais um bom publicitário em um mercado cheio de profissionais tão competentes quanto você. O problema é que o meu, o seu, o nosso mercado não suporta tantos profissionais assim. E, para piorar, nossos clientes também não.

Nós repetimos tanto as fórmulas de como se faz um anúncio que os clientes aprenderam. E já sabem fazer um sozinhos. Vai me dizer que você nunca esteve em uma reunião de briefing ou de apresentação de campanha em que o marketing virou para você e disse: “Essa chamada até que é boa. Mas faz o seguinte:aumenta essa foto aqui, passa o logotipo pra cá, que o anúncio vai ficar muito melhor. Ou então, você pode fazer uma chamada mais direta, que resolve.” E daí surge uma nova opção de anúncio. Talvez pior que a sua. Talvez mais eficaz. Um anúncio feito pelo marketing, uma pessoa - você sabe - responsável pela construção de marca de uma empresa. É claro que ele pode e deve opinar sobre a comunicação. Mas está errado em criar um anúncio por você. Ele paga a sua agência para isso. E cobra a sua agência por isso. Mas nós erramos ainda mais ao continuarmos pensando em fazer apenas anúncios para eles. É pouco.

O comprometimento com o negócio é hoje tão ou mais importante que a busca por um título ou layout brilhante. Comprar os anuários mais recentes e ver as referências vanguardistas vai insprtar tantos caminhos quanto conhecer profundamente o produto e seus concorrentes. O interesse nos resultados que a sua campanha trouxe para o cliente deve ser tão comemorado quanto os prêmios que ela certamente trará. Por quê? Porque criar negócios através do nosso talento faz toda a diferença. A diferença, por exemplo, de uma conta permanecer ou não em uma agência.

Quem está do outro lado do balcão sente falta desse perfil de interlocutor na criação: profissionais interessados em todas as etapas do processo, realmente participativos. São com eles que os clientes querem falar. E, justamente por isso, ouvem.

“Mas que papo careta é esse?” Você deve estar pensando aí, do outro lado do computador. “O Álvaro está escrevendo isso só porque está diretor de criação. Deve estar querendo agradar algum cliente ou pensando em um prospect.” Que nada. Eu estou pensando em você mesmo. Ou melhor: na nossa profissão. Enquanto a carreira de um criativo for pautada apenas na criação de anúncios, ela corre o risco de durar tanto quanto um um.

você faz anúncio? é pouco. do álvaro rodrigues, então presidente do clube de criação do rio de janeiro e diretor de criação da agência3.

*in tempo, qualquer referência do título ao www.napasta.zip.net não é pura coincidência

tiro no pé( o alvo era a metáfora)

com as suas últimas decisões contra o comercial da fiat, chumbado por ser considerado instigador de direção perigosa, e seus infelizes e conservadores comentários sobre o comercial da coca-cola(amante saindo do armário) que nem associações católicas americanas fariam, o conar vai ficando gagá e prestando um desserviço à propaganda, talvez em consonância com o momento em que as próprias agências estão fazendo questão de jogar a última pá de cal.

amante saindo do armário é um clássico da cultura e da fantasia do inconsciente coletivo amoroso e humoroso, não só do brasileiro.
no entanto, lenhador, abatendo árvore que por um fio congraça-se com lenhador, em nome do gol, gol contra da coca-cola, não mereceu observações.
ainda bem. deve-se deixar ao consumidor, nestes casos, o livre-arbítrio de devolver o efeito inverso para agência e anunciante.
parece que o conar tá com síndrome de big-brother. o outro, não o dá globo, que este não levanta mais pau de ninguém.
eita! programazinho de bunda murcha sô!

tela requentada

não é só o tela quente não.
a infâme repetição de filmes na programação da globo não são só um desrespeito ao telespectador, são um desrespeito a sua memória.
basta de bruce willis com cabelo!
que estes filmes já estamos carecas de ver, pombas!

segunda-feira, janeiro 23, 2006

sinais dos tempos

a única novidade naquilo que é anunciado como novo ou revolucionário na publicidade hoje em dia, é que o novo já vem com botox aplicado de véspera.

nada de novo no front ou o novo de novo requentado

1.Entrou na minha sala feliz da vida.

“Trouxe o brief que vai dar um baita faturamento para a agência”.

Sim, e daí, perguntei, fingindo indiferença.

“O cliente vai lançar um novo produto”.

Sim, e daí, perguntei de novo.

“Já passei o brief pra criação, inclusive com a pesquisa que ele forneceu”.

Sim, e daí?

Meu executivo de contas caiu em si.

“Pôxa, eu trago uma grande notícia e você só sabe dizer sim e daí?!”

Sim, e daí, que contribuição você deu ao brief do cliente?

“Passei ele pra criação e pra mídia.”

Entre o momento em que o cliente passou o brief e o que o passou para a criação e a mídia, o que você fez, perguntei.

Ficou confuso.

“Ué, tinha de fazer mais alguma coisa?”

Tinha. Tinha de ir ao mercado, conversar com o consumidor, levantar e checar informações secundárias, analisar a concorrência, ver se a estratégia proposta pelo cliente está correta, criar e sugerir táticas surpreendentes de marketing e de comunicação etc.

Ficou atônito, cara de bobo, olhando pra mim. Eu com uma vontade danada de mandar que ele estudasse sobre a verdadeira função do atendimento.

2. Outro dia fui surpreendido com as declarações de publicitário famoso, afirmando que sua agência vai revolucionar a publicidade, porque passou a praticar a comunicação integrada de marketing.

Fiquei surpreso porque comunicação integrada de marketing é algo, como todos sabemos, de importância reconhecida desde a década de oitenta. Assunto tão carne de vaca que a grande maioria das agências diz pratica-lo, embora boa parte delas não tenha a menor idéia do que se trata.

3. Agora, outra surpresa: a Fischer anuncia a extinção do atendimento. O cliente passa a ser atendido pelo planejamento e pela criação.

Mas que coisa, pensei quando li a notícia: na minha concepção, e ela é antiga, atendimento tem de entender e fazer planejamento. Planejamento e criação têm de atender o cliente. Isso sem contar com a mídia, sobre a qual não me lembro de ter lido na notícia. Trocando em miúdos: na agência ideal tem de haver um suporte. Uma área com informações da qual o atendimento, digo, o planejamento, a criação e a mídia podem lançar mão. Mas eles não podem perder a iniciativa.

4. Agora só falta vir a público outra agência para dizer que obriga os profissionais daquelas áreas a visitar mercado, a conversar com os consumidores e membros do trade, e assim enriquecer brief fornecido pelo cliente, sugerir iniciativas, aproveitar oportunidades, orientar a melhor aplicação da verba disponível.

5. Para essas agências que ainda não fizeram isso, recomendo a leitura da revista Exame desde janeiro, 18, da matéria cujo título é “no super mercado, na favela, no bar...” Explica “porque cada vez mais empresas deixam de lado as pesquisas formais e fazem executivos mergulhar no mundo real dos consumidores”. Só como aperitivo, aí vai uma declaração de Eduardo Bendzius, um dos responsáveis pelo marketing da Diego, sobre sua experiência no ponto de venda, publicada na reportagem:

“Essas saídas são um choque de realidade”.

Se as agências prestes a anunciar essa “inovação” quiserem completar a informação, leiam também, na revista Management de janeiro/fevereiro dossiê sobre O Novo Consumidor.

6. Enquanto redigia estas mal traçadas, lembrei-me de experiência que vivi recentemente. Contratado por agência de Floripa, exultei quando percebi que ela estava dentro do prédio de um shopping center. Isto é, dentro do templo do consumo. Era uma grande oportunidade de gerar um programa de atualização permanente para os profissionais da agência e mostrar isso ao mercado como um fantástico diferencial. A sugestão foi recebida com ironia. Começou, ali, minha caminhada em direção à porta da rua.

7. Coisas como essas me confundem. Quem sabe se você, mais inteligente e mais bem informado do que eu, me ajuda a compreender.

só estou querendo entender, do eloy simões, no www.acontecendoaqui.com.br

a propósito, no: e se,...? como criar uma revolução criativa no trabalho, do dave allan, matt kingdon, kris murrin, daz rudkin, da best seller, 2000, tradução do original what if, de 1998, os autores sugerem, pregam, praticam - e ganham dinheiro com isso,a what if é uma empresa - justamente fazendo, e fazendo ver e praticar, o que os profissionais da agência catarina não entranharam. e olhe que encostar a barriga no balcão em santa catarina é um convite aos sentidos, irrecusável, para quem os tem funcionando e desejosos de fuçar.

rei da voz ?

Conheci Eduardo Fischer no início de sua carreira, durante o famoso curso de criatividade de Buffalo, onde fomos room mates . Ele estava se preparando para começar em alguma agência e tinha uma convicção, que declarava com o despudor de um jovem sonhador: “eu ainda vou ter a maior agência do Brasil”. Sua carreira é bem conhecida de todos e mostra que ele manteve a meta que anunciava então. De minha parte, mesmo acompanhando à distância, penso que uma de suas muitas virtudes como empreendedor é ter a sensibilidade necessária para reconhecer as oportunidades e aproveitá-las.

Agora ele anuncia que vai transformar a estrutura de sua agência,eliminando o atendimento como é entendido hoje. Errado? Em minha opinião, certíssimo e na hora apropriada, mais uma vez. Talvez até com algum atraso. Explico.

Aqueles que tiveram a bondade e paciência de me ouvir nestes últimos anos, em palestras e wokshops, puderam conhecer minha análise do Atendimento de uma agência de propaganda, que vou tentar resumir assim:

1. Em suas origens, o contato, ou atendimento, veio da corretagem,prática comum nos veículos de comunicação e adotada pelas agências de propaganda. Sua importância era então fundamental, pois ele era muitas vezes o “dono da conta”,que o acompanhava em caso de mudança.
2. Mesmo depois que essa circunstância foi praticamente banida do do mercado, ele manteve seu prestígio e valor, pois era a “ voz do cliente” dentro da agência e vice-versa.
3. Com a crescente valorização das outras areas e profissionalização das estruturas nas agências, a Criação e a Mídia, principalmente, passaram a ter cada vez maior exposição junto aos clientes, fazendo as apresentações de suas especialidades.
4. Já não tão influente na hierarquia das agências, o contato fez sua última trincheira no Planejamento, mas o surgimento de especialistas na matéria pos em cheque essa defesa. E o Atendimento ficou perdido.Foi na época em que insinuações injustas e mordazes diziam que o contato precisava ter braços compridos e fazer musculação para carregar layouts.
5. Qual a saída? Na minha visão, e muitas vezes eu disse isso, as agências não teriam atendimento ou contatos, mas Gerentes de Contas, verdadeiros gestores dos assuntos do cliente dentro e fora da agência, em tudo que diz respeito à comunicação de marketing e à preservação da Marca. Sua responsabilidade deveria extrapolar a construção de campanhas, que ele teria que coordenar, estimulando e orientando as diversas apresentações setorizadas – iria além, administrando e rentabilizando os investimentos do cliente. Ao invés de se constranger com o título de “voz do cliente na agência” e vice-versa, ele assumiria essa verdade e construiria sua carreira como imprescindível gestor de uma atividade intensa e co-participativa.

Não será mais ou menos isso o que pretende implantar o Fischer?

A verdade é que o tema poderia ser aprofundado, ampliado e aperfeiçoado nas cátedras universitárias, mas, para minha surpresa, fiquei sabendo que nossos currículos não incluem essa matéria. Ficamos, pois, nas opiniões e nas brechas eventuais que as oportunidades oferecem.

fim do atendimento em agencias ? do júlio pimentel, administrador publicitário, consultor, ex-professor da ESPM são paulo, colunista do acontecendoaqui.

banca examinadora

publicidade não se aprende em livros, principalmente os de e sobre.

mas dois há que sobram, e não exarcebam sobre a atividade. escritos com paixão e com culhão, que é o que falta na publicidade que vivemos— no restante a didática para receber a aprovação da banca examinadora matou as idéias. estes dois livros, podem e devem ser companheiros de uma vida inteira. acentuando-se que inda mais injustiçado livro que traz por título pensado para o atendimento mas que tem muito a oferecer à criação.

por isso mesmo clássicos. e inspiradores. sempre que eu recomeço na atividade. leio e releio. para não deixar a modôrra e o mau caratismo me tomarem de encosto e criarem crostas — sim a publicidade é uma profissão de recomeços descontínuos , por isso vá se acostumando com a noção de assincronia e diacronia.

ainda que esquecidos em muitas prateleiras, caixas de papelão, sebos e calçadas, um deles nem sei se reeditado?, fazem a diferença. principalmente numa leitura corra por fora de moldes esquemáticos mas que moldam caráteres que assim os quiserem permear.

contato imediato com atendimento em propaganda(agências & anunciantes) do elóy simões, pela global, edição de 1992. se os atendimentos - e toda a agência, até a mocinha do café, quando havia - tivessem lido o livro, certamente o atendimento não teria se tornado a chacota que se tornou e se obsoletou a sí mesmo da pior maneira possível. tivesse lido o livro, a criação, e as piadinhas sobre o atendimento não seriam as piadas de sí próprios.

outro clássico, e também a frente do seu tempo, até hoje: criatividade em propaganda, do roberto menna barreto, de 1978, da editora documentário/summus, em co-edição com a escola superior de propaganda e marketing. o livro é tão pertinente que conseguiu dar verdade também à apresentação do otto.h.scherb, então diretor presidente da ESPM, sapecada na capa: a melhor coisa já escrita por um publicitário brasileiro. este, sofreu reedição, mais largo e mais alto, mas não mais grosso que o meu inflado de anotações por anos à fio, síndrome da sede do aprendizado e da cachaça que não me deixa abstêmio a boa propaganda apesar da ressaca de só levar na cabeça por isso.

estes dois livros valem por uma vida profissional brilhante, mas brilho de outro tipo ao qual nos desacostumamos a validar, referenciar e invejar. por isso mesmo nada fácil de ser alcançado para quem os souber absorver. e nem pensem que vou utilizar a figura do valem por uma faculdade, ainda mais as de publicidade de hore: livros não merecem tal esculhacho.

é claro que há outros livros - não muitos - que também podem dizer muito a quem quer fazer bem feito. mas creio que nenhum tão fundamentais como esta dupla(como deveria ser na produção da boa propaganda). isto, claro, afora os hour-concours do james webb young, técnicas para produção de idéias e o scientific advertising do claude c. hopinks, salvo engano traduzido no brasil por a ciência da propaganda. este escrito lá pelos idos dos 40 ? cujas referências as editoras estão fugidias a memória neste momento.

também com peso mas já distanciando-se dos dois primeiros, mais três para você economizar seu dinheiro, espaço na sua estante, e espaço na sua cabeça para coisas que realmente importam:

fazer acontecer, do júlio ribeiro, pela cultura, de 1994;
mais vale o que se aprende que o que te ensinam, do alex periscinoto, da best seller, de 1995;
propaganda ilimitada, do petit, pela siciliano, de 1991.

a partir daqui começa o vácuo. mas se você quiser ser simpático com o carlos domingues, criação sem pistolão, negócio editora, 2003, e constatar que o claim encaixado na capa " segredos para você se tornar um bom criativo", coisa que um bom criativo sabe que não há, já denuncia que o livro do carlos é para os domingos. semana inteira são os dois primeiros, por isso mesmo menos babadalados.

no mais, muita gente candidata ao "farenheit" incluindo os piores textos do washington que não está sozinho embora tenha se esforçado bastante ao que parece.

in tempo: leitura despretenciosa que rende dividendos: plínio cabral, do outro lado do muro, propaganda para quem paga a conta,da summus, 1986, que é para nem você nem eu ficarmos em cima do muro.

sábado, janeiro 21, 2006

ledo engano

a posteridade, como todo mundo, também pode se enganar.
heywood broum

slow food

bimba de boi na brasa
lava a bimba do boi bem lavada, bota sal e assa na brasa.
come-se com macaxeira, inhame ou batata doce.
receita 22, de zefinha, enfermeira do hospital agamenon magalhães
no comida de pobre do liêdo maranhão, edições bagaço, 1992.

ou se preferir, a alternativa da receita 74, fava com tabaco de rapousa, do joão, barraqueiro de beberibe:
— cozinha de água e sal, maxixe, coentro e folha de mustarda(lava umas três vezes e espreme com a mão a folha da mostarda para não ficar amargando).
em seguida, prepara o tabaco da rapousa(milho torrado e pisado no pilão) e mistura com a fava.

e pra não comer a seco, anota ai a jinjibirra, receita 96 do mesmo joão:
— pega a casca do abacaxi, lava e coloca numa panela com água. tapa e deixa passar uns três dias, e depois bota açucar.

claro, você sempre pode passar no macdonald´s. mas aí a bimba do boi vai entrar por outro buraco.

na ante sala do não dentista

pensando no seu bem estar e torcendo pra que você queira levar bimba mesmo em casa deixe-me sugerir a trilha musical.
keb´mo, simplesmente o melhor disco de blues acústico do ano que foi lançado. se não encontrar consiga do mesmo keb´mo , keep it simple, que faz o que você não faz em publicidade.

agora se você gosta de ares moderninhos - se bem que não conheço nada mais moderno que o blues - vá de blue note revisited, e dê o primeiro bocado no oriental folk soul com o la funkmob ," faixa a do lado a " .
e bon apetit.

(depois você satisfaz a sua fantasia de vocalista da banda calypso. o que essa gente tem de fazer pra levar bimba, não?).

como de fato, alguns de nós também não existem

Um artista ‘genial’. E ele nem existia

"Seria um acontecimento. O japonês Souzousareta Geijutsuka, anunciado pela imprensa cearense como um dos principais nomes da arte contemporânea universal, era ansiosamente esperado semana passada em Fortaleza, para abrir a exposição Geijitsu Kakuu. Convidado especial da curadoria do Museu de Arte Contemporânea do Ceará, Geijutsuka mostraria ao público cearense por que seu trabalho é aclamado em todo o planeta como uma obra revolucionária que, segundo o material de divulgação de sua eficiente assessoria de imprensa, incorpora ‘novos conceitos à arte’, como os de ‘operação em tempo real, simultaneidade, supressão do espaço e imaterialidade’. Os jornais locais deram amplos espaços para a divulgação da exposição. Um deles chegou a publicar, no dia marcado para a abertura do evento, uma entrevista de página inteira com Geijutsuka. Tudo perfeito, não fosse um detalhe: Souzousareta Geijutsuka não existe.

A idéia de inventar o tal japonês que – segundo informava um jornal de Fortaleza – ‘conquistou fama mundo afora por unir arte, ciência e tecnologia’ partiu de um jovem artista de 23 anos, Yuri Firmeza, paulistano radicado na capital cearense desde a infância. ‘A intenção foi mostrar como a arte hoje em dia encontra-se subordinada a exigências e manipulações mercadológicas e a modelos construídos e legitimados pela mídia, pelas galerias e pelos museus’, explica Firmeza. Para tornar sua história mais verossímil, ele conseguiu convencer especialistas a escreverem textos críticos sobre a obra do fictício Geijutsuka, incluindo aí o próprio diretor técnico do Museu de Arte Contemporânea do Ceará (MAC), Ricardo Resende, 43 anos, ex-curador do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM). ‘Vivemos uma era em que muitas outras forças, além daquelas que o artista naturalmente dispõe para criar, regem o sistema da arte’, já denunciava também Resende, de forma velada, no texto de apresentação da ‘exposição’.

Tudo foi planejado nos mínimos detalhes. A namorada de Yuri Firmeza se fez passar por assessora de imprensa e abasteceu os jornais locais com imagens de algumas das ‘obras’ de Geijutsuka. Entre elas, uma série de fotos prosaicas de um gato, que foram publicadas na imprensa local como sendo cenas de um ‘videoarte’ do ‘genial japonês’. ‘Era apenas um gatinho que vi na rua, num bairro aqui em Fortaleza, e fotografei com minha máquina digital doméstica’, revela Firmeza. Uma fotografia de uma ensolarada praia cearense, distorcida em um editor de imagens para parecer uma figura abstrata, foi estampada também pela imprensa local como um ‘infográfico’ de Geijutsuka. Na legenda da ilustração, uma frase pinçada da longa ‘entrevista’ que ele havia concedido, por e-mail, ao jornal: ‘Os historiadores da arte são iguais ao público: têm dificuldades de reagir ao que não entendem’.

Yuri deixou algumas pistas propositais, que não foram decodificadas pelos jornalistas. Em japonês, Souzousareta Geijutsuka significa exatamente ‘artista inventado’. E o nome da exposição, Geijitsu Kakuu, pode ser traduzido como ‘arte e ficção’. No material de divulgação repassado à imprensa, dizia-se ainda que o suposto artista havia criado a fotografia ‘Shiitake’, nome do cogumelo que pode ser encontrado em qualquer restaurante japonês, mas que foi definida por sua ‘assessoria de imprensa’ como uma ‘técnica que permite a captação dos fenômenos invisíveis ocorridos na atmosfera’.

No dia da abertura da anunciada exposição, em vez das obras revolucionárias de Souzousareta Geijutsuka, o público deparou-se apenas com uma série de e-mails pregados na parede da sala reservada ao evento pelo museu. Nas mensagens, Yuri Firmeza e um amigo trocavam idéias sobre arte contemporânea e discutiam animadamente a obra de autores como Gilles Deleuze, Antonin Artaud e Pierre Bordieu. Dessa troca de e-mails é que surgira a idéia de criar um artista imaginário. ‘O que me interessa é interrogar sobre a qualidade do que compõe todo esse sistema de legitimação estética: críticos, jornais, artistas, curadores, galerias, museus e o próprio público’, escreveu Firmeza em uma dos e-mails ao amigo. ‘Não sei como será a receptividade em relação ao Geijutsuka, mas acredito que suscitará saudáveis desconfortos’, previa.

Dito e feito. Revelado o simulacro, a reação da imprensa cearense foi violenta. Yuri Firmeza foi chamado de ‘moleque’ pelos jornais e foi alvo de editoriais indignados. Sobraram farpas também para a direção do MAC por ter ‘compactuado com a farsa’. ‘Em vez de irritar-se, a imprensa está perdendo uma ótima oportunidade para refletir sobre as provocações que Yuri Firmeza fez a todos nós’, avalia o diretor técnico do museu. ‘Não se tratou de uma ferroada à mídia local, o mesmo poderia ter ocorrido em qualquer lugar do país. No Brasil, somos deslumbrados pelo que vem de fora e pelo que nos é apresentado como algo novo e revolucionário, é nisso que todo esse episódio nos obriga igualmente a refletir’, analisa Resende.

‘Bastaria fazer uma rápida pesquisa no Google para que os jornalistas descobrissem que não havia, na internet, nenhuma menção ao tal Geijutsuka, apresentado como um artista famoso, com exposições consagradoras em Tóquio, Nova York, São Paulo e Berlim’, diz Yuri Firmeza. ‘Mas eu não quis provocar apenas a imprensa, isso seria reduzir o alcance da denúncia; a provocação foi extensiva a todo o circuito das artes em geral’, insiste ele, que mantém uma página pessoal na internet (http://yurifirmeza.multiply.com/) onde registra suas principais performances – ou suas ‘orgias multipoéticas’, como prefere definir. Não se estranhe nada do que for visto ali. Afinal, na pele de Souzousareta Geijutsuka, na ‘entrevista’ à imprensa de Fortaleza, ele já advertira: ‘Tudo está integrado a um exercício do simulacro, cujo objetivo é retirar os hábitos de seu estado de evidência’. Seja lá o que isso possa vir a significar."

arte inventado, por lira neto

a matéria não te lembra certos nomes da propaganda? inventados ou em plena inventação de sí próprios ?

sexta-feira, janeiro 20, 2006

tão-te king

propaganda: quando mais você sabe menos você entende.

é acertando que se erra. com certeza

Acreditar que diferencial competitivo se cria na agência;

Investir sem acreditar em suas agências;

Não saber diferenciar o que é marketing e publicidade;

Confundir posicionamento com "entender do negócio";

Achar que publicidade sozinha vende;

Confundir negociação com negócio.


Top 6, os erros mais comuns entre os clientes no csf11.blogspot.com

como nossos pais

Notícia de última hora: a maior procura no Vestibular da Fuvest, um dos mais disputados do país, é por publicidade e propaganda. No tempo em que eu ainda pensava em vestibular, médico e engenheiro eram o começo honroso de uma carreira de futuro.

Fiz propaganda por eliminação: tinha que ser algo que não envolvesse matemática (sambou a engenharia) e a medicina, bem, eu era péssimo até pra acertar o lugar do band-aid, imagine então o médico maravilhoso que eu seria.

Tudo bem que existem outras especialidades, mas realmente, não tinha talento pra coisa. É bem verdade que ninguém também me perguntou se eu tinha talento pra propaganda. Eu não me perguntei.

Enfim, foi nela que eu me meti. E aqui estou. Mais engraçado ainda é que meu pai teve a oportunidade de enveredar pela publicidade lá no fim dos anos 50 início dos 60, mas já tinha um filho pra criar (era o meu irmão mais velho. Eu nunca dei trabalho) e a propaganda era vista como uma coisa meio “marginal”. É bom deixar claro que era um “marginal” por desconhecimento; ninguém sabia muito bem o que faziam os publicitários e portanto, era “marginal” e “perigoso”; mas tudo light. Mas isso não era motivo naquela época para ir parar nas páginas dos jornais, fora se fosse com um anúncio. Era mais como uma profissão que não oferecia segurança e ponto. Ou seja: não é culpa do meu pai eu ser publicitário.

Ninguém imaginaria que uma profissão pouco conhecida, sem uma história clara sobre seus atributos, iniciada por profissionais que nunca fizeram faculdade sobre o assunto porque nem existia; uma profissão que não exigia “estudo” como engenharia ou medicina, iria se tornar a mais procurada cadeira nas faculdades e universidades.

Hoje, quem chega, talvez chegue com mais informação que meu pai tinha. Certamente que sim. Houve a natural evolução da profissão, técnicas novas surgiram, profissionalizou-se a profissão. Formaram-se Clubes de Criação, Grupos de Atendimento, Mídia e escolas especializadas. Seminários, premiações, workshops. Novas tecnologias e ferramentas sofisticadas; Mac, Tiger, Photoshop, Foto Digital. Vieram novos meios, novos pensamentos: Internet, TV Digital, Marketing Viral, eventos, branding. Não há como negar que hoje um estudante pode saber mais e saber melhor o que quer dessa profissão, além de achar que dá pra coisa.

O duro é que depois disso tudo, depois de ter agências e clientes mais profissionalizados, a grande questão ainda é a mesma: dá pra crescer mais o logotipo?

Meu pai escapou de boa.

meu pai não sabia de nada, do marcos apóstolo, ex-diretor de criação da artplan, redator da dm9, rio.

aula de geografia

A morte do general brasileiro trouxe o assunto de volta. Mas à distância, que ninguém gosta de país pobre: do Rio, de São Paulo, de Brasília comenta-se o envolvimento brasileiro no Haiti – e, com a ajuda de agências internacionais, procura-se traçar um perfil do país onde há tropas brasileiras, mas jornalistas brasileiros não há.

Claro, não deve haver fila de repórteres pedindo para cobrir o dia-a-dia do Haiti. É mais legal mostrar aquela bola enorme caindo no réveillon de Nova York, ou acompanhar o passeio de Paulo Coelho, José Dirceu e Fernando Morais de um restaurante francês a outro. Mas, se o importante é o leitor, é inconcebível que um país ocupado para reconstrução, sendo as tropas de ocupação comandadas por um brasileiro, com riscos reais para a vida de soldados brasileiros, não tenha um vestígio sequer de imprensa brasileira.

O Haiti é aqui, cantava Caetano Veloso. Não, o Haiti não é aqui: o Haiti é longe. A falta de conforto repugna os jornalistas, o custo de mandar gente repugna os patrões; teme-se que as imagens obrigatoriamente feias repugnem o consumidor de notícias.

Mas as imagens dos atentados de terroristas muçulmanos em Londres e Madri, imagens de sangue e morte, foram vistas; nossos repórteres estavam por lá. Qual a diferença? Só uma: Madri e Londres estão em países ricos. Se o Haiti quiser cobertura jornalística no Brasil, que enriqueça primeiro.

o haiti fica longe daqui, do carlos brickmann

quinta-feira, janeiro 19, 2006

citizen kane

comecei em cima e trabalhei duro até chegar embaixo. orson welles

quase dialética

claudio deckes dizia que na bahia, feio fica bonito.
no recife, digo eu, o bonito fica feio.
maledicência minha?
espere só até você descer do avião.

causa época

1. As três duplas olhavam pra mim atônitas.Tinham passado o dia tentando criar uma campanha que valesse a pena, e eu havia recusado todas as sugestões – sentia a falta de uma grande idéia. Era madrugada, já, e o relógio não nos dava sossego. A reunião para apresentação do trabalho estava marcada para as cinco da tarde daquele dia, e a gente estava empacada. Eu podia ver, nos olhos da equipe, um misto de angústia e ódio. Contra mim, claro.

Aí aconteceu.

O estagiário, que desde a manhã do dia anterior acompanhava e tentava participar daquele esforço, disse timidamente, quase em um sussurro: “e se....”
Quando completou a sugestão, as duplas explodiram de alegria. Primeiro, uma. Depois, outra. Finalmente, todas. “É isso aí!”, alguém gritou. A partir dela, o trabalho deslanchou. Em pouco tempo, eu tinha em mãos três grandes campanhas e a gratidão dos criativos por tê-los feito sofrer daquele jeito, mas em compensação, lhes proporcionado a oportunidade de sentir aquela euforia que somente os verdadeiros criativos conseguem sentir.

2. Esta semana repeti um exercício que volta e meio costumo fazer. Peguei as edições das últimas oito semanas de Veja e Isto é,e me fixei nos anúncios. Com calma, analisei todos. E sabe o que vi?

3. Vi um deserto de idéias. Títulos que nada tinham a ver com a ilustração e vice-versa – parece que redatores e diretores de arte nunca se encontraram. Um monte de palavras ônibus despejadas de qualquer maneira. Layouts confusos, como se os diretores de arte tivessem se especializado em agredir a inteligência e o bom gosto dos consumidores. (Para não ser injusto: faço uma única exceção, a da campanha criada para Isto é, com layouts de grandequalidade, que lembram outra campanha criada de anos atrás para Chivas). O resto, desculpem-me os criativos, é lixo. Lixo puro.

Os autores desses trabalhos não sentiram, tenho certeza, a emoção que a gente sentia, diuturnamente, por um trabalho bem feito.

4. Se não sentiram, deviam experimentar. Vai ser bom para eles. E ótimo para a publicidade, cujos resultados têm sido tão criticados ultimamente.

curto e grosso, do eloy simões, esta semana no www.acontecendoaqui.com.br

nem no limbo ficar em paz agora a gente pode mais

Papa Bento XVI cria comissão de teólogos para estudar o fim do limbo, a moradia das almas não-batizadas

TEÓLOGO Bento XVI já disse que a idéia do limbo deveria ser abandonada

Ao que tudo indica, uma das resoluções de Ano-Novo do papa Bento XVI é reduzir o número de degraus entre o céu e o inferno. Durante os mais de 20 anos em que atuou como presidente da Congregação pela Doutrina da Fé, o então cardeal Ratzinger aproveitou cada oportunidade para anunciar que o inferno não é somente uma metáfora, mas o endereço final de boa parte da humanidade (por exemplo, dos autores de experiências com embriões humanos). Ao coordenar a nova versão do Catecismo, ele reforçou também a idéia do paraíso e sua ante-sala, o purgatório, onde almas com pecados menores são purificadas antes de chegar à presença de Deus.

No fim de dezembro, porém, o papa convocou uma comissão de 30 teólogos que deve abolir um dos andares do edifício celeste - o limbo. Na tradição católica, é ali que ficam as almas de crianças, bebês e fetos que morrem sem o batismo. E, por extensão, os homens de bem que viveram na Antiguidade, antes da vinda de Jesus. Para o público laico, discutir se fetos abortados vão para o céu ou para o limbo parece a versão teológica de uma discussão de botequim. Mas o debate afeta as relações com outras religiões e a atuação da Igreja nos países pobres.

Por muito tempo o Vaticano pregou que os não-batizados iam para o inferno, e ponto. Era a posição de Santo Agostinho, no século IV. Mas pelo menos os bebês, concedia o santo, teriam como destino um círculo infernal com sofrimentos menores. A idéia do limbo foi sugerida na mesma época por São Gregório, o Teólogo, mas só passou a ser levada em conta no século XIII, por São Tomás de Aquino. Para ele, o limbo seria um lugar de 'felicidade natural', porém afastado da presença de Deus. A idéia nunca foi oficializada na doutrina da Igreja, mas em 1905 o papa Pio X afirmou textualmente que o limbo existia e as almas das crianças não-batizadas estavam lá. Escritores como Dante Alighieri, na Divina Comédia, já haviam sugerido que o lugar alojaria Sócrates, Platão e até muçulmanos como o filósofo Averróes e o sultão Saladino.

Para os teólogos, no entanto, o conceito sempre foi problemático. Afinal, implica que algumas almas, independentemente de cometer qualquer pecado, não terão nenhuma chance de chegar ao paraíso. Um menino índio que nasce e morre na selva, sem jamais ouvir falar de Jesus, é um cidadão de segunda classe mesmo no além, porque na melhor das hipóteses chegará ao limbo. Em 1984, ainda cardeal, Ratzinger disse que a teoria era insatisfatória e deveria ser abandonada. O novo Catecismo exclui a palavra limbo e diz apenas que crianças não-batizadas são 'confiadas à misericórdia de Deus'. A comissão do Vaticano deve levar meses para concluir seus trabalhos, e ao que tudo indica dirá que o destino das pequenas almas é o paraíso.

O ar folclórico da discussão esconde o efeito da teologia na prática. A Igreja, que hoje cresce principalmente na África e nas regiões pobres da Ásia, onde a mortalidade infantil é altíssima, poderá dizer aos fiéis que seus filhos que morreram sem batismo estão no céu - o que sem dúvida é melhor que as alternativas anteriores. A novidade também favorece o ecumenismo porque, sem o limbo, católicos e membros de outras religiões concorrem em pé de igualdade por vagas nos mesmos lugares - céu, inferno e purgatório (no Concílio Vaticano II, a Igreja admitiu que a salvação também pode ser alcançada pelos não-católicos). A única voz a defender o limbo, até agora, é o intelectual americano Harold Bloom. Em artigo no The New York Times, disse que havia marcado um encontro lá com um amigo, o falecido escritor Anthony Burgess - que prometera aguardar com uma garrafa de brandy Fundador.

os pagãos chegam ao paraíso, por ernesto bernardes, para a época dia destes.

como vêem só gente boa no limbo, incluindo o saladino?( assista o history channel e o harold bloom de quem, no mínimo, deve ler o" como e porque ler", da objetiva, 2.000, sem esquecer que lá é local de crianças ainda não socializadas- isto não seria o céu ?.
lamentavelmente não teria esta sorte mesmo. batismo atrasado, aos oito anos, padreco vingativo, quase me afoga na pia batismal sem falar do abanão que me custou um galo enorme que de vez quando coça até hoje.
meu limbo, é outro, sem fundador mas a garrafa de brandy ainda se pode providenciar na passagem para o limbo dos quintos.

drenagem linfática

por falar em limbo, pensando mal, estou no limbo, ou quase do(s) mercado(s).
algo assim fifty to fifty. metade das agencias não mer quer. a outra metade não quero eu. das duas metades não sei qual podre.

agência, busco uma, a cem por cento disposta a fazer comigo o que gosto de fazer com a propaganda, não é fudê-la, nem ensebá-la, posso lhes garantir, mas usa-lá, sempre! como instrumento pra ganhar dinheiro e ter prazer, fazendo a agência e clientes idem.
quanto ao consumidor, prazer e mais prazer. se possível de maneira que ele pague pelo produto com vontade de dar gorjeta.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

visto de entrada

a vida é muito curta para vivê-la ao lado de um filho da puta.
william bernabach

quarta ah portuguesa: diretor criativo. mas afinal, de que tipo é o teu ?

“a regra é: geléia ontem, geléia amanhã, mas nunca geléia hoje.”

em directors, em cartaz no TNT, insights bastante afins com nossa atividade, um dos diretores abordados, ridley scott, não por acaso ex-diretor de filmes publicitários, relembrava que certa vez um jornalista peguntou-lhe: mas afinal o que faz um diretor? ridley, very british, rebateu: “ se não sabe, não devia ter vindo entrevistar-me”, concluindo para os telespectadores: “um diretor é aquele que está presente em tudo, que põe a mão em tudo, que decide tudo”.

de imediato a afirmação nos faz pensar que desgraçadamente não existem diretores de criação em “nosso” mercado – aplique ao seu caso - ainda que eufemisticamente atenha-me tão-somente ao conceito.

reafirmo que entre nós acontece justamente o contrário: todos metem a mão no que faz ou pensa, quando pensa. chegando-se ao ponto de haver-se criado, em recife, a figura exdrúxula de consultores de criação, para passá-lo a limpo? sobrepondo nomeclatura assaz inventiva mas espúria a mercados e profissionais que se prezam. o que é infeliz revelador das pulgas que atormentam certos rabos presos a manutenção de empregos sem o mínimo de dignidade que se pranteia a um diretor. isto, sem falar dos que, podendo tudo, também podem atribuir-se à função, sem jamais sê-lo em essência. e tudo isto, nunca por formação. só por deformação. coisas do manda quem é dono e obedece quem não tem juízo ou mínimo senso profissional. prática devidamente institucionalidada por estruturas que auto-determinam-se, principalmente, agências de atendimento(ainda? e ou pseudo-criativas.

nestes tempos de criatividade esgarçada ou esganiçada, é sempre bom lembrar que a boa publicidade de autor, a que deu maior idade a propaganda brasileira – e mundial - sempre teve um diretor de criação por trás ou a frente do que fez a diferença. agências e impérios foram criadas em torno de nomes que fizeram da criação bandeira e lança. ogilvy, o velho cozinheiro, sabia muito bem o que era um diretor de criação. por isso mesmo tornou-se dono de castelos. david, profético, já dizia que as agências insistiam na loucura do tudo fazer em equipe esquecendo que chega uma hora que alguém tem que decidir. e este alguém é, ou deveria, ser o diretor de criação. até mesmo nas versões caricatas.

quanto a mim, creio que um diretor de criação, para que mereça tal denominação, deveria estar apto e disposto a cumprir uma gama de funções que miscigenam-se diariamente. não é o que acontece, como todos sabemos na maioria dos casos. explica em boa parte o natimortismo de tantos produtos finais veiculados e a debilidade porque passa o nosso negócio. principalmente o recrudescimento da atividade ao nível estarrecedor que acontece em certos mercados, inclusive no eixo rio-sâo paulo-porto alegre. apesar da falsa impressão causada por certos prêmios conquistados. ainda mais agora, mais do que nunca, pela função precípua ganha pelos prêmios, a de gerar cortinas de fumaça.

assim, assim-assim ou assim-assado, entre fogos fátuos e fogueiras, um diretor de criação, em primeira instância, deveria ser um gestor de emoções. cabe-lhe a responsabilidade de criar um clima criativamente e socialmente bem disposto, favorável à produção de idéias criativas que são o instrumento determinante na resolução dos problemas de comunicação de marketing. é, ou deveria ser, o gestor - ou desgraçadamente co-gestor -do planejamento estratégico de comunicação, que difere, tantas vezes, substancialmente, do planejamento estratégico de marketing. muito embora algumas vezes lhe caiba este quinhão, dada a imberbilidade ou inépcia de alguns ditos planejadores de marketing, no âmbito da agência e do cliente. o planejamento estratégico de comunicação, entre outras aplicações, dá o norte, algumas vezes o mote, e faz-se “magirus" nos degraus da operacionalização publicitária prosódica: rege ou incentiva a transformação dos conceitos objetivados em linguagem. aquilo que queremos comunicar ou que queremos que o consumidor pense, sinta ou diga, de modo genérico e ainda assim diferencial sobre a marca-produto. a operacionalização publicitária busca ou deveria buscar, a sintaxe publicitária que preferencialmente expresse códigos de comunicação menos sisudos, mormente mais coloquiais. e, acima de tudo, impactantes, aderentes, pertinentes, diferenciados, ousados e rememoráveis, recheiados e imiscuidos das necessidades mercadológicas objetivas e subjetivas, sublinhadas no planejamento de marketing, estratégico ou não. como a maioria dos planejamentos – e planejadores - estratégicos é fake- o têrmo é a nova gravata do atendimento - dá para se ter uma idéia de como nascem os franksteins tamanha quantidade de mãos a cuspir na massa. o que nos retorna à velha piada que o dromedário é o resultado das intervenções, do cliente e atendimento, no cavalo da criação . e pode arrematar com rita lee com refrão do coro come mas no fim tudo vira bosta se não houver direção de criação. o que fatalmente acontece se não houver uma mão firme - e condições para que o diretor de criação exerca sua atividade com propriedade, para além do fachadismo do título.

obrigatoriamente, deve ser o melhor atendimento das contas da agência. e não estamos falando da figura do atendimento, quer na acepção positiva da palavra, muito rala, sublinhe-se, do bom vendedor, do "aprova tudo", até o que não deve. tampouco da versão estigmatizada do carregador de leiaute ou boy de luxo. estamos falando do atendimento que faz ver ao cliente as demais verdades sobre as suas reais necessidades. como bem o diz hegarty, um diretor de criação que deixa claro quem manda no galinheiro: “publicitários são como médicos. devem dizer aos clientes o que eles precisam e não o que eles querem ouvir”. o que nos leva a inferir, tamanha a quantidade de erros médicos, que tem muito charlatanismo e subserviência fazendo caixa dois. é de se lamentar, portanto, a falta que faz a prática no pedaço de pelo menos enfermagem de primeiros socorros.

o diretor de criação também é ou deveria, o gestor-mór do papel da criatividade no âmbito interno-externo da agência. fazendo o papel de um amortecedor, a gás de preferência, administrando o desgaste do dia-à-dia junto a equipe criativa e entre os demais setores da agência. e, exteriormente, junto a clientes, fornecedores, etc, sem privar sua equipe das cotas próprias de participação e responsabilidade. pois como diria também certo diretor de criação pra lá de respeitável, equipe infantilizada e sem respeito – o que mais acontece em nosso mercado - produz tão-somente trabalho anão.

o diretor de criação é o guardião da entropia. cuida de separar o joio do trigo - o criativoso do realmente criativo -
atentando para as constantes ameças da globalização com seus modismos e tendências fadados a tornarem-se um ala no " museu das grandes novidades ". é dele a responsabilidade de evitar os altos e baixos do produto criativo, procurando manter a média, bem acima da média. por isso mesmo, é o gestor da qualidade do produto criativo final enquanto estandarte da filosofia operacional da agência - quando ela tem uma - para além de valores. e isto não deve ser confundido jamais com o papel de censor. pressupõe uma personalidade amadurecida para não se deixar engasgar por pressões diversas. Incluindo principalmente as do tipo deixe correr frouxo senão perdemos a conta. tampouco, uma das coisas que mais acontece, cair na tentação de apropriar-se ou imiscuir-se nos trabalhos da equipe, duplas, trincas, quadras o que for, anexando seu nome a fichas simplesmente por ter desempenhado o papel que lhe cabe: o de abrir picadas ou corrigir derrapagens. acenando para onde devem seguir a equipa em busca do produto final que justique a assinatura da agência.

é também o diretor de criação, em algumas estruturas, o gestor das verbas do departamento, administrando o budget e as necessidades da equipe, incluisive tecnológicas, e por isso chamado de diretor criativo executivo ou chief creative executive officer, o que é passível ainda de outros desdobramentos e nomeclaturas ** mais ou menos pomposas, importando mesmo é se ele dirije ou se é dirijido.

em todos os sentidos, o diretor de criação deve ser um líder, com folêgo de combatente incansável, porque o cargo exige isto e isto é o que lhe espera: o combate mortal ao lugar comum segundo por segundo. e mesmo sendo esta sua função principal, a de traçar metas, deve deixar a equipe trabalhar sem amarras. não pode ser jamais baby-sitter ou tacão de ditador. afinal, um líder é ou não é "uma pessoa especial, um visionário, um ambicioso, que tem de ser até um pouco louco " ? mas cuidado. estamos falando de líderes e de equipes constituídas por profissionais com batismo de fogo. e não de um bando de vagalumes, sejam estagiários ou experientes, que acham que a função da criação é tão-somente fazer aparecer a luz sobre sí, ainda não localizada no traseiro.

o diretor de criação necessáriamente também não tem de ser o mais criativo ou premiado da equipe. isto não o faz um líder. até porque pode ter um ego nocivo ou incapacidade de gerir seu próprio talento. aliás a máxima deveria ser a de que: quanto mais um diretor de criação se cerca de pessoas mais inteligentes e criativas do que ele, torna-se sempre mais inteligente e criativo do que as pessoas que contrata. o problema é que existe a paranóia do poder - e do salário - que faz com que muitos cerquem-se da mediocridade como forma de perpetuação do poder e dos “fringe benefits”.

além disto: quais seriam os critérios, além da capacidade de percepção completa da atividade publicitária de comunicação de
marketing de marcas, para aferição de um diretor criativo comprometido com a excelência da idéia? ser um business-man, of course. um profissional provido de boa dose de firme caráter, aliado a paixão pela publicidade, doseada pelo propósito de fazer bem feito para além dos prêmios, do tilintar das caixas registradoras — vegetariano, de preferência, para evitar à dieta do engole sapos. tudo isto servido com o molho de algum talento e um método de trabalho. porque sem método, instintivo ou acadêmico, devidamente explicitado para além da burocracia das regras, não se tem critérios mensuráveis para nortear o check da filosofia operacional que balisa a geração do produto criativo, passando a prevalecer o achismo. o achismo desanda a equipe para os níveis mais baixos de mediocridade. e a mediocridade realmente é contagiosa para não dizer majoritária, intra e extra muros. criar e colocar na rua propaganda conceitual, focada, criativamente liberta das tendências e adequada ao público alvo sem perda do objetivo de venda, com o o maior bom gosto possível, maximizando verba e muitas vezes sem ela, não é realmente tarefa fácil tanto quanto possível. o que constatamos na prática. tanto que raramente nos deparamos com ela. ainda mais agora que estão tentando, por dentro e por fora matar a propaganda, tentanto alijá-la do supremo prazer de comunicar emoções, dado os formatos que se expandem mas de conteúdo que se esvai, com a chegada de novas tecnologias. above,bellow,viral,digital, os escambau, se você não der um teco certo bem no meio do ouvido e no coração e no sexo(todos) do consumidor – eu disse ouvido e coração, e não na vista, para engasgo dos photoshopianos – de nada adiantará esta falsa prosopopéia das novas ferramentas que se afiguram como falsos chamarizes a verdadeira questão: a falta de publicitários de verdade no comando das ações – e bem remunerados - fazendo ver a clientes que publicidade de sucesso, é uma sucessão contínua de ações de risco que devem ser divididos meio a meio entre cliente e agência. como já disse alguém: planejar com ousadia e executar com eficácia. Isto também é, ou deveria, míster do diretor de criação. por isso muito trabalho e sorte devem acompanhar o diretor de criação, já que talento ultimamente todos acham que tem -ah! o mal que o photoshop fez a propaganda – o que só realça a importância fundamental de um diretor criativo que consiga ser maior que seu cartão. seja qual for o tamanho da agência: pequena, média, grande, multi ou hot-shop.

num momento em que a grande maioria das agências, ao que parece propositadamente, esqueceu que o negócio de uma agência é prioritariamente vender idéias – e cobrar por isto, o que agora também parece ser tarde - não deve nunca um diretor de criação gabar-se de ascender ao telhado de zinco quente por intermediar conchavos ou soluções de consenso. retomando ridlley, quem é diretor dirige, não é dirigido. o que de novo nos coloca ante a pergunta: temos diretor de criação em nossos mercados? mercado onde qualquer estagiária, dentro e fora da agência, apoiada inclusive tantas vezes por donos da agência, questiona, com poder de veto o produto criativo abalisado pelos seus diretores ?

indo mais além, se elas tem razão, que diabo então reza a fama dos nabos sentados na cadeira do diretor ? alguma coisa não está batendo. você sabe o que é ?

portanto,se você é, ou quer ser diretor de criação, é salutar, mais do que qualquer outra coisa, esquecer as famosas hesitações do tipo: que será que eles vão pensar ou como devo jogar? você não faz publicidade para publicitários. nem para donos de agência. nem para o atendimento. nem pra você mesmo. e muito menos, para o cliente. você a faz para o cliente do cliente, que espera de você – na verdade ele não espera nada, por isso mesmo mais fácil ou difícil ? - um mínimo de verdade, entretenimento com diferenciação e, se for possível, agradáveis surpresas. não o decepcione com o lugar comum. não o subestime(faça este favor a você mesmo). isto não é função de um diretor de criação, com certeza. que deve ter a noção de que o consumidor é sempre mais inteligente do que a dupla ou trinca que criou a mensagem. aliás, júlio ribeiro,redator,diretor de criação, planejador foi definitivo: “nunca explique um anúncio. o consumidor não precisa e seus inimigos não vão acreditar”.

finalmente, tenha em mente, também, que um bom diretor de criação, para alguns tão-somente um mal necessário, deve ser
minimamente um encantador de platéias seja em qual for o circuito — o que é bem diferente de ser rei do chaveco ou mano do gogó ou tati-bate da diretoria. você pode e deve, fazê-los acreditar no poder das idéias. sempre. ainda mais se tiverem realmente alguma direção. quem não se auto-convence não vence a batalha das mentes onde o preconceito torna-se o lugar comum que habita a própria agência. o exercício do convencimento é constante. e tanto melhor se contiver pressupostos honestos, sem shows-off. pois nada impede que você seja honesto e criativo e alcançe resultados. como nos disse o filósofo, trocentos anos AC: “ as coisas não se tornam dificéis porque ousamos. As coisas tornam-se difíceis porque não ousamos”.

e então? diretor de criação: é você o cara ou qual é a cara do teu ?


**existem ainda nomeclaturas do tipo creative chief wideworld (diretor criativo mundial ou da rede); geográficas: diretor europeu, asiático, para as américas, península ibérica etc, de criação e até diretor criativo adjunto ou ajudante de obras do tipo supervisor criativo com ou sem cargo de presidência, vice- presidência, etc.
se você fizer um bom trabalho como diretor de criação vai ter tanta importância e grana quanto o presidente na maioria dos quadros. algumas vezes até mais. ainda é assim. pelo menos com diretores que dirigem pra valer. e não simples, se muito, co-pilotos. contudo algumas nomeclaturas são despromoção mesmo, ao contrário do que parecem. criadas para burocratizar espíritos considerados por demais irriquietos ou paradoxalmente que já não tem pedalada para subir ladeira carregando pedra atrás da idéia. dislexias outras de organogramas, em estruturas que tem centenas de escritórios e atendem contas da procter, por exemplo, que adoram isto.
mas não se deixe enganar: na hora do vamos ver, o creative chief wideworld lá da madison ou de sidney, não tá nem aí pro que você está fazendo enquanto diretor de criação. se você fizer merda, leia-se não aumentar a cotação das ações, nem memo dele recebe. é demitido localmente mesmo.
salvo nos task force, raros, ou na hora que você tem ouro pra receber em cannes. aí sim, eles aparecem. papagaios de pirata, relembrando os insights que nunca deram naqueles encontros anuais auxílio luxuoso do dinheiro, aos diretores criativos.
portanto, não se esqueça que antes de eles serem seus diretores e você diretor dos outros, é você diretor de sí mesmo. seja implacável então na gestão das idéias e sua produção. o mais autêntico e ousado que puder. consciente ou maluco o suficente para saber que o lhe espera não é nada agradável de modo a não afrouxar a postura até porque" cada vez que eu como diretor dou uma idéia para a criação crio no minimo dois ingratos e dezenas de inimigos”.

apesar disso ou de tudo, sinceramente torço para que o faça. qualquer mercado todo só teria a ganhar. até mesmo os feitos por gente que discorda, muxoxa, ou enraivecem-se só de pensar.

In tempo: não vá cometer a bobeira de pensar de que uma vez lá, você é diretor de criação para sempre. você, apenas está diretor de criação. o que você deve ser para sempre é publicitário. criativo de preferência, seja qual for o seu cargo, função ou atividade.